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Opinião Sexta-feira, 21 de Março de 2025, 06:40 - A | A

Sexta-feira, 21 de Março de 2025, 06h:40 - A | A

SANDRO BRANDÃO

Como a Inteligência Artificial pode posicionar MT na Geopolítica Global

Sandro Brandão*

 

A geopolítica do século XXI não será mais definida pelo controle de territórios ou pelo acúmulo de armas nucleares, mas pelo domínio da inteligência artificial (IA). A disputa global pela supremacia em IA reflete uma nova ordem mundial. Serão os algoritmos, a capacidade de processamento e a soberania sobre dados que determinarão quem lidera e quem segue. E os países que dominam essa tecnologia não apenas moldam suas próprias economias, mas definem as regras do jogo global. Os Estados Unidos e a China travam uma guerra que já não é mais silenciosa, onde não se disputam apenas mercados, mas a própria arquitetura do futuro. No entanto, o impacto dessa disputa não se restringe a essas nações. Regiões que souberem integrar a IA às suas potencialidades econômicas sairão à frente. Mato Grosso, ao entender essa dinâmica, pode transformar sua posição geográfica, suas riquezas naturais e seu setor produtivo em uma vantagem geopolítica inédita no Brasil.

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E se Mato Grosso conseguisse integrar a IA ao seu DNA econômico e social, tornando-se um polo de inovação e desenvolvimento tecnológico? Nosso estado sempre foi percebido sob a ótica da geopolítica tradicional: uma potência agropecuária, mas com uma logística complexa, longe dos portos, cercado por desafios de infraestrutura e segurança na fronteira. Mas e se invertermos essa lógica? E se, em vez de enxergarmos esses fatores como obstáculos, os transformarmos em vantagens estratégicas? A inteligência artificial pode ser o motor que nos permitirá romper os limites geográficos e redefinir o papel de Mato Grosso no cenário nacional e global. 

Comecemos pela logística. Hoje, nossa dependência dos portos distantes encarece nossos produtos e nos coloca em posição de vulnerabilidade frente às oscilações do mercado global. No entanto, a IA aplicada à logística pode transformar essa fragilidade em um diferencial. Sistemas inteligentes podem prever demandas, otimizar rotas de transporte e até sugerir novos modelos de escoamento que reduzam nossa dependência dos grandes portos. Com o avanço das cadeias produtivas autônomas e dos diferentes modais, Mato Grosso pode se tornar o centro de um novo sistema logístico nacional, conectando digitalmente produtores, consumidores e mercados sem precisar de um litoral. Se os Estados Unidos dominaram a logística mundial com a Amazon, por que não podemos liderar a revolução logística do agronegócio no Brasil?

Agora, olhemos para nossa fronteira. Historicamente tratada como um problema de segurança, pode se tornar um polo estratégico para a inovação. Com IA, podemos transformar o monitoramento fronteiriço, utilizando análise de dados em tempo real para prever movimentações ilegais e integrar ações preventivas de segurança. Porém, mais do que isso: por que não criar uma zona de inovação na fronteira, atraindo investimentos em tecnologia e inteligência artificial aplicada à bioeconomia, mineração sustentável e comércio digital? Se bem estruturado, Mato Grosso pode se tornar a principal ponte de integração tecnológica entre Brasil e América Latina, exportando inovação em vez de apenas commodities.

Nosso agronegócio, já altamente mecanizado, pode dar um salto quântico com a inteligência artificial. Hoje, falamos em agricultura de precisão, mas o verdadeiro diferencial será a agricultura autônoma e hiperconectada. Um sistema onde sensores inteligentes mapeiem o solo em tempo real, onde a decisão de plantio e colheita seja feita por algoritmos, onde drones e máquinas operem de forma sincronizada. Mato Grosso pode se tornar a primeira região do mundo a implantar um modelo de agrointeligência artificial completa, com impactos diretos na eficiência produtiva, na preservação ambiental e na redução de desperdícios. 

E se falamos de recursos naturais, nosso estado tem algo que o mundo inteiro cobiça: água. Enquanto nações inteiras sofrem com crises hídricas e escassez, Mato Grosso tem uma das maiores reservas de água doce do planeta. No entanto, não podemos tratar esse ativo com a lógica do século XX. A inteligência artificial pode transformar a gestão hídrica do estado, criando sistemas que monitoram a disponibilidade, previnem crises e garantem um uso sustentável e inteligente dos recursos. Em um cenário global de mudanças climáticas, se conseguirmos usar IA para gerir água, teremos um diferencial geopolítico incomparável. 

A nova reforma tributária traz incertezas para Mato Grosso, pois pode reduzir sua arrecadação ao redistribuir aos estados consumidores tributos que hoje são arrecadados pelos estados produtores como Mato Grosso. A IA pode mitigar esses impactos ao criar modelos preditivos de arrecadação, reduzindo perdas, combatendo sonegação e tornando a gestão fiscal mais eficiente. Além disso, com sistemas avançados de análise tributária, o estado pode encontrar novas fontes de receita e incentivar setores inovadores.

Mas para que tudo isso se concretize, precisamos de um ecossistema de inovação cada vez mais forte. O Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Mato Grosso – IFMT, Campus Várzea Grande, deu um passo crucial ao lançar o primeiro curso superior em IA do estado. Mas isso precisa ser parte de uma estratégia muito maior. Devemos estruturar um polo tecnológico especializado em inteligência artificial aplicada ao agronegócio, à logística e à segurança pública, entre outras potencialidades de nosso Estado, conectando academia, governo e setor produtivo em um modelo de inovação de alto impacto. Assim como a China transformou Shenzhen de uma vila de pescadores em uma megalópole da tecnologia em poucas décadas, Mato Grosso pode se tornar o epicentro brasileiro da inteligência artificial aplicada às suas vocações estratégicas, ainda mais com o Parque Tecnológico de Mato Grosso que será implantado ainda em 2025 pela Secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia e Inovação - SECITECI.

O que está em jogo aqui não é apenas a modernização de Mato Grosso, mas sua sobrevivência e liderança em um mundo onde os paradigmas econômicos estão sendo reescritos. Estados Unidos e China já perceberam que inteligência artificial não é uma ferramenta, e sim a nova infraestrutura do poder. Se não nos atentarmos, seremos apenas consumidores passivos de tecnologias importadas. Mas se agirmos agora, podemos colocar Mato Grosso na linha de frente dessa revolução, tornando-nos um dos estados mais inovadores e estratégicos do país. 

Essa não é uma visão futurista ou utópica. É uma necessidade urgente. A revolução da inteligência artificial já começou, e o que decidirmos agora poderá definir se Mato Grosso será um protagonista ou um espectador nesse novo mundo.

O estado pode transformar seus desafios em vantagens competitivas e tornar-se um case global de como uma economia baseada em recursos naturais pode ser potencializada pela inteligência artificial.

O desafio que se impõe aos gestores públicos é pensar além do imediato, enxergar além das fronteiras convencionais. A inteligência artificial não é uma tecnologia do futuro, ela já é o motor da geopolítica global e pode ser o motor do nosso desenvolvimento estadual. Mato Grosso pode sair na frente, não apenas como celeiro do mundo, mas como referência em inovação aplicada aos nossos desafios locais.

 

*Sandro Brandão é mestre em Propriedade Intelectual e Inovação, especialista em Transformação Digital e Inovação no setor público, com mais de 20 anos de experiência. Atua na liderança de projetos estratégicos em Mato Grosso, focando na modernização e digitalização dos serviços governamentais.

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