O mês de março chegou ao fim. Com ele, encerram-se as campanhas visíveis, os painéis cor-de-rosa, os eventos institucionais e os discursos de tribuna em homenagem às mulheres. Mas a realidade, essa não muda com o calendário. Em Mato Grosso, os registros de violência contra a mulher continuam — e, em muitos casos, aumentam. O que deveria ser um tema permanente no debate público, infelizmente, ainda se concentra em datas simbólicas.
Março é importante. É preciso lembrar, sim, do Dia Internacional da Mulher, que carrega em sua origem a luta por igualdade, segurança e respeito. Mas é justamente por ser uma luta que não se resolve em um mês que precisamos reforçar: o enfrentamento à violência contra a mulher deve ser constante, firme e diário.
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Em todo o estado, os boletins de ocorrência relatam casos de agressões físicas, ameaças, perseguições, estupros e feminicídios. São crimes que não cessam. Em muitas cidades do interior, a rede de proteção ainda é frágil. Faltam delegacias especializadas, casas de apoio, equipes treinadas. Faltam, sobretudo, políticas públicas que tirem as mulheres do ciclo de violência antes que ele termine em tragédia.
O silêncio que vem depois de março é um dos maiores perigos. Ele dá espaço à naturalização, à ideia de que “sempre foi assim” ou de que é um problema que diz respeito apenas à vítima. É preciso lembrar: a violência contra a mulher é um problema da sociedade, é um problema nosso.
E não se trata apenas de violência doméstica. Ela também está nos ambientes de trabalho, nos espaços públicos, nas redes sociais. Está nos comentários que desqualificam, nas abordagens invasivas, na ausência de oportunidades. Em todas essas situações, há algo que precisa ser combatido: o machismo estrutural, que ainda molda atitudes, leis e instituições.
Os homens precisam se responsabilizar. As autoridades precisam se comprometer. A imprensa precisa continuar cobrando. A escola precisa formar cidadãos conscientes. O Judiciário precisa julgar com sensibilidade e rigor. É uma tarefa coletiva, e não apenas de quem sofre.
Mato Grosso não pode seguir naturalizando as manchetes que noticiam mais um feminicídio, mais uma mulher espancada, mais uma família destruída. É necessário um esforço conjunto para transformar os dados frios das estatísticas em ações reais de prevenção, proteção e acolhimento.
Depois de março, é quando a luta mais importa. Quando a visibilidade baixa, quando os holofotes se apagam, quando a rotina volta ao normal — é aí que precisamos continuar atentos. Que o mês da mulher seja uma lembrança de que a dignidade, o respeito e o direito à vida não têm prazo de validade. A luta pela vida das mulheres é urgente. Todos os dias.