Mês da Conscientização do Autismo, abril o período para incentivar o diagnóstico precoce do transtorno. A Organização Mundial da Saúde (OMS), em uma pesquisa de 2010, apontou que há 2 milhões de pessoas com autismo no Brasil, número este que pode ter dobrado ao longo dos anos. O Transtorno do Espectro Autista (TEA) pode causar alterações das funções do neurodesenvolvimento do indivíduo, interferindo na capacidade de comunicação, linguagem, interação social e comportamento. Com isso, muitas mães recorrem à equoterapia, que é uma terapia utilizando cavalos, para ajudar no desenvolvimento das crianças com TEA.
Para entendermos melhor sobre o assunto e as melhorias conquistadas com a equoterapia, conversamos com Taiane Caldeira do Amaral, fisioterapeuta que implementou a terapia com cavalos no Haras Twin Brothers, em 2010. Ela trabalha há 20 anos com equoterapia e contou que muitas crianças chegaram no projeto com medo dos animais e que hoje já participam de competições.
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“A gente faz a fase de aproximação e vínculo, então algumas crianças chegam realmente com medo, com insegurança. Tem algumas, às vezes que nem inicia a primeira sessão montada, pode ser em solo, para trabalhar toda essa aproximação, esse vínculo, e aí conforme eles vão evoluindo, a gente vai dando essa autonomia para eles. Então, hoje a gente já tem crianças que foram para os 3 tambores [prova de habilidade e velocidade com cavalos], a gente tem criança que participa já de prova de hipismo clássico. Então é um trabalho em que cada criança tem o seu tempo de evolução, então vai depender também de qual é o objetivo específico de cada uma”, disse.
O objetivo final do tratamento com cavalos é ajudar na autonomia das crianças. Taiane relata que muitas crianças chegam com problemas na fala ou motora e com o tempo, após a equoterapia, conseguem se desenvolver com rapidez, pois o convívio com os cavalos gera uma resposta muito rápida no tratamento. No haras, as crianças fazem outras atividades além da montaria, elas alimentam, dão banho, fazem pinturas nos animais e ajudam a selar. Todas essas atividades ajudam no sensorial, na coordenação motora e também na interação com os cavalos.
Taiane deixa claro que cada criança possui o seu tempo de vencer o medo e as barreiras até montar ou se aproximar do animal. Além disso, o tratamento apesar de ser rápido e eficaz também depende do tempo da criança, pois não há um estereótipo no autismo, cada criança reage de uma maneira diferente durante o tratamento.
“Cada criança tem o seu tempo para vencer. Eu já tive crianças que demorou até 3 meses para montar, mas é um trabalho como se fosse de formiga mesmo. E depois que consegue vencer e que já está montando, aí a criança começa a tocar nos gatos, começa a tocar no cachorro, porque começa a ver que o animal, por mais que ele faça barulho, por mais que ele se movimente, ele gera vínculo”, explicou.
Hoje o Haras Twin Brothers recebe 255 crianças em parceria com o Governo do Estado de Mato Grosso, 203 pela Secretaria Municipal de Educação e 165 pela Secretaria de Assistência Social. Essas crianças recebem todo o atendimento gratuitamente por estarem inseridas nos programas sociais atendidas pelo governo e no CadÚnico. O haras também recebe crianças que não sejam atendidas pelos programas sociais.
Um dos atendidos pelo projeto, através da prefeitura, é Abdiel Vicente, de 4 anos, que vai acompanhado da mãe Loliane Oliveira. Ela contou que ele começou há 1 ano e já está evoluindo bastante com a equoterapia. Loliane disse que o filho tinha dificuldades em andar e falar.
“Era uma criança que caia bastante, parecia que não tinha o controle do corpo. Hoje é uma criança tranquila. A maior dificuldade do Abdiel era uma criança que não corria, era uma criança que não interagia com outras crianças, não, não brincava e só ficava sentado. Ele era muito ligado a telas, é, ele usava chupeta, ele parou de usar chupeta nesse meio tempo, conforme foi fazendo a terapia”, contou.
João Miguel, de 5 anos, também é atendido na equoterapia há 3 anos e desde então a mãe dele, Erica de Oliveira, contou que ele evoluiu muito. Erica contou que João não aceitava toques e nem correspondia quando era chamado, além disso, tinha muita sensibilidade com toques na região da cabeça, o que causava crises para cortar o cabelo.
“Ele foi diagnosticado com autismo aos 2 anos e 4 meses, ele não aceitava que pegasse na cabeça, cortasse o cabelo, ele não falava, ele não aceitava toque, ele não aceitava abraço, sujeira ou texturas, areia, essas coisas. Ele não aceitava. E hoje acho que já tem 3 anos de terapia, ele evoluiu muito. Hoje ele já fala, fala fluentemente, aceita cortar o cabelo sem mais, não tem mais crises. Aceita toque hoje ele que procura a gente para abraçar”, contou.
O tratamento contribui para que as crianças tenham dignidade e melhoria na qualidade de vida. O mês de abril conscientiza a população para o diagnóstico precoce para garantir que as crianças recebam o tratamento adequado e consiga desenvolver as habilidades. Além disso, o mês também traz conscientização de inclusão para a sociedade, já que os portadores do transtorno ainda são vítimas de preconceito.