O comboio de caminhoneiros chegou a Cuiabá no começo desta tarde de sábado, 5 de novembro. A fila de carretas desfilou há pouco pela Avenida Miguel Sutil, a perimetral da capital. Os motoristas vêm de várias cidades do estado, com o objetivo de chamar a atenção das Forças Armadas e a sensibilizar para dar um golpe de Estado contra a vitória do ex-presidente Lula (PT), eleito para seu terceiro mandato como líder da Nação no último domingo, 30 de outubro.
Esta é a segunda fase da empreitada daqueles que não aceitaram a derrota do atual presidente, Jair Bolsonaro (PL), que não conseguiu se reeleger, sendo o primeiro presidente desde Fernando Henrique Cardoso a perder uma disputa à reeleição.
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Na primeira etapa, os revoltosos fecharam rodovias estaduais e federais por todo o país. Mato Grosso, um dos maiores redutos bolsonaristas do país, chegou a ter mais de 40 bloqueios. Este primeiro engajamento pautou a semana em todo o país.
Por causa dele, hospitais alertaram para o risco de faltar oxigênio; pessoas com câncer perderam sessão de tratamento; pacientes perderam consultas; viagens de ônibus e avião foram canceladas porque seus passageiros ficaram presos nas rodovias.
Não é só isso. Reportagens também mostraram o impacto em cirurgias de transplantes de órgãos; mães tiveram problemas para passar com seus filhos doentes pelos bloqueios; ambulâncias foram impedidas em alguns lugares.
Além disso, mercados chegaram a racionar a venda de determinados produtos, como o leite, para evitar o desabastecimento. E economistas já preveem aumento de preço em produtos como consequência das paralisações.
O período também ficou marcado por comemorações com base em fake News, como a falsa prisão do ministro Alexandre de Moraes, presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE); saudação nazista; confronto com a polícia; e um estoque de memes que a oposição não esquecerá tão fácil.
Ainda são desconhecidas as consequências desta nova etapa dos atos antidemocráticos. Os radicais insistem em dizer que a eleição foi fraudada para dar vitória a Lula que, segundo eles, implantará uma ditadura comunista no Brasil.
PERMISSIVIDADE
Os atos têm ganhado força com a permissão do próprio Estado, em todas as esferas. O presidente Jair Bolsonaro, líder maior da Nação, por exemplo, demorou dois dias para se pronunciar após sua derrota e, quando o fez, se limitou a dizer que os protestos fazem parte do processo democrático e pediu que as vias fossem liberadas, já que a liberdade é o grande valor de sua gestão.
A fala foi interpretada como uma espécie de código por seus apoiadores, que passaram a disseminar que o presidente estava apoiando o movimento e que era para, na verdade, manter os bloqueios.
Bolsonaro então voltou a se pronunciar, por meio das redes sociais, e pediu novamente que os manifestantes suspendessem os bloqueios, novamente se pautando no discurso de liberdade.
Isso enfraqueceu um pouco o movimento, mas não foi o suficiente para romper de vez com ele, já que o presidente pouco tem se manifestado, mesmo tendo poder para acabar com os atos de uma vez por todas.
Já o ministro Alexandre de Moraes determinou que a Polícia Rodoviária Federal (PRF) agisse da forma como fosse necessária para desobstruir as vias. A ordem, porém, não foi cumprida em sua totalidade, causando animosidade.
Em novo mandado, o ministro também reforçou o uso das Polícias Militares Estaduais para ajudar na desobstrução das vias.
Aqui em Mato Grosso, mesmo com o movimento a todo vapor e as decisões federais, o governador Mauro Mendes (União Brasil) optou por não agir com força policial e tentar a negociação com os manifestantes. A situação só mudou na quinta-feira, 3, quando deu ultimato para que os protestantes desobstruíssem as vias.
Em Cuiabá, o prefeito Emanuel Pinheiro (MDB) chegou a dizer que iria atuar para coibir atos contra a democracia. Ele chegou a sugerir que os agentes de trânsito multassem veículos estacionados irregularmente. Contudo, após as reportagens sobre o assunto repercutirem mal, ele voltou atrás.