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Economia Quinta-feira, 02 de Julho de 2020, 08:38 - A | A

Quinta-feira, 02 de Julho de 2020, 08h:38 - A | A

PARALISAÇÃO

Direitos trabalhistas são debatidos por entregadores

Priscilla Silva

Obrigados a cumprirem longas jornadas de trabalho, rodar o dobro de quilômetros por uma taxa mínima, sem direito a auxílio saúde ou seguro acidente e roubo, os entregadores de aplicativos se organizaram – por meio das redes sociais – e foram às ruas nessa quarta-feira (1), para reivindicar direitos trabalhistas.

A mobilização dos entregadores de aplicativos, que ocorreu nas principais capitais do país, colocou em pauta o debate sobre a popularização desse ‘novo’ modelo de trabalho.

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Para entender melhor essa estrutura conhecida como ‘uberização do trabalho’, a professora Alair Silveira, mestre em Sociologia Política e doutora em Integração da América Latina, explica de forma didática qual é a dinâmica por trás desse modelo.

Estadão Mato Grosso: O que é a ‘uberização do trabalho’?

Alair Silveira.: De forma sintética, é a precarização sedutora do trabalho desprotegido. A uberização tem sua origem na concepção da ‘economia do compartilhamento’ ou, na acepção de alguns, no “capitalismo compartilhado”. Se na origem a ideia de compartilhamento pressupunha uma espécie de troca entre indivíduos, a “uberização” não somente transformou o compartilhamento em fonte de lucro empresarial como institucionalizou a relação entre trabalhadores e patrões como relações entre “parceiros”.

Estadão Mato Grosso: Como se dá essa parceria?
Alair Silveira.: O trabalhador entra com a força de trabalho e com os instrumentos de trabalho. “Elevado” à condição de parceiro, este trabalhador arca com todas as exigências para a realização do trabalho: veículo, seguro, combustível, alimentação, recursos necessários à utilização do aplicativo, manutenção dos instrumentos etc. Ao mesmo tempo, é desprovido de qualquer rede de proteção ao trabalho. Para manter a “parceria”, precisa, ainda, repassar em torno de 25% de cada corrida, além de sujeitar-se à avaliação permanente da clientela, a partir da qual a empresa “parceira” arroga-se o direito de manter, suspender ou bloquear o “parceiro”.

Estadão Mato Grosso: Quais são os ganhos dessa relação?
Alair Silveira.: Para as empresas, essa forma precarizada de trabalho é extremamente atrativa – sem os custos de matéria-prima e de depreciação dos instrumentos de trabalho, assim como dos encargos trabalhistas. Trata-se, para as empresas, de um grande negócio!
Ao trabalhador resta a ilusão de que tem autonomia, podendo dispor do próprio tempo. Muitos são seduzidos pelo canto da sereia uberista, que lhes acena com “liberdade” e autonomia. Infelizmente, não percebem que a autonomia que detêm é a de escolher de que forma vão trabalhar mais horas por dia para manter um salário mínimo compatível com suas necessidades, quais riscos estão dispostos a correr, assim como a “liberdade” de manterem-se desprotegidos de direitos trabalhistas e sociais.

Estadão Mato Grosso: O que significa o início da mobilização de entregadores de aplicativos, neste momento pandêmico?
Alair Silveira.: É uma excelente iniciativa e um grande desafio. Primeiro porque irá provocar reflexões sobre esse tipo de trabalho precarizado, alertando para as condições em que jovens motociclistas, ciclistas e motoristas de aplicativos trabalham. Segundo porque nesses tempos de tanto egoísmo e intolerância, crise e pandemia, é um desafio insurgir-se. Mas é também nesses tempos que, talvez, possamos juntar forças não somente em solidariedade a esses trabalhadores, mas para resistir socialmente à precarização crescente das relações de trabalho.

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