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Cidades Domingo, 12 de Maio de 2024, 07:36 - A | A

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ESPECIAL DIA DAS MÃES

Separados por barras de ferro: Mãe conta os desafios de ficar presa e longe dos filhos

Mariane, hoje em prisão domiciliar, engravidou enquanto cumpria pena

Bruna Cardoso

Repórter | Estadão Mato Grosso

Igor Guilherme

Repórter | Estadão Mato Grosso

Dizem que para uma mãe, nenhum sacrifício é demais por seus filhos. Contudo, alguns sacrifícios podem cobrar um preço alto. Esse é o caso de Mariane Carolina, de 36 anos, condenada a 21 anos por tráfico de drogas. Natural de Vilhena, em Rondônia, a mulher já era mãe de três filhos quando foi presa pela primeira vez. Dois anos após sua segunda condenação, Mariane cumpre pena em prisão domiciliar, cuidando da sua quarta filha, enquanto enfrenta o desafio da ressocialização.

Em uma entrevista especial para o Dia das Mães, Mariane conversou com o Estadão Mato Grosso e dividiu sua história. Segundo ela, sua prisão se deu por causa de seu ex-marido, que era traficante. Após deixar a cadeia, ela abriu um salão de beleza, com o objetivo de reconstruir sua vida. Porém, com a chegada da pandemia, ela ficou sem clientela e decidiu voltar ao crime.

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“Na época da pandemia, eu tinha separado, estava sozinha, desempregada, não tinha de onde tirar o dinheiro. Eu tenho minha família, mas os gastos eram enormes. Eu tinha que pagar aluguel, então assim apareceu a oportunidade (de traficar) e como tinha conhecimento, acabei fazendo”, contou Mariane.

Como já era reincidente no crime, ela acabou na penitenciária Ana Maria do Couto, em Cuiabá. Lá, permaneceu detida durante dois dos 21 anos de condenação, trabalhando durante sete meses e evitando qualquer contato com os filhos ou com a família. Segundo Mariane, por opção própria, porque não queria ser vista naquela situação. “A maior dor de uma mulher lá dentro é ficar longe dos filhos”, disse ao se lembrar da época de reclusão.

Remissão de pena dentro da prisão, ao invés de ficar em um raio de convívio, Mariane optou para ficar no raio de trabalho, tentando acelerar a remissão da pena com os trabalhos dentro e fora da penitenciária. O objetivo era claro: Mariane queria voltar para seus filhos. Assim, por dois anos e dez meses, em que ela ficou presa, seu contato com a família era muito pouco. Mas tudo mudou quando ela conseguiu o benefício das saídas aos finais de semana, o que permitiu que ela se reaproximasse dos filhos.

Além disso, Mariane também se encontrou com seu atual companheiro e acabou engravidando dele. A gestação foi descoberta no dia do seu aniversário. Com três meses de gravidez, Mariane conseguiu ganhar a chance de cumprir sua pena em prisão domiciliar. Sua filha, hoje com sete meses, está junto da mãe em casa, assim como seus outros três irmãos.

Mariane irá cumprir seis anos da pena ao lado da família. Nas palavras dela, o bom comportamento é essencial para que ela permaneça perto de sua família. Caso ela torne ao caminho do crime, Mariane voltaria para a penitenciária e a criança ficaria sob os cuidados de terceiros.

Gestação na prisão

Atualmente, Mariane tem “passe livre” apenas para consultas médicas e para ir ao Fórum. Contudo, a mesma sorte não se estende a todas as condenadas e algumas mães precisam, dependendo da gravidade dos seus crimes, permanecer toda a gestação dentro da cadeia, ficando com suas crianças na penitenciária até mesmo depois do parto, aguardando a liberação da Justiça.

Segundo informações obtidas pelo Estadão Mato Grosso, em 2023, Mato Grosso possuía sete gestantes em suas penitenciárias. De acordo com a Secretaria de Estado e Segurança Pública (Sesp) e a Secretaria Nacional de Políticas Penais Diretoria de Inteligência Penitenciária, além das sete gestantes, o estado possuía três lactantes, ou seja, três reeducandas que estavam amamentando.

Na estrutura, Mato Grosso conta com dois dormitórios com cerca de 14 espaços cada para recém-nascidos de mães detentas. O estado contava, em 2023, com três crianças de apenas três meses nesses dormitórios.

Reconstruindo a vida

Hoje em dia, Mariane trabalha vendendo roupas em casa. Ela conta que ensina seus filhos a não trilharem o mesmo caminho que ela. “A única coisa que falta é eu poder sair, né?! Ser livre de verdade porque querendo ou não, eu ainda estou presa em casa, mas melhor aqui do que lá”, finalizou.

Suporte do Estado 

Em nota, a Sesp afirmou que as detentas gestantes são remanejadas para duas unidades prisionais, com suporte médico à disposição.

“As gestantes dentro do sistema prisional são preferencialmente reclusas na Penitenciária Feminina Ana Maria do Couto May e na Cadeia Pública Feminina de Nortelândia. Elas recebem acompanhamento dos profissionais de saúde e assistência social das unidades penitenciárias e no caso de Nortelândia, na Unidade Básica de Saúde (UBS) de referência. Em situações de gestações de risco, o acompanhamento é realizado no Hospital Universitário Júlio Muller e no Hospital Santa Helena”, informou.

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