Cuiabá, com seus 306 anos de história, é um verdadeiro celeiro de tradições e festas populares que refletem a diversidade cultural da cidade. Localizada no coração do Centro-Oeste brasileiro, a capital mato-grossense preserva, em suas manifestações, um rico legado de influências indígenas, africanas, portuguesas e de outros povos que ajudaram a moldar sua identidade. A cidade se orgulha de suas festas típicas, como a Festa de Nossa Senhora do Rosário, conhecida também como festa de São Benedito e o Festival de Siriri, que reúnem centenas de pessoas, resgatando costumes antigos e celebrando a união entre as comunidades. Essas celebrações, cheias de cores, sons e sabores, são um reflexo da energia vibrante de Cuiabá, que, a cada ano, compartilha com os visitantes a verdadeira alma cuiabana.
A história da Festa de São Benedito é uma das mais antigas e significativas tradições de Cuiabá, refletindo a conexão da cidade com sua religiosidade e ancestralidade. A celebração é composta por diversas atividades, como missas, procissões, danças e apresentações culturais típicas, incluindo o siriri e o cururu, manifestações que têm forte influência afro-indígena. Um dos momentos mais marcantes da festa é a tradicional lavagem da escadaria e a homenagem ao padroeiro São Benedito, um rito que simboliza a devoção e o respeito às raízes culturais e espirituais da comunidade cuiabana.
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Entre as manifestações mais marcantes estão o Siriri e o Cururu, danças típicas que têm forte influência das culturas indígena e afro-brasileira.
O Siriri é uma dança folclórica de roda, geralmente acompanhada por cantos e instrumentos musicais como a viola de cocho, o ganzá e o mocho. A coreografia básica consiste em mover-se em círculo, batendo palmas, enquanto os dançarinos respondem aos tocadores, que conduzem o canto. O Siriri remete à identidade cultural popular e regional do Pantanal, revelando-se uma linguagem valiosa para exaltar com êxito a cultura pantaneira.
O Cururu, por sua vez, é um folguedo popular autêntico e um dos mais antigos de Cuiabá. Trata-se de uma dança de roda também, que provavelmente surgiu do encontro cultural entre povos indígenas e europeus. Com um caráter religioso, a dança exige que os praticantes, conhecidos como cururueiros, possuam conhecimento sobre a vida dos santos.
Geralmente, o cururu envolve pelo menos dois cantores, sempre homens, sendo um tocando a viola de cocho e o outro o ganzá, ou ambos tocando viola. Porém, o cururu não se limita apenas à cantoria. Na "porfia", que é um tipo de desafio, cada violeiro provoca o outro, como um repentista. Durante essa prática, um cantor faz perguntas a seu parceiro, desafiando seus conhecimentos sobre um tema, geralmente de natureza bíblica, por isso a importância de estudar sobre os santos.
Na dança, os participantes formam pares e executam movimentos caracterizados por passos curtos e rápidos. Eles começam a dançar com muita energia, realizando volteios e sapateados intensos, girando ao redor de si mesmos e, em seguida, retornando aos seus lugares, enquanto a música toca ao fundo. É impressionante observar como eles se sincronizam perfeitamente com os instrumentos, usando os pés para marcar o ritmo e criando um som único. Atualmente é dançada nas festas do Divino e de São Benedito.
O Festival de Cururu e Siriri de Cuiabá teve seu início no início dos anos 2000 e, ao longo dos anos, tem conquistado cada vez mais destaque, se tornando um dos maiores eventos da cultura popular de Mato Grosso. O festival reúne grupos de dança de várias regiões do estado, celebrando essas tradicionais manifestações culturais. Já foi realizado em diversos locais importantes da cidade, como o Museu do Rio, a Praça do Siriri e do Cururu e o Parque de Exposições da Acrimat, sempre com grande público e a participação ativa das comunidades locais. Com o passar do tempo, o evento se consolidou como uma grande vitrine para as tradições culturais cuiabanas e mato-grossenses.
Quem assume um dos destaques culturais, nascido às margens do rio Cuiabá, é o Grupo Flor Ribeirinha. Um importante símbolo desta tradição, pertencente à Comunidade São Gonçalo Beira Rio, localizada no distrito do Coxipó da Ponte, foi fundado por Dona Domingas em 27 de julho de 1995, e ao longo do tempo, passou por adaptações para apresentações de palco, com coreografias e figurinos planejados. O prefeito de Cuiabá Abilio Brunini sancionou lei aprovada pela Câmara Municipal que declarou o grupo como patrimônio histórico, cultural e de natureza imaterial em janeiro deste ano.
O grupo ganhou destaque internacional com espetáculos como "Eis Aqui Sempre em Flor MT", "Mato Grosso Dançando o Brasil" e "Espetáculo Nandaia", que exploram as tradições culturais e naturais de Mato Grosso e do Brasil. O Flor Ribeirinha tem se apresentado em diversos países, participando de competições internacionais e conquistando prêmios, como os títulos em 2017 na Turquia, 2021 na Polônia, 2022 na Bulgária, e o Cheonan World Dance Festival na Coreia do Sul em 2023, onde foi o primeiro grupo brasileiro a vencer o evento.
O grupo também realizou uma turnê pela Europa em 2018, levando o espetáculo "Dançando o Brasil" a mais de 500 mil espectadores em países como Itália, França, Peru e Paraguai. Assim, o Flor Ribeirinha se consolidou como um importante divulgador da cultura mato-grossense e brasileira no cenário internacional.
Cuiabá é uma cidade que ao longo de sua história, soube preservar e celebrar suas raízes culturais. As festas populares, são apenas uma das muitas expressões de um povo que valoriza sua história, suas tradições e sua convivência com as diversas influências que marcaram sua formação.
Os ritmos e as danças que tornam a cidade num lugar único, também são um convite para que todos vivenciem a verdadeira alma cuiabana. Por meio dessas tradições, Cuiabá mostra ao mundo o valor de manter vivas suas raízes, enquanto abre portas para o futuro, sem nunca perder a essência de sua cultura.