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Variedades Segunda-feira, 30 de Março de 2020, 07:07 - A | A

Segunda-feira, 30 de Março de 2020, 07h:07 - A | A

SUPEROU A CRISE

Como a China garantiu abastecimento durante 2 meses de quarentena

As medidas foram adotadas depois que o número de novos do coronavírus casos desabou. 

Jamil Chade/UOL

Nos últimos dias, diversas cidades chinesas que foram colocadas em quarentena em janeiro começaram a ver suas regras de restrição de movimentos sendo relaxadas. As medidas foram adotadas depois que o número de novos do coronavírus casos desabou. 

Mas enquanto milhões de pessoas estavam fechadas em seus pequenos apartamentos, um aspecto foi considerado como estratégico pela cúpula do regime comunista: o abastecimento de alimentos e remédios.

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Sem tal garantia, a percepção da liderança era de que a quarentena não funcionaria e que a crise da pandemia poderia desestabilizar o governo. 

Foi colocado em funcionamento, portanto, um sofisticado plano para garantir que não faltasse alimentos e que, ao mesmo tempo, adotasse medidas de cautela para impedir a transmissão do vírus.

Controle do Estado
Fontes na diplomacia em Pequim revelaram à coluna que o esquema contou com um forte controle do estado, num regime que não tolera a liberdade de expressão ou críticas. Mas se o Estado chinês tem sido tradicionalmente um agente presente no mercado nos últimos anos, ele passou a ser determinante desde janeiro. 

Pequim liberou no mercado estoques estratégicos com milhares de toneladas de produtos. Mas também passou a aplicar multas pesadas contra empresários que elevaram preços. Uma rede de supermercado foi multada em mais de US$ 70 mil por elevar o preço do pepino.

A inflação ocorreu. Mas, segundo especialistas, poderia ter sido muito maior. Os problemas eram reais. Milhares de camponeses não podiam sair de suas casas para realizar a colheita e caminhoneiros estavam impedidos de transitar. 

Com uma autoridade central, Pequim ainda se dedicou a identificar quais regiões do país tinham superávit na produção e onde começava a faltar suprimentos.


Canais verdes 
Coube ao Estado desenhar novas rotas de transporte pelo país, o que ficou conhecido por "canais verdes". 

Por essas vias, funcionários eram autorizados a transitar apenas com bens estratégicos para abastecer cidades em quarentena. Além disso, empresas que realizavam o transporte garantiam que seus motoristas não vinham de zonas afetadas e que todos eram regularmente testados.

Em poucos dias, transportadoras especializadas em produtos de alta tecnologia estavam transportando frutas. 

Junto com a abertura de vias, a China estabeleceu um sistema centralizado de compras. Em Shandong, produtores foram orientados a produzir e entregar diariamente 600 toneladas de alimentos frescos por duas semanas. 

As maiores estatais de alimentos no país, como o COFCO e Sinograin, ampliaram a produção de arroz, carne e outros produtos.

Chengyi Lin, professor de estratégia do instituto francês INSEAD, acredita que o envolvimento dos grandes conglomerados chineses foi fundamental. Lin contou à coluna que, no início do século 21, viveu a experiência da Sars. Mas, hoje, a Ásia reagiu com mais calma que o resto do mundo diante da nova pandemia.


De acordo com o especialista, milhões de equipamentos de proteção foram entregues aos funcionários das fábricas que precisavam continuar operando. Muitas delas ainda operaram com dois turnos e grupos de empregados que não se cruzavam.

Essas empresas ainda aumentaram a produção de máscaras, suspenderam férias e deram aumento de salários.

A Alibaba Group, por exemplo, passou a contratar milhares de empregados que ficaram impossibilitados de trabalhar por terem ficado "presos" fora de áreas em quarentena onde suas fábricas estavam instaladas. Os novos funcionários foram todos destinados à nova logística de distribuição. 

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