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Brasil Sábado, 17 de Fevereiro de 2024, 08:05 - A | A

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PRODUÇÃO DE CRACK

Justiça aceita denúncia e torna réu Renato Cariani por tráfico de drogas

g1

A Justiça de Diadema, no ABC Paulista, acolheu a denúncia apresentada pelo Ministério Público de São Paulo e tornou réu o influenciador fitness Renato Cariani por suspeita de tráfico de drogas. Além dele, outras quatro pessoas também foram denunciadas pelo crime: Roseli Dorth, Fabio Spinola Mota, Andreia Domingues Ferreira e Rodrigo Gomes Pereira.

Cariani é acusado pela Polícia Federal de usar uma empresa para falsificar notas fiscais de vendas de produtos para multinacionais farmacêuticas. Mas os insumos não iam para essas empresas. Eles eram desviados para a fabricação de cocaína e crack, drogas que, de acordo com a investigação, abasteciam uma rede criminosa de tráfico internacional comandada por facções criminosas, como o Primeiro Comando da Capital (PCC).

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Renato tem mais de 7 milhões de seguidores no Instagram e é sócio com Roseli da Anidrol Produtos para Laboratórios Ltda. , empresa para venda de produtos químicos em Diadema, Grande São Paulo. Segundo a PF, eles teriam conhecimento e participavam diretamente do esquema criminoso. A investigação informa ter provas do envolvimento deles a partir de interceptações telefônicas feitas com autorização judicial de conversas e trocas de mensagens.

Segundo o MP, os réus, "pelo menos sessenta vezes, produziram, venderam e forneceram, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar, mais de doze toneladas de produtos químicos destinados à preparação de drogas".

Também teriam dissimulado "os valores provenientes dos crimes de tráfico de drogas acima noticiados, por meio de depósitos em espécie realizados por interpostas pessoas, convertendo em ativo lícito o montante aproximado de R$ 2.407.216,00".

A decisão do TJ dá prazo de dez dias para os réus apresentarem suas defesas. Como medida cautelar, ficou estabelecido que todos os cinco devem entregar os passaportes em 24 horas e estão proibidos de sair do país.

A defesa do influencer informou, em nota, que "as acusações contra Renato Cariani são, para além de inconsistentes, desprovidas de qualquer sentido lógico. Não faz qualquer sentido lógico considerar que 2 estabelecidos executivos do setor químico, após dedicarem uma vida inteira de trabalho à empresa, aventurar-se-iam no submundo do tráfico de drogas para dividirem, com mais de uma dezena de pessoas, um suposto lucro de 1.5 milhões de reais, enquanto essa mesma empresa faturou 130 milhões de reais no mesmo período".

"Assim como não faz qualquer sentido lógico considerar que uma empresa clandestina, criada para fornecer produtos controlados para o crime organizado, venderia produtos com rótulo original, embalagem original, prazo de validade e número de série, como os veiculados pela mídia no dia da busca e apreensão", segue o comunicado.

E finaliza: "Juntamos aos autos mais de uma centena de documentos que comprovam que meu cliente jamais praticou qualquer conduta ilícita, e isso agora será compartilhado com todos, com o levantamento do sigilo do processo.

Ainda que o recebimento da denúncia não fosse esperado pela defesa, uma vez que inexistem indícios de autoria e prova da materialidade delitiva em relação a Renato Cariani, tenho a confiança de que, ao final, a Justiça irá reconhecer sua inocência".

Em nota, a defesa de Roseli informou que "essa é, sem sombra de dúvidas, uma das investigações mais abusivas que já presenciei em minha vida profissional. O Ministério Público e a Polícia Federal se recusaram, apesar dos vários pedidos que formulei e apesar da gravidade das acusações que fazem, a ouvir a Sra. Roseli Dorth".

"Pedimos muitas vezes para prestar depoimento e nossos pedidos foram negados: por quê? MP e Polícia ignoraram 120 documentos apresentados pela defesa, que deixam clara a verdade dos fatos. Ignoraram que a quantidade de notas fiscais que são investigadas corresponde a 1 milésimo das notas fiscais emitidas pela empresa no período. Ignoraram a total falta de consistência lógica da narrativa que forjaram: uma empresa com 42 anos de existência, mais de 800 clientes, se envolveria com tráfico, para aumentar em 1 milésimo de suas operações?", questiona.

E emenda: "São dados objetivos. Matemáticos. A narrativa acusatória é gravemente equivocada. Mas a Polícia Federal e o Ministério Público escolheram desprezar os consistentes esclarecimentos e documentos apresentados pela defesa. O recebimento da denúncia pela Justiça abrirá espaço para que nossos esclarecimentos sejam, de fato, ouvidos: o Poder Judiciário os ouvirá Roseli Dorth, após o MP e a Polícia terem se negado, de forma absurda, a fazê-lo. Temos confiança de que, com a instrução processual, o Poder Judiciário reconhecerá que ela foi, inequivocamente, vítima de uma enorme injustiça".

