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Opinião Quinta-feira, 17 de Abril de 2025, 10:06 - A | A

Quinta-feira, 17 de Abril de 2025, 10h:06 - A | A

VALDIR BARRANCO

Quando o dinheiro público serve mais à vitrine do que ao povo

Valdir Barranco

A agricultura familiar é, sabidamente, responsável por grande parte dos alimentos que chegam às mesas dos brasileiros. Ainda assim, em Mato Grosso, as políticas públicas voltadas a esse setor essencial seguem sofrendo com o abandono orçamentário, a descontinuidade e, pior, a má gestão. Um exemplo disso está na resposta recente da EMPAER (Empresa Mato-grossense de Pesquisa, Assistência e Extensão Rural) a um requerimento parlamentar de minha autoria.

Nos municípios de Poconé, Barão de Melgaço e Nossa Senhora do Livramento, a empresa afirma ter atendido, respectivamente, 135, 103 e 177 famílias com ações como capacitações, hortas comunitárias e incentivo a quintais produtivos. Medidas importantes, mas extremamente modestas diante das necessidades locais e que ganham contornos ainda mais graves quando confrontadas com os gastos institucionais da própria EMPAER.

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Segundo a empresa, um único evento técnico de integração custou aos cofres públicos mais de meio milhão de reais. Foram R$ 210 mil em diárias, R$ 46 mil em coffee break para 400 pessoas por dois dias, R$ 237 mil com estrutura física (salas, som, iluminação e decoração), além de camisetas, chapéus, combustível e duas palestras. Ainda que se afirme que itens como jantar, banda e bebidas não foram pagos com recursos públicos, os valores informados impressionam  especialmente diante da precariedade com que os agricultores familiares são atendidos.

É aqui que se desenha o problema central: não se trata apenas do gasto, mas da sua eficácia social. O que justifica destinar centenas de milhares de reais a um evento institucional enquanto a assistência técnica real, no campo, é tímida, pontual e sem metas de impacto? Que política pública se fortalece com chapéus personalizados, mas não garante comercialização digna da produção familiar?

Esse tipo de prática  recorrente em várias esferas do poder revela uma lógica distorcida, onde o dinheiro público serve mais à vitrine das instituições do que ao povo que deveria ser o verdadeiro beneficiário. Não se trata de desvio formal, mas de um desvio ético: a malversação do erário, ou seja, o uso ineficiente e injustificável de recursos que deveriam estar a serviço da transformação social.

A extensão rural é estratégica. Mas para ser efetiva, precisa ir além da simbologia e operar com planejamento, metas, avaliação de impacto e transparência. A agricultura familiar não pode mais ser atendida por uma política de aparências — ela precisa ser sustentada por uma política de verdade.

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