O Índice de Confiança da Indústria brasileira apresentou queda de 3,6 pontos em novembro, chegando a 92,1 pontos, o menor índice desde julho de 2020. O dado foi divulgado pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre FGV) nessa segunda (28). Em Mato Grosso a queda de confiança foi muito maior, com recuo de 12,1 pontos, chegando a 47,2 pontos, conforme o Observatório da Indústria da Federação das Indústrias de MT (Fiemt).
No levantamento feito pelo Ibre, o índice de confiança vai de 0 a 200. Quando está abaixo de 100, significa que o empresário está mais cauteloso com os próximos meses na economia. Já no índice medido pelo Observatório da Indústria da Fiemt, ele vai até 100 e a linha divisória entre otimismo e pessimismo muda para os 50 pontos. Isso torna a queda de 12 pontos ainda mais significante para o cenário estadual.
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"É comum que em cenários incertos, como o atual, a confiança caia na proporção em que a incerteza aumenta. Com a definição em dezembro dos nomes que vão compor o novo governo e as sinalizações sobre que rumos a política econômica do Brasil vai tomar, o empresário terá cenários mais reais e deve ajustar seus planos à nova realidade”, pontua Gustavo de Oliveira, presidente do Sistema Fiemt.
Pedro Máximo, gerente de Economia da Fiemt, explica ao Estadão Mato Grosso que o índice não está muito atrelado a questões de produção, mas tenta mostrar como empresário está percebendo o cenário econômico para os próximos seis meses. Como o setor industrial de Mato Grosso, em sua maioria, apoiou o presidente derrotado nas urnas, Jair Bolsonaro (PL), é natural a queda na confiança.
“Isso, de certa forma, traz um cenário de incertezas e essas incertezas acabam reduzindo a confiança do empresário”, afirma Máximo. “O [novo] governo ainda não definiu o ministro da Economia, não definiu se vai respeitar ou não o teto de gastos e, se não respeitar, como vai fazer a condução da política. Isso gera uma incerteza e é natural que o índice caia”, completa.
Além do fator ‘novo governo’, ainda há outros cenários que influenciam nesse resultado negativo, aponta o economista Vivaldo Lopes. Entre eles está a taxa Selic alta, em 13,75%, o elevado nível endividamento das famílias brasileiras, além do aumento dos custos industriais, que dispararam durante a pandemia e a guerra entre Rússia e Ucrânia.
“O mercado está com um ‘pé atrás’ com relação às perspectivas futuras”, sentencia Vivaldo, que cita como primeira razão a incerteza sobre quem vai comandar a Economia durante o governo Lula.
“Segundo é a perspectiva que, no ano que vem, a gente ainda vai ter uma taxa de juros com dois dígitos, que vai começar em 13,75% e terminar o ano em 10,5%, o que inibe investimentos e o consumo. O terceiro fator são os custos dos insumos industriais, que subiram muito”, completa o economista da VLopes Econômica.
A leitura do economista é que o setor não vai conseguir repassar os aumentos de preços aos consumidores, já que, segundo a Serasa, o Brasil tem mais de 69 milhões de pessoas endividadas. Portanto, o cenário de juros altos, inflação ainda alta e mais endividamento deve levar a uma redução do consumo no curto prazo.
“Esse é o maior índice de endividamento da história, desde que isso é pesquisado no Brasil. Quer dizer: alto endividamento, custos elevados, taxa de juros elevada, crescimento baixo, é sinal de menor consumo por parte da indústria. Então, é um sinal que não é tão animador para o ano que vem”, conclui Vivaldo Lopes.
COMÉRCIO PESSIMISTA
O Ibre FGV também divulgou os índices do setor do comércio e serviços em todo Brasil, com dados que não são animadores. A confiança do setor do Comércio teve queda de 10,8 pontos, chegando a 87,2 pontos na escala de 0 a 200. Já o setor de Serviços teve queda menor, mas significativa, de 5,4 pontos, voltando para os 93,7 pontos.
Para o Ibre, a redução da atividade econômica no final do ano era esperada, mas piorou além do estimado
“Apesar do término do período eleitoral, fatores políticos passaram a ser muito citados como limitadores à melhoria dos negócios nos próximos meses, o que eleva a incerteza do cenário no curto prazo e um ambiente macroeconômico delicado em 2023”, avaliou o economista do Ibre FGV, Rodolpho Tobler.