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Opinião Quarta-feira, 04 de Dezembro de 2024, 06:40 - A | A

Quarta-feira, 04 de Dezembro de 2024, 06h:40 - A | A

JOSÉ LUIZ RAYMON

Por que confiar na Psicologia clínica?

José Luiz Raymon*

Uma das melhores decisões e maiores conquistas da minha vida profissional até aqui foi conhecer e me tornar filiado à Associação Brasileira de Psicologia baseada em evidência (ABPBE). O motivo é bem simples: preciso confiar cada vez mais na Psicologia clínica, preciso tornar a Psicologia clínica confiável para os leigos e também preciso passar segurança técnica para os meus pacientes que constantemente investem em minha prática profissional. E algumas reflexões sobre tudo isso me levaram a escrever esse texto e torná-lo público.

São muitas dúvidas sobre a Psicologia clínica: O Psicólogo deve só ouvir o paciente ou deve intervir com sugestões? O paciente pode discordar do Psicólogo?  O paciente precisa de diagnóstico psicopatológico ou não? Como o Psicólogo vai saber qual técnica é mais confiável para um problema de comportamento específico? 

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Antes de trazer luz a qualquer tópico anterior é preciso considerar que a Psicologia clínica não possui um único paradigma teórico e técnico. Algumas abordagens são científicas e confiáveis, outras ainda carecem de estudos e há ainda aquelas que sequer estão preocupadas em serem científicas. Além disso, para certos transtornos mentais apenas certo  referencial teórico específico é validado e possui técnicas com evidências suficientes para garantir que o Psicólogo realmente alcançará a diminuição de sintomas ou até mesmo a superação de patologias (quando transitórias). Como exemplo, o treino comportamental possui ampla evidência para os quadros de autismo em todas as idades, assim como a desfusão cognitiva para a maioria dos quadros ansiosos. Já as intervenções ACT não fazem impacto suficiente para personalidade paranóide nem a reestruturação cognitiva para os esquizofrênicos. O resumo é: a Psicologia clínica é sim muito confiável, mas é preciso que a prática e técnica de tal profissional tenha fundamentação teórica confiável para cada demanda. E é exatamente esse o “x” da questão. 

Saber que em minha profissão nem tudo é confiável para todas as demandas é uma dor que carrego como profissional. Estou convencido de que a melhor solução para essa dor é tornar científica toda a Psicologia clínica, de modo  a existir somente prática baseada em evidências e ao mesmo tempo elucidar os leigos sobre as especialidades teóricas. Enquanto não conquistarmos isso, oriento aos pacientes em psicoterapia explorarem ao máximo as entrevistas clínicas no contato inicial com seu profissional. Uma conversa franca em que o paciente pergunta e o profissional explica faz toda a diferença. Está aí uma dúvida sanada: a conversa no consultório tem que ser dinâmica, com o Psicólogo  comunicativo e o paciente cooperativo, fazendo suas ponderações e tirando dúvidas. O silêncio e a passividade do profissional não o torna confiável pois as  práticas com maiores evidências científicas impõem a participação ativa com diálogo, feedback constante e orientações comportamentais diretas.  

Trata-se de um processo contínuo de melhora. A Psicologia clínica é uma área de intervenção na saúde humana e precisa ser levada muito a sério por parte dos Psicólogos clínicos prestadores desse serviço. A população que busca o profissional clínico também precisa ser minimamente informada desses fatos metodológicos e teóricos que podem influenciar diretamente a saúde mental de alguém, às vezes não progredindo o tratamento ou infelizmente até retroceder diante de um Psicólogo com fundamentos ainda não aceitos pelas pesquisas da área. 

 

*José Luiz Raymon é psicólogo clínico formado pela UFR, especialista na Terapia-Cognitivo Comportamental (TCC) e Análise Comportamental (AC). Filiado à Associação Brasileira de Psicologia Baseada em Evidências (ABPBE).

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