Inquérito

No fim de janeiro deste ano, após dez meses de investigações, a Polícia Federal (PF) de São Paulo concluiu o inquérito contra o influenciador por suspeita de desvio de produtos químicos para a produção de toneladas de drogas para o narcotráfico.

O relatório final terminou com o indiciamento dele e de mais dois amigos pelos crimes de tráfico equiparado, associação para tráfico de drogas e lavagem de dinheiro.

A investigação não pediu as prisões dos três indiciados. Todos respondem em liberdade. A conclusão da PF foi encaminhada para o Ministério Público Federal (MPF), que poderá ou não denunciar o grupo pelos crimes. Caberá depois à Justiça Federal decidir se o trio deverá ser julgado pelas eventuais acusações. Caso sejam condenados, poderão ser presos.

A TV Globo e o g1 contataram a defesa do influencer, que, por meio de nota, afirmou que "o indiciamento ocorreu de forma precipitada, há mais de 40 dias, antes mesmo de Renato ter tido a oportunidade de prestar esclarecimentos".

A defesa de Roseli Dorth, sócia do Cariani, também afirmou que "as conclusões da Polícia Federal são gravemente equivocadas"(veja mais abaixo). O g1 tenta contato com Fábio Spinola Mota.

Como funcionava esquema

Fabio é apontado pela investigação como responsável por esquematizar o repasse dos insumos entre a Anidrol e o tráfico. Segundo a PF, ele criou um falso e-mail em nome de um suposto funcionário de uma multinacional para conseguir dar continuidade ao plano criminoso. Antes, ele já tinha sido investigado pela polícia por tráfico de drogas em Minas Gerais e no Paraná.

De acordo com a Polícia Federal, parte do material adquirido legalmente pela Anidrol foi desviada para a produção de entorpecentes entre 2014 e 2021. Para justificar a saída dos produtos, a empresa emitiu cerca de 60 notas fiscais falsas e fez depósitos em nome de "laranjas", usando irregularmente os nomes da AstraZeneca, LBS Laborasa e outra empresa.

A investigação apontou que em seis anos foram desviadas cerca de 12 toneladas de acetona, ácido clorídrico, cloridrato de lidocaína, éter etílico, fenacetina e manitol, substâncias usadas por criminosos para transformar a pasta base de cocaína em pó e em pedras de crack.

O que diz o influenciador

A defesa do Renato Cariani disse nesta terça-feira (30), por meio de nota, que "o indiciamento ocorreu de forma precipitada, há mais de 40 dias, antes mesmo de Renato ter tido a oportunidade de prestar esclarecimentos".

"De igual forma, as conclusões da Autoridade Policial expostas no relatório são equivocadas, e vêm sendo contraditadas no curso do procedimento. Apresentamos ao juízo dezenas de documentos que comprovam que Renato jamais participou de qualquer atividade ilícita, e temos a certeza de que sua inocência será reconhecida pela justiça", afirmou.

Em 2023, a reportagem recebeu uma nota da defesa de Renato informando que o influenciador "respondeu a todas as perguntas que lhe foram feitas" e que "seu indiciamento foi realizado antes do início de seu depoimento".

Em vídeo publicado nas redes sociais, o influenciador negou envolvimento no esquema. Ele disse que foi surpreendido pela operação da PF e afirmou que seus advogados ainda não tiveram acesso ao processo.

"Fui surpreendido com um mandado de busca e apreensão da polícia na minha casa, onde eu fui informado que não só a minha empresa, mas várias empresas estão sendo investigadas num processo que eu não sei, porque ele corre em 'processo de justiça' [sic]. Então, meus advogados agora vão dar entrada pedindo para ver esse processo e, aí sim, eu vou entender o que consta nessa investigação", afirmou Renato.

Na mensagem, ele defende a empresa Anidrol da qual é sócio.

"Eu sofri busca e apreensão porque eu sou um dos sócios, então, todos os sócios sofreram busca e e apreensão. Essa empresa, uma das empresas que eu sou sócio, está sofrendo a investigação, ela foi fundada em 1981. Então, tem mais de 40 anos de história. É uma empresa linda, onde a minha sócia, com 71 anos de idade, é a grande administradora, a grande gestora da empresa, é quem conduz a empresa, uma empresa com sede própria, que tem todas as licenças, tem todas as certificações nacionais e internacionais. Uma empresa que trabalha toda regulada. Então, para mim, para a minha sócia, para todas as pessoas, foi uma surpresa", completou.

O que diz a defesa de Roseli Dorth

Por meio de nota, os advogados de Roseli Dorth também afirmaram nesta terça (30) que "as conclusões da Polícia Federal são gravemente equivocadas".

"A defesa de Roseli Dorth apresentou ao Ministério Público uma petição, acompanhada mais de mais 100 documentos, que comprovam a sua total desvinculação dos fatos apurados: Roseli Dorth não tem qualquer envolvimento com a prática dos crimes apurados", disse a nota.

"A investigação está pautada em premissas falsas, que não encontram o mínimo suporte da realidade dos fatos. Temos confiança de que a Justiça reconhecerá que são totalmente descabidas e infundadas as conclusões - fruto de inadmissíveis presunções - da Polícia Federal", completou.

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