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Cidades Domingo, 27 de Agosto de 2023, 08:51 - A | A

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VIVENDO O SONHO

Mulheres misturam a paixão pelos números e pela arte para empreender

Bruna Cardoso

Repórter | Estadão Mato Grosso

Sábado, 12 de agosto, foi o dia Nacional das Artes, que homenageia todos os tipos de intervenções artísticas no Brasil. A data foi escolhida por ser o dia da fundação da Escola Real de Ciências, Artes e Ofícios, em 1816. Hoje a escola é chamada de Belas Artes e fica na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

A comemoração tem como objetivo promover e incentivar todas a expressões artísticas existentes no território brasileiro. O patrimônio cultural material e imaterial é assegurada pela Constituição da República Federativa do Brasil. As criações científicas e tecnológicas também são inclusas como intervenções artísticas a serem incentivadas e protegida pela população.

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Em homenagem à data, o Estadão Mato Grosso conversou com a artista Juliana Graziela, que mistura artes cênicas e Física para entreter crianças com peças teatrais. E também com a artista Jilaine Maria da Silva, que é administradora e bordadeira de redes na Comunidade do Limpo Grande, em Várzea Grande. As duas conseguiram conciliar suas habilidades e têm em comum o amor pela arte e pelos números.

Juliana conta que sua trajetória na arte iniciou no Ensino Médio, quando estudava teatro no lugar das aulas de Educação Física, em 2006. Ela conta que fez a aulas de teatro com o Sandro Lucosi, do Teatro Mosaico. Após se formar no Ensino Médio, Juliana continuou no teatro e formou um grupo teatral.

“Em 2009 a gente formou um grupo que era o Teatro de Brinquedo. Nele, eu trabalhava com teatro de bonecos, a gente fez uma montagem que é era a do Pequeno Príncipe, toda em bonecos.  Então, começamos a verificar essa linguagem do teatro de animação, que não é a atuação do ator, é, na verdade, a manipulação, a animação de bonecos”, conta a artista.

Durante toda a trajetória de Juliana, a paixão pela Física não foi deixada de lado. Ela se dividiu entre o teatro e as aulas de Física na faculdade. Após se formar em 2013, passou a dar aulas em escolas de Cuiabá, mas só se tornou a 'Artista Cientista' após um convite para fazer apresentações no Sesc Poconé.

“Uma conhecida que é responsável pela programação do Sesc Poconé, ela falou: 'Juliana, eu tenho um desafio para você. Eu quero que você faça uma contação de histórias, mas você pode fazer o que você quiser'. Aí eu decidi que estava na hora de eu falar uma coisa que eu quero, uma verdade minha. Como eu tinha formado em Física em 2013 e já tinha dado aulas bem nessa parte de fazer experimentos, resolvi que iria misturar tudo”, relembra a professora.

Desde a sua primeira apresentação em 2018, a Artista Cientista não parou mais. Juliana encontrou nas suas paixões um ponto de equilíbrio entre a Física e o Teatro.

A ARTE COMO LEGADO

Já a bordadeira Jilaine conta que aprendeu a sua primeira paixão com sua mãe, ainda criança, e aos 12 anos de idade já bordava na comunidade do Limpo Grande. A arte que ela ajuda a produzir é herança dos indígenas Guanás, da etnia Chané-Guaná, os primeiros habitantes do município.

Todo o caminho que Jilaine percorreu fez com que ela administrasse o projeto Tece Arte e continuasse perto das produções artísticas. Ela se formou em 2008 e passou a trabalhar em escritórios, mas largou tudo após ver sua mãe ser enganada com falsas promessas de ajuda no projeto.

"Cresci vendo minha mãe fazer isso [bordar]. Por conta de ela não ter acesso ao conhecimento e não ter uma associação [que a representasse], vi muitas pessoas indo lá prometer diversas coisas e nunca cumprir. Aí veio a necessidade de montar uma associação e ir atrás de melhorias para o grupo. Isso me motivou", relembra.

A FUSÃO DE SONHOS E PROFISSÕES

Juliana, a Artista Cientista, explica que desenvolve quatro personagens, que se apresentam de acordo com a idade de seu público. Todas as personagens recebem caracterizações diferentes e são feitas a partir da ação principal, que é a Artista Cientista.

“Eu tenho quatro ações com a Artista Cientista, que é uma mistura de ciência com teatro. A primeira ação chama “Litera-ciência”, que é a contação de histórias com experimentos de ciências.  A segunda é a apresentação “Show, não é mágica, é ciência”, no qual eu faço diversos experimentos de ciências, desde experimentos mais complicados até experimentos mais simples. E aí eu tenho uma outra ação que se chama “Surpresas Científicas”, que é uma oficina, no qual os participantes disponibilizam material para as crianças.  E por último, tem o quarto, que é a “Artista Cientista Itinerante”, onde eu vou nas praças e faço trabalho, paro e interajo com as pessoas e vou caminhando assim”, explica Juliana.

A artista conta que nunca imaginou que no futuro iria trabalhar com ciência e arte ao mesmo tempo. Ela diz que todas as escolhas feitas ao longo de sua trajetória fizeram com que ela se tornasse a Artista Cientista de hoje. 

Assim como Juliana, Jilaine também desenvolve várias funções no seu empreendimento. A administradora faz todas as partes da contabilidade do projeto, a assessoria de comunicação, representa a comunidade em eventos e ajuda mulheres a complementarem a renda mensal. Jilaine resolveu empreender na comunidade com as vendas das redes e hoje usa suas habilidades de administradora junto ao conhecimento artístico.

“Então, na verdade, eu saí do escritório de uma empresa e vim para a minha comunidade. Assim, além de cuidar da parte administrativa, eu dou todo o suporte para as meninas da associação, porque a gente é um coletivo. E a gente está caminhando. Hoje já faz quase dois anos que eu estou à frente do Tece Arte e, para mim, é muito gratificante poder ajudar essas mulheres que fazem parte da associação, aqui da nossa comunidade. Para mim, é um privilégio imenso poder contribuir com a cultura do nosso estado, da nossa cidade”, afirma Jilaine.

Viver da arte no início é desmotivador por não ter reconhecimento, mas é preciso ter persistência e otimismo. A redeira deixou um recado para todos os artistas que estão nessa dura luta pela sobrevivência da arte.

“Quando eu comecei à frente da associação, as meninas aqui da minha comunidade estavam desmotivadas, estavam desacreditadas, porque, infelizmente, não eram tão reconhecidas e valorizadas. Mas, para você que está nesse caminho de desmotivação, eu peço para que você persista, que seja otimista, que você busque os seus sonhos, que você corra atrás de tudo que você acredita, porque vale a pena, né? Por favor, não desista dos seus sonhos e continue. Continue firme, você vai conseguir”, finaliza a administradora.

Álbum de fotos

Arquivo pessoal

Arquivo pessoal

Gilberto Leite | Estadão Mato Grosso

Gilberto Leite | Estadão Mato Grosso

Gilberto Leite | Estadão Mato Grosso

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