A porcentagem relativa de divórcios no Brasil cresceu e tende a continuar crescendo. Nos últimos dois anos não temos dados ainda, mas em 2021 houve recorde, em 2022 novamente mais um recorde, atingindo 420 mil divórcios só naquele ano . E divórcio nunca diz respeito só ao casamento. Divórcio envolve patrimônio, status social, status financeiro, vínculos emocionais e acima de tudo envolve saúde mental.
Seja um divórcio litigioso ou não, seja por necessidade ou não, quase sempre a estabilidade psíquica de um ou ambos ex-cônjuges vai por ladeira a baixo.
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E qual o melhor caminho? Por óbvio evitar casamentos que são indicativos de separação no futuro. E também, lógico, construir bons casamentos ou restaurá-los antes que seja necessário contratar advogado e assinar papéis.
As diferentes fases da vida naturalmente impõem a necessidade de muitas habilidades do casal: a fidelidade conjugal, a comunicação, segurança emocional, envelhecimento físico do outro, a confiança, educação de crianças etc. E é justamente por não conseguir superar esses imperativos da vida a dois que muitos desistem um do outro. E isso é lamentável, pois com ajuda profissional esses problemas são facilmente mitigados.
E o impacto do rompimento para quem está perto ou vinculado ao casal? Filhos entram em conflito ou adoecem, empresas fecham, endividamentos, amizades são desfeitas, isolamento social, descuidos físicos, solidão toma conta e a pessoa fica vulnerável a vários quadros de Psicopatologias (pelo menos temporariamente). Caso esse fio condutor que cito como exemplo ocorra, ainda tem as limitações que a pessoa fica sujeita, como a incapacidade de tomar rápidas e boas decisões, identificar e controlar estados emocionais, comunicar-se assertivamente entre outros déficits que estão presentes nos capítulos do divórcio que quase sempre parece uma novela dramática.
Diferentes linhas da Psicologia reafirmam de um modo ou outro que a personalidade (o self) da pessoa se molda com o passar do tempo em uma vida conjugal. Até aí tudo bem, qualquer pessoa casada sabe disso. Mas já parou para pensar nesse movimento inverso? A pessoa se divorcia, e o “Eu” dela tinha a ver com o outro “Eu” do cônjuge. O meu “eu”, minha memória sobre quem eu sou se misturam com o “eu” e memórias do outro. Agora com divórcio e esse outro não existe mais na vida dela então ela vive uma grande crise: “Quem sou eu agora?”. Isso é um nível de angústia muito grande. Uma confusão mental a nível de personalidade.
Viver bem emocionalmente em sociedade está cada vez mais desafiador dado às demandas contemporâneas que nos escapam do controle. O divórcio certamente está entre as piores perdas de controle que uma pessoa pode ter. E certamente entre as piores consequências possíveis para a sociedade também. Devemos olhar esse fenômeno com menos passividade e naturalidade. Discernir quando o rompimento é melhor escolha não é fácil, vai caso e a caso. Dentro do possível, unir comunidades e profissionais da saúde principalmente no viés preventivo, com educação e disponibilidade de serviço psicológico. É uma responsabilidade de todos porque as consequências atingem a todos também, direta ou indiretamente.
*José Luiz Raymon é psicólogo clínico formado pela UFR, especialista na Terapia-Cognitivo Comportamental (TCC) e Análise Comportamental (AC). Filiado à Associação Brasileira de Psicologia Baseada em Evidências (ABPBE).