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Variedades Segunda-feira, 20 de Janeiro de 2025, 16:04 - A | A

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DESAFIO DAS FÉRIAS

A importância do tédio para o desenvolvimento infantil

Visto como incômodo por muitas pessoas, esse sentimento, quando bem trabalhado, pode estimular a criatividade e a imaginação das crianças

Assessoria

 

O início do ano é o período de descanso para as crianças. Com as férias escolares, um dos desafios é lidar com o tédio, visto que, na escola, as atividades e os estímulos são frequentes. “O tédio, apesar de ser frequentemente visto de maneira negativa na sociedade contemporânea, pode ser um fator importante no desenvolvimento infantil, especialmente quando se considera o impacto que ele tem sobre a criatividade, a autonomia e as habilidades cognitivas e emocionais das crianças”, aponta o psicólogo do AmorSaúde, Vagner Vinicius Moraes de Araújo.

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Apesar de benéfico e relevante em todo o desenvolvimento, é dos seis aos 12 anos e na adolescência que o tédio é mais importante. “Nessas idades, o tédio oferece a oportunidade de a criança ou o adolescente aprender a lidar com a frustração, desenvolver autonomia e explorar seu potencial criativo e social”, esclarece o profissional.

Ainda segundo ele, esse sentimento deve ser visto de outra forma, considerando seu potencial de estímulo à criatividade, autonomia, regulação emocional e habilidades sociais e cognitivas. “É muito mais do que um simples estado de frustração para a criança”, destaca.

Asas à imaginação

De acordo com Araújo, a imaginação é uma das beneficiadas pelo tédio. “Ao se sentir entediada, a criança é forçada a buscar novas maneiras de ocupar o tempo, o que a leva a usar sua mente de formas criativas e inovadoras. Isso ocorre porque o tédio gera um estado de vazio, o qual ela precisa preencher com algo, e o modo como faz isso é, muitas vezes, resultado da ativação de processos criativos internos”, explica. 

Dessa maneira, o tédio atua como uma força motivadora, um ponto de partida que permitirá que as crianças desenvolvam meios de aproveitar suas férias, utilizando a imaginação. Nesse sentido, o caráter da autonomia também é fortemente estimulado.

“Ao se verem sem opções imediatas de entretenimento, as crianças são desafiadas a usar sua própria mente para criar e explorar. Esse processo não apenas estimula a imaginação, mas também contribui para o desenvolvimento cognitivo, emocional e social, pois as crianças aprendem a pensar de forma independente, a resolver problemas e a criar suas próprias realidades”, reitera.

Desenvolvimento sócio-emocional

Durante a infância, o tédio atua como um importante regulador emocional. “Uma das habilidades mais importantes que as crianças desenvolvem ao lidar com o tédio é a capacidade de reconhecer e gerenciar suas próprias emoções”, conta Vagner. Mas, além disso, a resiliência e a tolerância à frustração podem ser desenvolvidas a partir do sentimento. 

Ao se sentir entediada, a criança trabalha sua capacidade de contornar essa situação, com mais paciência em relação às possíveis frustrações do processo. De acordo com o profissional, ela aprende a esperar, a se adaptar e a se entreter de maneira mais independente. Assim, nesse processo, está incluso o estímulo à resolução de problemas, que pode ser potencializado com a socialização e a empatia, caso esteja em grupo com outras crianças.

“Elas tendem a buscar maneiras de interagir e brincar juntas, o que pode levar ao desenvolvimento de habilidades sociais importantes, como a cooperação, a negociação e a resolução de conflitos”, ressalta.

A atuação dos pais

É importante que nesse processo a atuação dos pais seja assertiva e estimule outras maneiras de aproveitar as férias escolares e o tédio infantil. “Os pais podem usar essa oportunidade para ajudar no desenvolvimento emocional, social e cognitivo da criança, sem recorrer automaticamente a distrações tecnológicas como tablets ou TV”, explica o Psicólogo. Esse detalhe se torna cada vez mais importante, principalmente para evitar a exposição excessiva das crianças às telas. 

O primeiro passo, conforme aponta Vagner, é a validação dos sentimentos das crianças pelos pais. Posteriormente, ele indica as seguintes ações:

Encorajar a criatividade e autossuficiência: incentivar a criança a criar suas próprias ideias;
Ensinar a lidar com a frustração e a tolerância ao tédio: ajudar a criança a perceber que o tédio não é algo negativo, incentivando o descanso ou outras atividades;
Promover o desenvolvimento da autonomia: estimular a criança a tomar decisões sobre o que fazer com seu tempo;
Estimular o planejamento e a organização: identificar se a criança está conseguindo organizar sua brincadeira e ensiná-la como realizar essa tarefa;
Encorajar a socialização e cooperação: sugerir brincadeiras em grupo, no caso de mais de uma criança em casa, como jogos de tabuleiro ou atividades ao ar livre.

A importância das brincadeiras

O profissional realça o quanto o brincar é bem-vindo nesse processo. De acordo com ele, ao tentar contornar o tédio, a livre exploração do ambiente permite que a criança crie estratégias e brincadeiras para passar o tempo. 

“Durante momentos de tédio, as crianças podem se engajar em brincadeiras sem uma estrutura definida, o que significa que elas podem experimentar e explorar de maneiras não convencionais. Enfatizo a importância do brincar espontâneo para o desenvolvimento cognitivo. Sem um script ou regras, as crianças podem improvisar e adaptar suas brincadeiras, criando mundos imaginários, transformando objetos em novos significados e desenvolvendo histórias criativas”, detalha Araújo. Brincadeiras de faz-de-conta, uso de legos ou blocos de montar e caça ao tesouro são algumas recomendações que podem fomentar a capacidade imaginativa das crianças.

Além dessas, outras atividades podem protagonizar a rotina durante as férias escolares, de acordo com o psicólogo:

Brincadeiras musicais: criar instrumentos com objetos de casa, cantar e dançar, karaokê;
Brincadeiras literárias: teatralização de histórias, contação dinâmica, criação de histórias;
Atividades de exploração: explorar o quintal, observação de animais e fazer experiências simples.

Equilíbrio é a chave

Para os pais e responsáveis, um dos desafios é a organização de atividades estruturadas com o tempo livre das crianças. “Equilibrar a rotina das férias com momentos estruturados e tempo livre é essencial para que as crianças possam aproveitar ao máximo este período. As férias devem ser uma combinação de aprendizado, exploração, relaxamento e criatividade”, aponta Araújo.

Dessa forma, um critério para organizar o cotidiano com os filhos é manter uma certa flexibilidade, mas contar com momentos estruturados a fim de desenvolver a disciplina e a rotina. Conforme acentua o psicólogo, na prática, é possível definir horários para acordar, fazer refeições e dormir, evitando atividades rígidas o tempo todo. Durante as atividades livres, é o momento de estimular a autonomia, a criatividade e a imaginação das crianças, que podem ser enriquecidas com passeios programados, como zoológicos, museus e cinemas.

“O segredo é encontrar esse equilíbrio, permitindo que as crianças experimentem a liberdade de escolher e criar, ao mesmo tempo em que têm experiências significativas e educativas”, finaliza.

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