A inteligência artificial (IA) tem sido uma ferramenta revolucionária em diversos campos, desde a área industrial até o atendimento ao consumidor. No entanto, ela só parece ser “boa” enquanto está a favor de determinados interesses ou grupos. Quando a tecnologia começa a escapar do controle e prejudicar aqueles que antes a defendiam, os alertas finalmente são acionados.
Com cenário brasileiro, o mundo tem assistido a um embate entre autoridades do Poder Judiciário, como o ministro Alexandre de Moraes, e gigantes da tecnologia, como Elon Musk, dono do X (antigo Twitter). O ministro tem demonstrado preocupação com o uso da IA na manipulação da opinião pública, especialmente em processos eleitorais. Contudo, a grande ironia desse debate é que agora aqueles que antes desdenhavam dessas preocupações começam a sentir na pele os efeitos negativos da inteligência artificial.
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Um exemplo claro desse fenômeno foi um vídeo controverso que viralizou recentemente: nele, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, aparece ajoelhado, chupando o dedão do pé de Elon Musk dentro do Departamento Americano de Habitação e Desenvolvimento Urbano.
Posteriormente, descobriu-se que essa cena bizarra foi criada por inteligência artificial cujo objetivo era criticar a estreita relação entre o republicano e o empresário que virou secretário de estado. O impacto da peça de desinformação foi tão grande que a preocupação das grandes potências agora se volta para entender quem manipulou essa imagem e como ela foi introduzida nos sistemas de comunicação do governo americano.
Esse caso escancara a hipocrisia daqueles que antes viam a IA como uma ferramenta para influenciar e desestabilizar países como o Brasil. Ou quem não lembra durante as eleições brasileiras, as redes sociais foram palco de uma verdadeira guerra de desinformação, levando Alexandre de Moraes a travar uma batalha árdua contra as gigantes da tecnologia para conter a disseminação de fake news. Agora, quando a inteligência artificial atinge diretamente a imagem de uma das figuras mais poderosas do mundo, o jogo parece estar virando.
A grande questão que fica é: até onde vale a pena defender a IA sem limites? A partir do momento em que ela passa a criar realidades paralelas, propagar falsas verdades e afetar a reputação de líderes políticos, torna-se um problema global. Quem antes ignorava os perigos dessa tecnologia, agora se vê obrigado a lidar com os danos causados por ela.
E pelo jeito o Trump chupou um dedo azedo, porque azedou o encontro dele com o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky, dado tamanho foi o bate-boca entre os dois... bate-boca verdadeiro, sem auxílio da IA!
Jonathan Haidt, em seu livro “A Geração Ansiosa”, argumenta que o uso excessivo da tecnologia e das redes sociais tem causado impactos psicológicos devastadores, especialmente entre os jovens. Ele destaca como a exposição a conteúdos manipulados gera ansiedade, desconfiança e polarização extrema.
Ainda, segundo o autor, essa perspectiva se aplica perfeitamente à ascensão da IA generativa, que é aquela que aprende com os dados (diferente da IA tradicional), pois estamos diante de uma ferramenta que amplifica a confusão social, tornando cada vez mais difícil distinguir o que é real e o que é fabricado.
E por último, Haidt afirma que a disseminação de deepfakes (estágio superior a fake news) e a manipulação da informação não apenas afetam figuras públicas, mas também contribuem para um ambiente de insegurança e descrença na própria realidade. O livro é fantástico. É um verdadeiro manual para pais de jovens e crianças.
O episódio envolvendo Trump e Musk nos mostra que a IA não escolhe lado. Ela pode ser usada tanto para favorecer quanto para prejudicar qualquer pessoa, independentemente de seu status ou poder. Se antes os Estados Unidos e suas grandes empresas de tecnologia pareciam indiferentes ao impacto da inteligência artificial sobre a política de outros países, agora têm um motivo real para se preocupar.
Fico a me perguntar: E quando a IA se voltar contra Musk, como será seu comportamento?
A inteligência artificial é, sem dúvida, uma ferramenta poderosa, mas quando utilizada de maneira irresponsável, torna-se uma arma perigosa. A questão não é se devemos ou não usá-la, mas sim como estabelecer limites e regulamentações que impeçam seu uso nocivo.
No fim das contas, o título do artigo rimou, e talvez seja a hora de reconhecer que a preocupação de Xandão com a IA não era exagerada, e que todos, independentemente de suas ideologias, correm o risco de serem vítimas dessa tecnologia que, ironicamente, ajudaram a fomentar.
*Claiton Cavalcante é membro da Academia Mato-Grossense de Ciências Contábeis e do Instituto dos Contadores do Brasil