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Mundo Segunda-feira, 03 de Junho de 2024, 11:04 - A | A

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PARECE PIADA

Seul ameaça usar k-pop em resposta a balões com fezes e Coreia do Norte recua

Luisa Belchior | g1

O novo capítulo das provocações entre a Coreia do Norte e a Coreia do Sul inclui lixos, fezes, pen drives com músicas de k-pop, grãos de arroz, balões gigantes e até notas de dólar.

Além, é claro, de mísseis.

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Na quarta-feira (29), cerca de 260 balões transportando sacos com itens de lixo e fezes pousaram em território da Coreia do Sul, em regiões de fronteira com a vizinha Coreia do Norte, que, mais tarde, confirmou ser responsável pelo envio, aproveitando as correntes de vento em direção ao sul.

Seul chamou a ação de "desumana, de baixo nível e nojenta". Disse ter achado, nas sacolas presas ao balões, pontas de cigarro, resíduos de baterias, garrafas plásticas e substâncias tóxicas como pedaços de fezes. Pediu que o governo rival parasse.

Mas Pyongyang afirmou que a provocação continuará e prometeu mandar "dezenas de vezes mais" balões que os enviados na quarta-feira.

A provocação, inusitada, vem da fúria do líder da Coreia do Norte, Kim Jong-un, com outra "arma" do país inimigo: o k-pop.

O gênero musical sul-coreano já vem sendo usado como elemento central da guerra cultural entre os dois países há anos, mas foi desde 2023 que ativistas da Coreia do Sul começaram a enviar, com mais frequência e de forma crescente, pen drives contendo músicas de bandas de k-pop.

O aumento da chuva de pen drives está ligado ao crescimento das tensões entre os dois países, depois de o governo norte-coreano revogar, em novembro do ano passado, um pacto de não agressão que os dois lados mantinham desde 2018 (leia mais abaixo).

O envio de k-pop em pen drives tem sido feito, principalmente, através de balões com inscrições contra o regime de Kim Jong-un -- e por isso a resposta de Pyongyang também pelo ar --, mas ativistas também têm usado garrafas plásticas enviadas aos vizinhos pelo mar, aproveitando correntes marítimas com direção ao norte.

Junto do pen drive, eles também mandam grãos de arroz -- há diversos relatos de que uma parcela importante da Coreia do Norte passa fome, e, segundo ativistas, agentes do governo confiscam com frequência a produção de plantações de pequenos produtores.

Há ainda quem coloque notas de dólares, em uma ação que pode ser tanto uma ajuda financeira aos vizinhos quanto uma provocação ao governo local, atualmente alinhado com países politicamente rivais aos Estados Unidos, como a Rússia e o Irã.

Nos EUA, há grupos que se dedicam justamente a ajudar nesse envio. A fundação Flash Drives for Freedom (Pen Drives para a Liberdade, em tradução do inglês), por exemplo, se dedica a arrecadar pen drives em Nova York, incluir conteúdos como músicas de k-pop, filmes de k-drama e informações sobre o regime norte-coreano.

Depois, membros da fundação na Coreia do Sul infiltram esse material em território norte-coreano -- por razões de segurança, o grupo não divulga a forma de envio. 

Apesar da escalada das tensões com o regime vizinho, o governo da Coreia do Sul tem desencorajado ativistas a continuarem com a prática. Uma lei proibindo o lançamento de balões chegou a ser aprovada em 2021, mas foi derrubada pela Suprema Corte sob o argumento da liberdade de expressão.

Segundo a agência sul-coreana Yonhap, a Coreia do Norte havia prometido uma "ação olho no olho" contra "coisas sujas" enviadas da Coreia do Sul.

“Estes atos da Coreia do Norte violam claramente o direito internacional e ameaçam seriamente a segurança do nosso povo”, afirmaram os militares da Coreia do Sul em um comunicado.

A guerra simbólica, no entanto, acontece em paralelo com elementos bélicos. Em janeiro, a Coreia do Norte voltou a lançar projéteis em direção ao rival vizinho, depois de cinco anos de um acordo de paz entre os líderes dos dois países que, tecnicamente, ainda estão em guerra.

Desde então, Pyongyang tem feito constantemente manobras militares como forma de provocação, tanto no entorno da Coreia do Sul quanto do Japão -- em 2022, os EUA anunciaram uma parceria com os dois países asiáticos para exercícios militares conjuntos.

Nesta quinta-feira (30), o Exército norte-coreano lançou dez mísseis balísticos em direção ao território japonês. O primeiro-ministro japonês, Fumio Kishida, condenou a manobra e pediu apoio internacional.

Balões
Os balões começaram a ser vistos sobrevoando o território sul-coreano na noite de terça-feira (28). Segundo o governo da Coreia do Sul, alguns balões conseguiram chegar a uma província no sudoeste do país.

Imagens divulgadas pela imprensa da Coreia do Sul mostraram balões brancos amarrados a sacos plásticos com lixo. Os militares afirmaram que encontraram resíduos como garrafas de plástico, baterias, peças de sapato e fezes.

As autoridades da Coreia do Sul pediram aos moradores que não se aproximem dos balões enviados pelo Norte. Em vez disso, a população deve acionar a polícia.

Escalada de tensões
As relações entre as Coreias começaram a piorar na carona do cenário geopolítico redefinido após guerra na Ucrânia. Na briga por mais influência na Ásia, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, firmou uma parceria com a Coreia do Sul e o Japão durante viagem ao continente em 2022.

Desde então, tropas dos Estados Unidos têm realizado manobras militares em conjunto com o Exército da Coreia do Sul, o que o líder da Coreia do Norte, Kim Jong-un, chama de provocação.

O fator chave para explicar a escalada nas tensões é a revogação, em novembro, pela Coreia do Norte, de um pacto de não agressão que os dois países mantinham desde 2018. 

O acordo de paz, anunciado pelos dois então líderes de mãos dadas, previa medidas como a proibição de testes com armas de fogo ou lançamento de satélites de espionagem —e até diálogo para o lançamento de uma candidatura olímpica em comum.

Foi um curto período de reconciliação inédito desde o fim da guerra entre os dois países, que terminou em 1953 sem vencedores e com as duas Coreias divididas — a do Norte, comunista; a do Sul, capitalista.

Os dois países, que por séculos formaram uma única nação, ainda estão tecnicamente em guerra. Isso porque um tratado de paz jamais foi assinado, mais de 70 anos depois do fim do conflito.

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