A pergunta que ecoa nos corações dos mato-grossenses, "Estamos realmente indo bem?", revela um sentimento crescente de desalento. O otimismo cede lugar a uma realidade brutal, onde violência, corrupção e desigualdade se entrelaçam, obscurecendo o potencial de um estado rico em recursos. A normalização do discurso de ódio e a conduta corrupta e desonesta de lideranças influentes moldaram um cenário alarmante, onde comportamentos abusivos se tornaram modelos a serem seguidos. Quando figuras de autoridade, "os pais da sociedade", adotam retóricas hostis e justificam a impunidade, minam os pilares da convivência e alienam uma população que se sente impotente diante da cultura do "vale tudo".
A brutalidade da realidade em Mato Grosso se manifesta nas manchetes diárias: assassinatos chocantes, como o de uma adolescente grávida; atos de terrorismo político, com bloqueios de rodovias e incêndios criminosos; chacinas em bares; agentes do Estado envolvidos em tráfico internacional de drogas e policiais implicados em crimes. "Em alguns dias, chegam a ocorrer até quatro suicídios em Cuiabá; é chocante", observou Olicélia Poncioni, médica psiquiatra e pesquisadora na capital. Essa onda de tragédias é reflexo de uma sociedade em crise, onde a corrupção institucionalizada permeia as esferas mais altas dos poderes.
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A desigualdade social em Mato Grosso se agrava, revelando um paradoxo cruel: enquanto o estado é promovido como "o celeiro do mundo", os preços das cestas básicas alcançam patamares recordes, tornando a alimentação inacessível para a população mais vulnerável. Imagine uma família que, diante dessa realidade, não consegue garantir três refeições ao dia.
A população do Brasil, especialmente a de Mato Grosso, tem sustentado um agronegócio próspero, mas a que preço? O ônus recai sobre os cidadãos que, por meio do Estado, doam ou subsidiam terras, financiam crédito agrícola e arcam com isenção de impostos e logística, enquanto enfrentam os impactos ambientais dessa produção que bate recordes anualmente. Além disso, são os proprietários da água e do subsolo em um estado que é, por exemplo, o maior produtor de soja, milho e carne.
Então, qual é o bônus para a sociedade mato-grossense e brasileira? Pagar pelo processo de produção em dólar enquanto sente na pele os efeitos da desigualdade? Precisamos refletir sobre isso e exigir um retorno justo por todos os custos que a sociedade suporta para sustentar esse agronegócio que enriquece poucos. É inaceitável que, enquanto os números do agronegócio prosperam, pessoas em Cuiabá ficam na fila por ossos e não consigam nem mesmo comprar ovos.
Em Mato Grosso, o cenário de desigualdade se intensifica dramaticamente com a propagação de ideologias extremistas e discursos de ódio. Este estado, rico em recursos naturais e com elevado potencial agropecuário, ainda apresenta vastos vazios demográficos. Historicamente, sempre foi acolhedor, recebendo migrantes de diversas partes do Brasil e do mundo, e deveria ser um exemplo de civilidade, ética e oportunidades para todos. No entanto, a realidade atual é marcada por uma crescente violência, corrupção e uma alarmante erosão da confiança nas instituições.
Casos de agressões motivadas por intolerância e a impunidade em crimes criam um clima de medo e desesperança. É imperativo que esta situação mude, por meio da introspecção coletiva e do fortalecimento da cidadania, para que Mato Grosso possa novamente florescer como um verdadeiro modelo de prosperidade e união.
Estudos em psicologia social mostram que o discurso de ódio alimenta a desumanização do "outro", intensificando a violência, seja por meio de crimes diretos ou pelo aumento alarmante dos índices de suicídio. Essa retórica, adotada por líderes que deveriam inspirar confiança e demonstrar respeito pela lei e pelas instituições, cria um ciclo vicioso de intolerância, violência e impunidade. A necessidade de mudança é urgente; a busca por soluções deve ser coletiva, visando um futuro mais justo para todos os mato-grossenses.
A impunidade, que antes causava escândalo, é hoje defendida abertamente por autoridades em canais oficiais, quase como se corrupção, golpismo e atos ilegais fossem meros "erros aceitáveis". Essa situação gera a inquietante impressão de que se intenta transformar Mato Grosso em um verdadeiro "faroeste", onde reinam a lei do mais forte e a ausência de justiça.
Para reverter esse quadro alarmante, é urgente despertar a consciência crítica da população. É preciso romper o véu da desinformação, combater as fake news e exigir transparência dos poderes públicos. A sociedade civil deve mobilizar-se, organizando protestos, promovendo fóruns de discussão e utilizando as redes sociais para amplificar vozes que clamam por justiça verdadeira. Fortalecer instituições que promovam a inclusão social, a verdade e a ética é vital, pois somente assim podemos vislumbrar um futuro onde a justiça prevaleça e a ética volte a guiar a política e as instituições em Mato Grosso.
Em suma, Mato Grosso está falhando em aspectos fundamentais relacionados aos valores essenciais e ao cumprimento das normas de convivência e civilidade. O estado, que deveria ser um farol de desenvolvimento e integridade, tornou-se um espelho quebrado, refletindo não apenas o brilho do agronegócio, mas também as profundas rachaduras de violência, corrupção e desigualdade. Em meio a isso, uma parcela da sociedade, cega pela ambição, recorre ao "vale tudo" para satisfazer seus interesses egoístas.
É alarmante perceber que, nessa busca desenfreada por lucros e poder, valores como a ética e a solidariedade estão sendo sistematicamente desconsiderados. As instituições, que deveriam servir de pilares para a promoção da justiça e do bem-estar da população, frequentemente falham em seus deveres, contribuindo para uma sensação de impunidade e desamparo.
Romper esse ciclo vicioso exige mais do que simples denúncias; é imprescindível uma mobilização social vibrante que questione as narrativas oficiais, recuse a anestesia das fake news e exija instituições verdadeiramente íntegras. Propostas concretas, como a implementação de programas de educação cidadã e a promoção de diálogos sociais, podem ajudar a restaurar a confiança entre a sociedade e suas instituições.
Além disso, a participação ativa da sociedade civil é fundamental. Cidadãos informados e engajados podem ser agentes de mudança, utilizando as redes sociais e outras plataformas para exigir transparência e responsabilidade dos governantes. A luta por um Mato Grosso melhor passa pela busca por informações verdadeiras e pela defesa de um ambiente democrático que valorize a diversidade de vozes.
Somente assim poderemos transformar o estado de um mero projeto de poder em um verdadeiro projeto de nação, onde a verdade, a justiça e o bem comum voltem a ser restaurados. Ao adotarmos uma visão coletiva e comprometida, teremos a chance de permitir que o futuro de Mato Grosso brilhe com esperança e dignidade, em um caminho que reflita não apenas o potencial do agronegócio, mas também a força e a resiliência de seu povo.
ANGELO SILVA DE OLIVEIRA é controlador interno da Prefeitura de Rondonópolis/MT (Licenciado), presidente de honra da Associação dos Auditores e Controladores Internos dos Municípios de Mato Grosso (AUDICOM-MT), mestre em Administração Pública (UFMS), especialista em Gestão Pública Municipal (UNEMAT) e em Organização Socioeconômica (UFMT), graduado em Administração (UFMT) e auditor interno NBR ISO 9001:2015 – Sistema de Gestão da Qualidade (GITE).