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Opinião Sábado, 16 de Julho de 2022, 05:00 - A | A

Sábado, 16 de Julho de 2022, 05h:00 - A | A

LUCIANA GATTI

Porque a Amazônia é tão importante para o agronegócio

Luciana Gatti

Como sabiamente disse Jorge Bem “Moro num país tropical, abençoado por Deus e bonito por natureza...”. Nosso país é esta maravilha, onde a agricultura é tão farta e produtiva, e o é devido a esta Natureza tão maravilhosa, rica, exuberante e grandiosa. Neste mundo onde o clima está mudando tanto, causando tantos eventos extremos, tantos estragos de grande repercussão, nós temos a Amazônia, nossa enorme fábrica de chuva, que funciona como um grande climatizador, pois ao jogar uma quantidade enorme de vapor de água na atmosfera, quantidade comparável ao desague do Rio Amazonas ao mar, promove também o resfriamento da atmosfera. Além disso, absorve mais CO2 e assim ameniza as mudanças climáticas por aqui.

Porém, ao desmatar a Amazônia – e fizemos isto com grande intensidade nos últimos anos –achando que teremos mais áreas para a agricultura e pecuária e assim gerar mais riquezas, na verdade, estamos comprometendo a agricultura no Brasil. O que acontece é que estamos reduzindo as chuvas como um todo ao longo do ano, além de aumentar os eventos extremos, que são chuvas muito intensas, com fortes ventos, em curto período de tempo, tempestades de areia, além de outros eventos danosos. Podemos dizer que a Amazônia foi um presente Divino que o Brasil tem em sua proteção, nestes tempos tão difíceis da humanidade. Apenas através do conhecimento que a ciência gera podemos entender o papel que os ecossistemas têm no clima e as consequências de modificarmos estes ecossistemas. A Amazônia, ao ser desmatada e degradada, ao invés de ser a nossa proteção climática, passa a ser um acelerador das mudanças climáticas, reduzindo a chuva e aumentando a temperatura, além de reduzir a absorção de CO2.

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Podemos imaginar a natureza como um jogo de dominó, onde depois que o primeiro cai os demais vão caindo em sequência, onde tudo está interligado, e qualquer coisa que você altera terá consequências em cascata alterando tudo daí em diante. Precisamos da ciência para entender estes mecanismos tão complexos e interligados. E para tomar decisões que afetam a todos nós por longo tempo e por vezes de maneira irreparável. Precisamos da ciência para tomar decisões com sabedoria na execução do presente e no plantio do futuro.

Somos um país onde a agricultura é muito importante e, portanto, somos também altamente dependentes das condições climáticas que estão se modificando tanto. Modelos de produção de 40, 50 anos atrás não servem mais na atualidade. Precisamos de muita ciência para auxiliar no desenvolvimento de novas práticas no presente para construirmos um futuro próspero para o Brasil. No caminho que estamos hoje, ignorando a ciência e tratando floresta como desperdício de terra, estamos acelerando as mudanças climáticas e comprometendo completamente o futuro do Brasil. Precisamos entender que estamos vivendo em um mundo em risco com mudanças muito difíceis para a humanidade, em um mundo que está nos dizendo que precisamos mudar a maneira como vivemos. Que mudanças são estas? O que poderíamos mudar hoje que melhoraria a chance de sucesso no futuro e de nossos filhos, netos...

Precisamos da ciência caminhando junto com a sociedade para aperfeiçoarmos cada vez mais nosso modo de vida, que pelos impactos causados se mostrou danoso. As mudanças climáticas são um desafio muito grande para a humanidade e precisamos muito da ciência para nos adaptar, adequar nossas praticas e desenvolver novos modelos de produção. Somos um país tão produtivo devido a nossa natureza. A ciência é a ferramenta de geração de conhecimento necessário ao entendimento deste mundo complexo, todo interligado, e em mudança climática, onde apenas entendendo os porquês destas mudanças teremos condição de ampliar nossa chance de sobrevivência e sucesso no futuro.

Este artigo faz parte da campanha #ciêncianaseleições, que celebra o Mês da Ciência.

*Luciana Gatti é pesquisadora do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE)

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