Toda vez que um feriado prolongado se aproxima, as redes sociais e colunas de opinião se enchem de críticas. Os argumentos se repetem: “o país já é pouco produtivo”, “o comércio perde vendas”, “as contas não fecham”. Essa visão, apesar de frequente, desconsidera um fato central: o Brasil é um país com uma economia profundamente diversa — e muitos setores dependem justamente desses períodos para equilibrar suas contas.
Bares, restaurantes, hotéis, atrações turísticas, serviços de lazer e transporte são segmentos que vivem seus melhores momentos durante os feriados prolongados. A Páscoa de 2025 é um exemplo recente e expressivo. Para boa parte dos empresários que atuam nesse setor, o feriadão foi mais do que bem-vindo: representou uma chance concreta de alívio financeiro. Segundo pesquisa da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), 71% dos empresários do setor esperavam aumento no faturamento em relação à mesma data de 2024, sendo que a maioria previa crescimento de até 20%.
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Paulo Solmucci, presidente-executivo da Abrasel, destaca que datas como a Páscoa ajudam empresas que operam no limite a encontrar algum fôlego. “Mais de dois terços das empresas do setor ainda funcionam sem lucro. Nessas condições, qualquer data sazonal com expectativa de maior movimento pode representar a diferença entre manter portas abertas ou não”, explicou.
Em Mato Grosso, o movimento foi semelhante. Embora Cuiabá se esvazie nesses períodos, cidades turísticas como Chapada dos Guimarães, Nobres, Jaciara e outras da região atraem um grande volume de visitantes, o que aquece a economia regional. Segundo o presidente da Abrasel-MT, Daniel Teixeira, os feriados são oportunidades valiosas para as empresas do setor, sobretudo num cenário em que 39% ainda operavam no prejuízo em fevereiro.
É claro que os impactos não são positivos para todos. O comércio de rua, especialmente em datas que não estimulam diretamente o consumo de bens, tende a registrar queda no volume de vendas. Pequenas lojas, mercados de bairro e estabelecimentos dependentes do movimento cotidiano urbano sentem a diferença. Mas essa não pode ser a única lente de análise. A economia gira de forma interdependente, e os feriados, longe de serem simples pausas na rotina, são também momentos de estímulo à circulação de pessoas, ao consumo de serviços e à geração de renda em segmentos que, frequentemente, não encontram equilíbrio nas semanas comuns.
Generalizar os efeitos dos feriados como danosos é, além de impreciso, injusto com setores que movimentam a economia justamente nesses períodos. O desafio não está em reduzir feriados, mas em criar políticas públicas e estratégias de planejamento que permitam ao país crescer com mais equilíbrio, valorizando sua diversidade produtiva.
Feriados bem aproveitados geram empregos, fortalecem pequenos negócios, descentralizam a economia e ajudam a manter regiões inteiras ativas. O turismo local, por exemplo, depende fortemente de feriados prolongados para atrair visitantes e justificar a permanência de pousadas, restaurantes e atrações em funcionamento ao longo do ano.
Ao invés de vilanizá-los, é preciso reconhecer seu papel. Quando encarados com planejamento e visão estratégica, os feriados não representam uma ameaça à economia, mas uma ferramenta para impulsioná-la — ainda que de forma setorial. Em um país continental como o Brasil, o equilíbrio entre os setores não depende da eliminação de pausas, mas da capacidade de aproveitá-las com inteligência.