O cirurgião plástico Alexandre Rezende Veloso e os anestesistas Cristhiano Camargo Prado e Klayne Moura Teixeira de Souza foram indiciados por homicídio culposo pela morte da vendedora Keitiane Eliza da Silva, 27 anos, que morreu após realizar um procedimento cirúrgico estético. O delegado Bruno de Morais Carvalho, da Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), responsável pela investigação, concluiu o inquérito no dia 03 de janeiro.
Keitiane morreu no dia 14 de abril de 2021, um dia após realizar os procedimentos de vibrolipoescultura com enxerto de glúteos, abdominoplastia e reparo de mastopexia na clínica Valore Day.
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De acordo com os advogados da família, o inquérito concluiu que houve negligência dos médicos na realização dos procedimentos que culminaram na morte da paciente. A equipe médica não observou as recomendações do Conselho Regional de Medicina (CRM/MT) que, naquele momento, orientava a suspensas das cirurgias eletivas em razão da escassez de vagas de UTI pela superlotação das unidades de saúde pelos pacientes infectados com o coronavírus.
“Conforme o que foi angariado ao longo da investigação a equipe cirúrgica também descumpriu diretriz estabelecida pela Sociedade Brasileira de Anestesiologistas que, naquela ocasião, estipulava um prazo de espera mínimo para a realização de cirurgias eletivas a partir da data do diagnóstico da Covid-19. No caso de pacientes assintomáticos, esse prazo seria de 4 semanas e os pacientes sintomáticos que não necessitaram de internação, deveria aguardar pelo menos 6 semanas”, explicou Marciano Nogueira Silva, que defende a família da vítima, juntamente com o advogado Heliodorio Santos Nery.
Keitiane foi submetida ao procedimento cirúrgico com apenas 22 dias após o teste de antígeno positivo para Covid-19, mesmo tendo apresentado comprometimento pulmonar que ficou demonstrado na tomografia de tórax realizada antes do procedimento, posteriormente os laudos do IML apontaram para um quadro de broncopneumonia que acometia a paciente antes mesmo da cirurgia.
No caso de Keitiane, considerando que ela apresentou sintomas da Covid-19, especialmente o acometimento pulmonar, deveria se aguardar pelo menos 6 semanas entre a data do diagnóstico da Covid até a realização da cirurgia. Conforme o advogado Marciano, esse lapso temporal que não foi respeitado, portanto, os médicos assumiram totalmente o risco ao realizar o procedimento em um cenário totalmente desfavorável.
“O laudo do IML apontou que ela apresentava uma broncopneumonia antes do procedimento, certamente consequências das sequelas da covid. Em hipótese nenhuma poderia ter feito o procedimento naquele momento. Apenas 22 dias do teste do antígeno que deu positivo, que foi feito em 22 de março e a cirurgia em 13 de abril, desrespeitando claramente a recomendação que existia naquele momento, de se esperar 6 semanas para o procedimento”, apontou Nogueira.
O advogado finalizou informando que, agora, espera que o Ministério Público receba o relatório do inquérito e traduza isso em uma denúncia criminal contra os médicos.
A defesa também espera que o CRM/MT aplique as devidas sanções disciplinares aos médicos envolvidos no crime. Os próximos passos será ingressar com uma ação de indenização na área cível contra todos os envolvidos que concorreram para a morte da vendedora.
O CASO
No dia 13 de abril de 2021, Keitiane Eliza da Silva foi submetida a cirurgia na clínica Valore Day. O procedimento cirúrgico teve início às 7h30 com término às 15h30. Assim que ela chegou ao quarto começou a sentir dores, calafrios, indisposição, calor e muita sede. A mãe dela Ana Perpétua Bochnia reportou a ocorrência a médicos e enfermeiros.
O médico Alexandre Veloso visitou a paciente por volta das 19 horas. Depois disso, quem a acompanhou foi a médica Klayne Moura. Por volta das 23h50, a paciente estava passando muito mal e encaminhada ao centro cirúrgico, quando teve a primeira parada cardíaca sendo submetida a reanimação.
O quadro clínico piorou. Ela acionou o cirurgião plástico Alexandre Veloso, o anestesista Cristhiano Prado e outros dois médicos que tentaram a madrugada toda a verificar o que estava causando hemorragia e, consequentemente, a grande perda de sangue da paciente.
Eles tentaram encaminhar a paciente para uma UTI havendo dificuldade para encontrar uma vaga nos hospitais em razão da lotação das unidades de terapia intensiva causada pelos pacientes infectados por Covid 19. Ela foi encaminhada para a unidade às 8 horas, numa ambulância da Help Vida, do dia 14 de abril. Ela morreu cerca de 30 minutos que deu entrada no Hospital Santa Rosa.
CIRURGIA
Na coletiva, Fábio Gabriel Rodrigues Alves, marido de Keitiane, disse que era contrário à cirurgia estética. “Eu não queria que ela fizesse porque ela já estava muito bem. Já tinha feito cirurgia anteriormente e acho que não havia necessidade. Mas ela viu a facilidade que o dr. Alexandre passou e decidiu fazer mesmo me contrariando. Ela viu essa oportunidade, onde ela adentrou achando que seria bom pelo custo”, disse o marido dela.
A mãe da vítima, Ana Perpetua Bochnia, disse que espera Justiça e a punição dos responsáveis. “Nós estamos em busca de Justiça para que outras mães não passem pelo que estou passando hoje e os filhos, como ela que tinha duas filhas, não chorem a falta da sua mãe”.