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Política Terça-feira, 08 de Março de 2022, 08:10 - A | A

Terça-feira, 08 de Março de 2022, 08h:10 - A | A

DIA INTERNACIONAL DA MULHER

"Soa como atrevimento querer poder", diz vereadora

Brenda Closs

Estagiária | Estadão Mato Grosso

Cerca de 54% da população brasileira é negra, segundo os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). No entanto, essa parcela da população ainda enfrenta dificuldades na hora de entrar em espaços de poder, como a política. Quando se é mulher, essa dificuldade é ainda maior, como conta a vereadora Edna Sampaio (PT), única mulher negra que ocupa uma cadeira na Casa das Leis em Cuiabá.

Edna acredita que as mulheres não são incentivadas para participarem da política uma vez que, pelo machismo enraizado na sociedade, elas são criadas para o espaço visto como privado, ou seja, o doméstico, de cuidar da casa e dos filhos.

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"A política se faz no âmbito público e as mulheres são interditadas desde muito novas para não atuar nesse espaço. Desde pequenininha a gente aprende a brincar de boneca, [ganha] o kit da cozinha... você é treinada o tempo todo a se tornar uma mulher que se submete ao poder dos homens. Quando a gente fala que precisa de poder, soa como um atrevimento", explicou.

Além disso Edna, que disputará uma vaga na Assembleia Legislativa nas eleições desse ano, disse ser necessário olhar para a desigualdade no acesso a esses espaços de poder, que as mulheres devem olhar para as outras como possibilidade real de voto e se sentirem representadas por elas. Para ela, enquanto isso não ocorrer, será como "enxugar gelo".

"Enquanto as mulheres não olharem para as outras como possibilidades reais de poder, nós ficaremos fora dele. Nós somos a maiorias [da população] e mesmo assim continuamos votando e elegendo homens. Nós somos excluídas da política, essa que é verdade. Na Câmara nós temos 25 cadeiras e na legislatura passada nenhuma foi ocupada por mulheres. Isso é um absurdo! Que democracia é essa que exclui mais da metade da população?", indagou.

Questionada sobre a Emenda Constitucional 111/2021, que traz a possibilidade do computo em dobro dos votos as candidatas mulheres e também aos candidatos negros, Edna acredita que isso deve ser visto como vantagem para os partidos políticos, mas ainda não é a solução para o problema.

“Essa medida é importantíssima, pois traz uma possibilidade de os partidos olharem para isso como uma vantagem para eles e colocarem mais candidaturas negras e de mulheres. Ao mesmo tempo, isso não resolve o problema estrutural da ausência de mulheres na política. O que vai realmente resolver é a gente adquirir a consciência da importância de representação dos nossos interesses daquele lugar”, avaliou.

À reportagem, a parlamentar também destacou a importância do feminismo negro. Se por um lado o feminismo liberal buscava o direito de trabalhar e votar, as mulheres pretas buscavam o direito de simplesmente existir. No entanto, por mais que sejam pautas que se distinguem, no geral, as mulheres são todas vítimas de uma sociedade machista.

“Enquanto as mulheres brancas lutavam pelo direito de entrar no mercado de trabalho, as negras nunca tiveram a oportunidade de não trabalhar. As mulheres negras já estavam a muito tempo lutando pela dignidade, por um salário para sustentar sua família sem poder abandonar o trabalho. O trabalho faz parte de todas as gerações de mulheres negras”, destacou.

“Então, tudo isso faz com que a vivência, a história de vida das mulheres negras seja diferente e por isso o movimento e as pautas são distintos”, finalizou.

*Estagiária sob supervisão do editor Tarley Carvalho
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