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Economia Sexta-feira, 22 de Dezembro de 2023, 18:27 - A | A

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APERTEM OS CINTOS

Quebra de safra em MT ameaça contas públicas e preços dos alimentos em 2024

Gabriel Soares

Editor-Chefe | Estadão Mato Grosso

O clima quente e seco que assolou Mato Grosso durante a segunda metade deste ano deve deixar sequelas na economia em 2024, devido ao grande impacto causado à agricultura. As projeções indicam grandes quebras nas safras de soja e de milho, o que deve elevar os preços das commodities e impactar o bolso dos consumidores, com o encarecimento dos alimentos. E os problemas não param por aí. Também é esperada queda na arrecadação das prefeituras e do Estado no próximo ano, justamente por causa da crise que cresce no horizonte do agro.

Em discurso recente, o governador Mauro Mendes (União) relatou preocupação com a situação fiscal de Mato Grosso devido à quebra prevista para as safras de soja e de milho. Mauro lembrou que projeções feitas pela Associação dos Produtores de Soja e Milho (Aprosoja-MT) indicam quebra de 20% na safra de soja e 30% na de milho. Essa situação pode se agravar se as chuvas não ganharem mais volume no final deste mês, período crítico para o enchimento dos grãos.

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"É um momento de cautela e de cuidar bem do dinheiro. Apertem os cintos em 2024! Existem sinais muito concretos de que teremos um ano com nível de dificuldade", sintetizou Mauro.

Não é só Mauro quem está preocupado com a possível quebra de safra. O relatório mais recente do Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central, indicou preocupação com o impacto do clima e da quebra da safra sobre a inflação dos alimentos. Parte desse efeito já foi sentida nos últimos meses, como a alta de 0,63% na inflação de alimentos e bebidas percebida no Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de novembro. A tendência é de uma escala ainda mais significativa nos próximos meses.

"O Comitê, após acumular mais evidência, elevou um pouco o impacto inflacionário do fenômeno climático do El Niño sobre a inflação de alimentos", apontou o BC.

Relatório do Itaú BBA também estima que a quebra da safra de soja de Mato Grosso deve chegar a 20%, o que seria a maior quebra da história do estado. Com isso, a produção de soja ficou estimada em menos de 40 milhões de toneladas, em linha com a estimativa feita pela Aprosoja, que indica produção de 36,15 milhões de toneladas. Isso reduz severamente o resultado da safra brasileira, agora estimada em 153 milhões de toneladas.

“Cabe destacar que a maior quebra já ocorrida em Mato Grosso, de acordo com os dados históricos da Conab, foi da ordem de 11% (safra 1989/90), de modo que, se estivermos corretos, este deverá ser o pior ano da história da oleaginosa no estado”, diz o relatório.

Enquanto a expectativa de produção de soja cai em Mato Grosso e em todo o Brasil, projeções feitas pelo Itaú BBA indicam um crescimento da demanda global pela oleaginosa na ordem de 5%, o que deve afetar os preços da soja no próximo ano. O relatório também indica aumento do consumo interno do grão, na ordem de 3%. Os preços da soja para exportação vão depender do resultado das safras de outros grandes produtores, como Estados Unidos e Argentina. Porém, em algumas regiões do país já está sendo observado um aumento do prêmio para exportação.

Eventual aumento dos preços da soja e do milho deve ter influência direta sobre os preços das proteínas, já que as rações utilizadas na alimentação do gado e das aves são compostas pelas duas commodities. O efeito do preço das commodities sobre as proteínas já foi sentido neste ano, mas no lado positivo, com a queda de aproximadamente 30% nos preços das carnes refletindo a redução das cotações da soja e do milho em 2023.

Eventual aumento das cotações pode demorar um pouquinho para chegar ao bolso dos consumidores, mas deve ocorrer ainda no primeiro semestre de 2024. Como alertou o governador, é hora de apertar os cintos para enfrentar a turbulência.

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