A Polícia Civil deflagrou na manhã desta quinta-feira, 20 de março, a Operação Falso Profeta, para desarticular um esquema criminoso de extorsão de comerciantes em Cuiabá e Várzea Grande, no qual "soldados do crime" intimidavam e cobravam taxas sob ameaça de represálias. O principal alvo da ação é Ulisses Batista, conhecido como “Velho Ulisses”, pastor da Igreja Pentecostal Assembleia de Deus Coração de Deus, no bairro Pedra 90, em Cuiabá. Segundo a Polícia Civil, o grupo arrecadava cerca de R$ 1,5 milhão mensais para o Comando Vermelho.
De acordo com as investigações, ele seria o responsável por criar o grupo de extorsão nas redes sociais e liderava o esquema. Ele está foragido no Rio de Janeiro.
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“São comerciantes situados em Cuiabá e Várzea Grande com o envolvimento de alguns soldados do crime, que a gente denomina, que são aquelas pessoas ‘de frente’, ‘a voz’ do comando, que vão diretamente aos comerciantes cobrarem o pagamento dessa taxa e ameaçarem com represálias”, explicou o delegado Rodrigo Azem.
Em coletiva de imprensa nesta manhã, Rodrigo informou que a facção criminosa agia por meio de um grupo no WhatsApp. Os comerciantes adicionados ao grupo eram coagidos a pagar uma taxa de R$ 1,00 por garrafão vendido, além de serem obrigados a comprar água exclusivamente de distribuidoras ligadas às facções criminosas.
“Alguns desses comerciantes que saiam dos grupos e que se negassem a pagar, recebiam uma mensagem privada dizendo que [os criminosos] iam conversar pessoalmente, no sentido de intimidar, ameaçar essas vítimas para que elas retornassem aos grupos e aderissem ao projeto de água, que foi intitulado pelo Comando Vermelho aqui no Estado do Mato Grosso”, explicou o delegado.
As investigações também identificaram duas empresas de fachada utilizadas para lavagem de dinheiro. Apesar de serem fictícias, essas empresas movimentaram quantias expressivas em um curto período de tempo, com grande parte dos valores sendo transferida para o Comando Vermelho no Rio de Janeiro.
“São pessoas jurídicas que também tiveram a medida cautelar hoje, cumprida para suspensão das atividades econômicas, e boa parte desse lado financeiro, até mesmo para alimentar a facção Comando Vermelho, ela é transferida para integrantes que se encontram no estado do Rio de Janeiro, que é o braço da facção criminosa”, finalizou.
‘PROJETO ÁGUA’
A investigação teve início em novembro de 2024 e identificou criminosos que coordenavam o “Projeto Água 20 LT”, do Comando Vermelho. No esquema criado pela facção, comerciantes eram ameaçados para comprar apenas os galões de água fornecidos apenas pelo grupo, além de pagar a taxa de R$ 1 por galão vendido.
Para montar o esquema de abordagem às vítimas, os integrantes da facção, de maneira articulada e com divisão de tarefas, criaram um grupo de WhatsApp, com o objetivo de estabelecer o controle explícito sobre os distribuidores, fazendo vítimas comerciantes de diversos bairros de Cuiabá e Várzea Grande.
Nas investigações, foi possível identificar que o administrador do grupo de Whatsapp é um dos líderes da facção criminosa, responsável por manter o controle financeiro e logístico do esquema, coordenando atividades de extorsão do grupo.
Também foram identificados outros integrantes responsáveis pelas visitas às distribuidoras para reforçar a necessidade de aquisição, por parte dos comerciantes, do produto vendido pela facção, além da cobrança da “taxa” por cada galão vendido pelos comerciantes.
Todos os alvos identificados possuem extensa ficha criminal por crimes como tráfico de drogas, homicídios, roubo, uso de documento falso e organização criminosa, além de vínculos com a facção criminosa.
LAVAGEM DE DINHEIRO
A investigação também identificou pessoas envolvidas com a lavagem do dinheiro obtidos por meio das extorsões. Além de uma distribuidora de água, os policiais constataram que os criminosos usaram uma farmácia, registrada em nome de ‘laranjas’, para movimentar o dinheiro ilegal. Segundo a Polícia, um dos ‘donos’ da farmácia sequer tem condições financeiras de ter um negócio desse porte, já que é beneficiário de programas sociais.
Os vínculos existentes apontaram para uma pessoa jurídica que também atua no ramo da distribuição de água e bebida, funcionando como “testa de ferro” da facção, dissimulando transações por meio das empresas, com o objetivo final de remeterem o dinheiro arrecadado em Mato Grosso para membros do Comando Vermelho no Rio de Janeiro.
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