Na semana em que se comemora um dia dedicado à saudade (sinceramente não sabia que existia, mas muitos amigos postaram em redes sociais), sugiro uma pausa para refletir sobre essa palavra que carrega em si a vastidão do tempo e a profundidade do sentir. Saudade é um daqueles mistérios que desafiam a lógica e abraçam a alma, uma ponte invisível entre o que fomos e o que ainda seremos.
Não importa se aquilo que nos causa saudade é um momento vivido, uma pessoa querida que partiu, ou esteve ausente, ou até mesmo uma experiência que nunca tivemos. Ela se manifesta como uma inquietude delicada, um sopro de memória que nos transporta a lugares onde a razão, por si só, não consegue chegar. Seria a saudade a presença da ausência ou a ausência da presença? Talvez seja, simplesmente, uma forma de amor que se recusa a desaparecer.
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A saudade não se limita ao lamento ou à dor. Na verdade, se olharmos com olhos de aprendizado, veremos que ela nos convida a um reencontro com o essencial. Quem nunca sentiu saudade de um tempo em que foi verdadeiramente feliz? E ao lembrar desse tempo, não experimentou um renascer de esperança, um impulso para continuar?
Ela deve ser como um alarme que toca sem a gente ter programado. Você está lá, tranquilo, tomando um café, e de repente sente falta de um abraço que nem sabia que precisava. É como se a alma tivesse um aplicativo próprio, enviando notificações inesperadas do coração. Mas talvez seja assim porque a saudade tem seu próprio GPS, nos lembrando de que, não importa onde estejamos, sempre haverá um pedacinho de nós em algum outro lugar, esperando ser revisitado.
Os que partiram antes de nós permanecem vivos em nossas preces, em nossas lembranças e até mesmo na intuição sutil de que jamais estamos sós. A vida é um ciclo infinito, onde as separações são apenas intervalos e o amor é o elo que nunca se rompe. Quando a saudade nos visita, talvez seja também a visita silenciosa daqueles que amamos, um aceno suave do outro lado do caminho ou um pensamento distante conectado a nós.
Entretanto, a saudade não pode significar desespero, pois não se deve sofrer pelo que foi belo. Em vez de um peso que nos arrasta para o passado, ela pode ser a centelha que ilumina nosso presente. A melhor forma de honrar aqueles que amamos e os momentos que vivemos é transformar essa lembrança em força, em inspiração para seguir adiante, em motivação para construir histórias e novos momentos.
Talvez a saudade não seja apenas a dor da separação ou a lembrança de tempos felizes, mas um elo secreto que nos conecta ao que nos falta. Como se o universo estivesse nos sussurrando que algo essencial ainda está ali, mesmo que os olhos não possam ver. Talvez seja a evidência de que o tempo é menos concreto do que imaginamos, uma brecha entre dimensões onde sentimentos ultrapassam as barreiras do presente. Saudade sugere, então, ser um resquício do infinito dentro de nós, um lembrete de que nada que é verdadeiramente amado se perde ou se esquece para sempre.
Em um mundo onde tudo passa tão rápido, sentir saudade é um privilégio. É a prova de que vivemos intensamente, que amamos verdadeiramente, que nos permitimos ser parte da inefável trama da existência. A saudade nos ensina que não estamos presos ao tempo, mas somos eternamente ligados por laços invisíveis que nem mesmo a morte ou qualquer distância pode desfazer.
Que, ao celebrarmos a saudade, possamos vê-la não como um peso, mas como um presente. Afinal, a saudade é a única certeza de que algo valeu a pena. Ela não existe para nos prender ao passado, mas para nos lembrar que aquilo que foi belo, verdadeiro e intenso continua vivo dentro de nós. E que ao sentir saudade, saibamos reconhecer nela o maior dos afetos: aquele que sobrevive a tudo, que vence todas as distâncias e que, em sua essência mais pura, se chama amor.
*Sandro Brandão é mestre em Propriedade Intelectual e Inovação, especialista em Transformação Digital e Inovação no setor público, com mais de 20 anos de experiência. Atua na liderança de projetos estratégicos em Mato Grosso, focando na modernização e digitalização dos serviços governamentais.