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Economia Quinta-feira, 26 de Agosto de 2021, 07:00 - A | A

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INFLAÇÃO ACELERADA

Trabalhadores e pequenos empresários fazem ‘malabarismo’ para sobreviver

Priscilla Silva

Repórter | Estadão Mato Grosso

O crescimento da inflação no Brasil em 2021 tem ocorrido sob uma forte influência do encarecimento de produtos básicos para os brasileiros, como alimentação, habitação e transporte. Os frequentes reajustes dos itens que formam esse conjunto, somados à instabilidade econômica do mercado externo, têm pressionado o orçamento das famílias brasileiras, que já veem os produtos de mercado custarem ‘preço de aeroporto’.

Proprietário de um restaurante familiar no Shopping Popular, Gaspar Fernandes conta que é preciso um ‘milagre’ para conseguir lidar com o aumento no preço dos alimentos, já que isso afeta diretamente seu negócio, de onde tira o sustento da família.

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“Em um quilo de carne de primeira custava entre R$ 16 e R$ 18, antes da pandemia. Hoje, o mesmo corte, pagamos R$ 35. O óleo de soja que era R$ 2 reais antes da pandemia, agora está R$ 8 reais. O açúcar cristal, que uso para os sucos, antes pagava R$ 1,80 e subiu para R$ 5,70. Com a ajuda de Deus, estamos fazendo o milagre da multiplicação”, relata Gaspar, dono do restaurante Sabor da Casa.

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O negócio da família resiste à carestia dos alimentos a um custo alto. Para compensar o aumento no custo de produção, Gaspar teve que fazer cortes no quadro de funcionário. “Com o achatamento da margem do lucro, por ter subido tudo, eu não tenho como manter colaboradores suficientes e, junto com a minha esposa, temos nos desdobrado para atender os clientes”, relata.

O custo com alimentação é o que mais tem pesado no orçamento dos brasileiros e, para os que fazem refeições fora do lar, o aumento repentino de preços assusta. Após o início da pandemia, Gaspar segurou os preços o quanto pôde, mas as altas persistentes e generalizadas nos preços dos alimentos o venceram.

“A minha marmita custa R$ 15, mas teria que ser R$ 25 reais para garantir a mesma margem de lucro que tinha antes da pandemia. O preço do quilo eu devo subir ainda neste mês. Era R$ 30 por kg. Na pandemia subi para R$ 40 e agora vou subir novamente, para R$ 45kg”, diz.

A arrocho inflacionário, como ocorre com a família e o negócio de Gaspar, afeta mais os que possuem menor renda. Isso tem acontecido porque o aumento nos preços ocorre justamente nos produtos essenciais.

“A inflação tem atingido com mais intensidade as famílias de rendas baixas, entre as quais os itens básicos de consumo têm maior peso no orçamento”, destaca estudo feito no início deste ano pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).

A pesquisa que avaliou o peso do custo conforme a renda das famílias mostrou que, no acumulado de 12 meses até maio, a alta de preços para as famílias com rendas muito baixas foi de 8,9% e para as com rendas baixas foi de 8,7%. Já aquelas com rendas altas o impacto era bem menor, de 6,3%.

Empobrecido pela inflação, o trabalhador também perdeu o poder de barganhar reajustes salariais. Com queda nos faturamentos, a maioria das empresas do país tem ‘corrido’ das reposições salariais, o que leva à redução do poder de compra dos trabalhadores.

“A dificuldade que se tem enfrentado nas negociações coletivas de trabalho para a reposição da inflação nos salários com carteira assinada também leva à perda do poder de compra e ao empobrecimento da classe trabalhadora. Nas negociações realizadas até maio deste ano, 58% não obtiveram reajustes capazes de corrigir o valor dos salários”, destaca o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese). “Uma das razões fundamentais para as crescentes dificuldades de os sindicatos reporem a inflação na negociação é o patamar inflacionário”, completa.

Conforme a entidade, há um ano, o reajuste necessário para repor as perdas salariais segundo Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC- IBGE) era de 2%. Já em junho de 2021, esse reajuste se aproxima dos 9%.

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