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Brasil Terça-feira, 22 de Abril de 2025, 09:45 - A | A

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Médica denunciada por violência obstétrica cortou a bexiga da paciente achando ser o útero

g1

O Fantástico deste domingo (20) mostrou histórias de violência em partos realizados pela médica influencer Anna Beatriz Herief. Em um dos casos, a paciente Larissa Bastos Kaehler teve a bexiga cortada durante a cesárea de emergência, enquanto o útero estava intacto.

A obstetra teve o registro profissional suspenso pelo Conselho Regional de Medicina do Rio de Janeiro. Ela nega as acusações.

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O fato foi percebido pela equipe médica de emergência do hospital, acionada para assumir a cirurgia no lugar da doutora Anna Beatriz. A família contratou um perito médico, o obstetra Ivo Costa Júnior, para analisar o caso. No parecer, com base no prontuário e nas imagens do vídeo do parto, ele afirma que "Anna Beatriz achava realmente que tinha aberto o útero, tanto é que colocou imediatamente a mão dentro da incisão para retirar o feto".

Ele completa: "As imagens são surreais, retirado o feto por dentro da bexiga... algo nunca visto na obstetrícia".

A médica diz que sabia o que estava fazendo: "Eu transpassei a bexiga propositadamente porque se demorasse mais ou menos cinco minutos, ou mais, para que se rebaixasse a bexiga, antes de tirar o bebê e procurar o útero, era uma emergência fetal".

A gravidez de Larissa

Larissa teve uma gravidez de alto risco. Foi diagnosticada com pré-eclâmpsia, um tipo de hipertensão gestacional. O caso se tornou ainda mais grave porque o bebê também foi afetado.

Ao olhar as imagens do parto, Larissa notou que a obstetra e seus ajudantes mexiam no celular durante o procedimento.

"As pessoas estavam ali de corpo presente, mas ninguém estava olhando para mim", relata Larissa.
 
"O papel da equipe médica é muito técnico e passivo. Nós temos o papel de esperar, dar suporte quando necessário. De resto, francamente falando, não temos o que fazer", disse Anna Beatriz Herief ao Fantástico.

O trabalho de parto durou doze horas -- sem grande progresso nas últimas seis. A doutora Beatriz decidiu usar um aparelho para puxar o bebê, o vácuo-extrator.

O manual do aparelho e a literatura médica recomendam no máximo três tentativas de uso do vácuo-extrator. O prontuário do parto de Larissa mostra que as médicas tentaram sete vezes. "Eu não tentei sete vezes. Eu tentei três a quatro vezes, como dizem as diretrizes", diz a médica.

Só quando os batimentos cardíacos do bebê diminuíram, ela decidiu fazer a cesariana.

"Ele nasceu morto, eu percebi que alguma coisa tinha dado terrivelmente errado, porque eu vi as médicas gritando pedindo adrenalina, iniciar uma manobra para ressuscitar ele", conta Larissa.

Louie foi reanimado, mas depois de um nascimento tão traumático, o futuro do menino, que está com um ano, ainda é incerto. Isso porque a falta de oxigenação no momento do parto pode ter causado danos cerebrais que ainda não foram totalmente identificados.

Consequências das denúncias

No ano passado, o Conselho Regional de Medicina do Rio de Janeiro suspendeu a médica por seis meses. A interdição foi renovada na última terça-feira por mais seis meses, enquanto o processo de cassação do registro continua.
 
A advogada Roberta Milanez, que defende as vítimas, diz que quer a reparação por danos morais e materiais.

A defesa da médica negou as acusações. "Não há que se falar em nenhum aspecto de negligência e imprudência em perícia que possa eventualmente configurar qualquer descuido por parte da doutora em relação aos partos que ela conduziu profissionalmente", afirma Matheus Chiocheta, advogado da dra. Beatriz.

A Federação Nacional das Associações de Ginecologia e Obstetrícia enfatiza que o parto normal é o mais seguro e o mais recomendado na grande maioria dos casos.


 

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