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Opinião Terça-feira, 16 de Julho de 2024, 08:03 - A | A

Terça-feira, 16 de Julho de 2024, 08h:03 - A | A

VIRGILIO DOS SANTOS

Crescimento empresarial: como manter a produtividade em alta?

Virgilio Marques dos Santos*

Como empreendedor, um dos meus grandes dilemas é crescer sem perder a produtividade. Como sair de 10 para 100 colaboradores mantendo exatamente a capacidade de geração de valor per capita? Como, mesmo estando estável em termos de colaboradores, melhoro a minha produtividade para fazer frente à inflação e aos reajustes de salários e insumos?

Tive essa reflexão ao ler o artigo do José Serra publicado no dia 27 de junho, no Estadão. Nele, o economista citava um estudo da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) que mostrava que, entre fevereiro de 2022 a fevereiro de 2024, os rendimentos reais do trabalhador no setor industrial brasileiro cresceram 5,9%, ao passo que a produtividade do trabalho havia apresentado uma retração de 1,4%.

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Por esses números fica claro que o salário é maior e o seu resultado, em termos de produção, menor. O final desse filme é uma indústria com menor capacidade competitiva, seja no mercado nacional, seja no mercado global. Num ambiente inflacionário, a indústria aumentaria os preços de seus produtos de forma a compensar a sua perda de produtividade e a desvalorizar o ganho real do trabalhador. Hoje, no entanto, essa conta não é possível e por isso afeta diretamente seu resultado.

Agora, será que isso só ocorre na indústria? Minha predição, ou melhor, sentimento, é que não. Como empreendedor, ao ter meus custos reajustados todos os anos, eu preciso achar de onde encontrar mais produtividade para manter a lucratividade, descontada a inflação. Se hoje minha atividade consegue deixar 100 mil reais por mês, no próximo ano, para ter o mesmo lucro real eu precisaria de 104 mil se a inflação ficar dentro da meta.

O problema é que eu preciso alcançar os 104 mil mesmo com meus custos, como a mão de obra ou o dólar, subindo mais que isso. Nesse caso, a minha única saída é tornar-me mais produtivo. E a primeira saída que vem na cabeça é o ganho de escala: ficar maior.

Ao crescer, como falei no início, o ganho teórico de escala mostra-se muito mais difícil de alcançar do que nos livros de Engenharia de Produção. A minha operação precisa trabalhar sincronizada com minha capacidade de comercialização, o que nem sempre ocorre.

Além disso, para crescer, é necessário operar com folga no quesito gente, pois há uma lacuna de tempo nem sempre desprezível entre precisar de um novo colaborador e tê-lo no posto de trabalho. O tempo com recrutamento, seleção e treinamento pode ser maior do que o disponível para aproveitar um novo contrato e, dessa forma, pode-se acabar perdendo o negócio.

Isso sem falar na estrutura de gestão e liderança, que começa a ser necessária para desdobrar as decisões em todas as pontas. E encontrar líderes que comungam da sua cultura e valores não é trivial. Se achar analistas e especialistas já é desafiador, gestores são mais ainda. Afinal, será essa pessoa a responsável por representar a empresa perante boa parte dos seus colaboradores. Trazer alguém de fora sem os valores, fato que pode acontecer num recrutamento mal realizado, poderá arruinar todo um setor, que passará a ficar confuso em qual diretriz seguir.

Mas imagina que você domina o tema "gente", caro leitor. Há ainda os investimentos em sistemas, automação, inteligência artificial e equipamentos. Na indústria, como disse o ex-senador José Serra, a qualidade do parque fabril é condição fundamental para o trabalhador alcançar a produtividade. Na minha realidade, área de serviços, se não mantermos nossos sistemas e rotinas atualizados, teremos uma produtividade medíocre frente aos concorrentes de fora.

Além desses, não adianta gente boa e sistemas modernos se não há processos formais funcionando. Sem processos definidos, depende-se do talento individual e da condição de momento de cada um para as coisas saírem corretamente. Ou seja, quase impossível. Por isso, estruturar, documentar e melhorar os processos é fundamental para garantir que sua produtividade irá melhorar. Para isso, reserve tempo, domine o fundamental do Lean Seis Sigma e tenha foco. E, claro, conte com um time para fazer isso.

Gente, Máquinas, Processos e, de repente, o governo muda a regra tributária. Você está empreendendo, crescendo, ajustadinho e sai do enquadramento do simples. De repente, os encargos sobre seus colaboradores, que era de 38%, sobem, num passe de mágica, para quase 70%. Recalcular. Tome ajustes para você conseguir manter-se mais produtivo ainda. De repente, o governo elimina um benefício, ou confere à outra cadeia que substitui a sua, subsídios. E você, precisa ser mais produtivo...

Caro leitor, para encerrar, afinal já tomei o seu tempo com angústias e ansiedades demais, resumo: empreender, na sua empresa ou de outrem, é gerenciar a produtividade em todas as áreas. É buscar melhorar na Gestão de Gente, Investimentos, Processos e Tributária. É dominar cada passo, seja profundamente, seja contando com ótimos consultores, para garantir que a mágica aconteça. E, sem um governo que define o rumo que o país irá caminhar pelos próximos 5 anos, fica difícil, pois todos os seus esforços para turbinar a produtividade podem acabar em uma canetada de algum parlamentar. Se sonhamos com um país rico e socialmente justo, precisamos retomar um pouco dos estadistas do passado.

*Virgilio Marques dos Santos é um dos fundadores da FM2S, gestor de carreiras, doutor, mestre e graduado em Engenharia Mecânica pela Unicamp e Master Black Belt pela mesma Universidade. Foi professor dos cursos de Black Belt, Green Belt e especialização em Gestão e Estratégia de Empresas da Unicamp, assim como de outras universidades e cursos de pós-graduação. Atuou como gerente de processos e melhoria em empresa de bebidas e foi um dos idealizadores do Desafio Unicamp de Inovação Tecnológica.

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