A frase “O tamanho do seu privilégio é o tamanho da sua responsabilidade” não é minha e sim de Elie Horn, fundador da Cyrela Brazil Realty e patrocinador do movimento Bem Maior. O exemplo do bilionário que decidiu doar 60% da sua fortuna a projetos sociais para melhorar a vida dos brasileiros é um convite para que possamos refletir sobre a importância do “servir” – da filantropia - e o quanto as famílias empresárias brasileiras têm essa responsabilidade.
- FIQUE ATUALIZADO: Entre em nosso grupo do WhatsApp e receba informações em tempo real (clique aqui)
- FIQUE ATUALIZADO: Participe do nosso grupo no Telegram e fique sempre informado (clique aqui)
Normalmente, o Natal nos envolve coletivamente em um sentimento de amor fraterno que deveríamos cultivar o ano todo, não apenas entre familiares e amigos, como com todos aqueles com quem convivemos, direta ou indiretamente. Tem uma canção do Roupa Nova que diz assim “se a gente é capaz de espalhar alegria, se a gente é capaz de toda essa magia, eu tenho certeza que a gente podia fazer com que fosse Natal todo dia”.
Em um cenário em que a responsabilidade social é cada vez mais valorizada, práticas alinhadas ao ESG (Environmental, Social and Governance) fortalecem a reputação, geram confiança e contribuem para a longevidade das empresas, especialmente das empresas familiares que buscam perpetuar seus valores e legado. Deste modo, a dimensão social assume um papel na construção de uma imagem positiva e responsável que transcende a própria família empresária.
As empresas familiares precisam ter como meta o desenvolvimento e a equidade em suas comunidades, o que se traduz em práticas de inclusão social, políticas de diversidade, investimentos em educação e saúde, além de ações voltadas à preservação ambiental, que refletem os valores e a cultura familiar no próprio modelo de gestão. Adotar o princípio social nas estratégias e decisões corporativas já representa um diferencial competitivo valorizado por consumidores e investidores.
Um exemplo dessa prática sem dúvida é Elie Horn, que aos 80 anos continua a ser co-presidente do conselho de administração da companhia e concilia seu tempo com ações filantrópicas. Durante o lançamento do seu livro “Tijolos do Bem”, em julho deste ano, ele disse que gostaria que escrevessem em seu túmulo “esse homem tentou fazer o bem”. Entre suas principais frases inspiradoras estão:
“Ter muito dinheiro é um teste se essa pessoa vai cair na tentação de ser um “egoísta” ou não”; “Não é sobre o quanto você gasta, mas quanto você doa”. “Não seja covarde. Quem for covarde será cobrado na eternidade”; “Contribuir é um dever”; “Aposentar da coragem, da filantropia, do meu propósito? Nunca vou me aposentar”; O dinheiro compra passagens para qualquer lugar neste mundo. Fazer o bem compra passagem para o outro mundo”.
Warren Buffett, um dos maiores investidores do mercado financeiro global, também tem muito a nos ensinar. Em uma carta publicada recentemente pela imprensa, ele descreveu a relação de sua família com o dinheiro, criticou a criação de dinastias familiares e aconselhou os pais ricos a deixarem para seus filhos “o suficiente para que eles possam fazer o que quiserem, mas não o sufi ciente para que eles possam não fazer nada”.
Essa carta veio junto com o anúncio de uma doação adicional de US$ 1,2 bilhão em ações para fundações filantrópicas ligadas à família Buffett, que desde 2006 já doou 56% da sua fortuna, mas que quer chegar a 99% em vida, conforme compromisso com o Giving Pledge. Apesar da tendência mundial, no Brasil, dos 69 bilionários (ranking Forbes 2024), apenas dois deles — Elie Horn e David Velez (CEO Nubank) — assinaram o documento.
Infelizmente, temos muitos problemas sociais no Brasil, país que é o segundo colocado no ranking de maior desigualdade entre 56 países listados pelo Global Wealth Report 2024. Embora ainda seja delicado abordar esse tema, é necessário e urgente desenvolvermos uma consciência social coletiva que busque diminuir as distâncias e potencializar a geração de oportunidades.
Acredito firmemente que a Governança Corporativa e Familiar é um caminho seguro e viável para transformar as nossas melhores aspirações “de um mundo melhor” em práticas diárias sustentáveis que direcionem vidas e negócios. Como Buffett disse em sua carta, o ‘pai tempo’ sempre vence, então, que possamos brindar o novo tempo aceitando o convite para construir juntos um futuro próspero para as famílias brasileiras. Feliz 2025!
*Cristhiane Brandão é conselheira de Administração, consultora em Governança para Empresas Familiares e coordenadora do Capítulo Brasília/Centro Oeste do IBGC.