Em ‘Mania de Você’, o personagem Mavi, interpretado por Chay Suede, é o exemplo fiel de uma pessoa manipuladora. No decorrer do folhetim, Mavi se revela ambicioso e sem escrúpulos, capaz de qualquer atrocidade para atingir seus objetivos.
Um estudo publicado no Behavior Research Methods mostra como as pessoas podem ser vulneráveis a manipulações, especialmente em contextos sociais e digitais, e raramente percebem que estão sendo influenciadas ou controladas.
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Segundo o psiquiatra Adiel Rios, mestre pela UNIFESP, membro titular da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), e da Comissão de Psiquiatria Intervencionista da ABP; entre as formas de manipulação mais comuns estão o uso da culpa, da insegurança e da vitimização.
“Manipuladores exploram emoções primárias como medo, raiva ou compaixão, principalmente entre pessoas mais empáticas ou inseguras”, explica o pesquisador do Laboratório Interdisciplinar de Neurociências Clínicas da UNIFESP.
Reconhecer essas estratégias é o primeiro passo para se proteger de seus efeitos. Confira 7 comportamentos de manipulação elencados pelos especialistas:
Provocar sentimento de culpa: segundo Deborah Klajnman, mestre e doutora em Psicanálise pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), quando somos julgados por algo que não deveríamos carregar, caímos na armadilha da culpa.
“Essa manobra nos leva a agir em benefício dos manipuladores, acreditando que, ao ceder, estamos aliviando o desconforto emocional”, diz a pós-doutoranda em Psicologia pela USP e especialista em Clínica Psicanalítica pelo Instituto de Psiquiatria da UFRJ.
Para Maico Costa, mestre e doutor em Psicologia e Sociedade pela Universidade Estadual Paulista (UNESP), e pós-doutor em Psicologia pela USP; a culpa leva a pessoa a tentar corrigir situações fora de seu controle, criando um ciclo de autojulgamento e dependência emocional. “Manipuladores aproveitam essa vulnerabilidade, fazendo a vítima se sentir sempre em dívida e em busca de validação”, completa o professor do Instituto de Ensino e Pesquisa do Hospital Albert Einstein.
Aproveitar-se da insegurança alheia: quando alguém identifica suas vulnerabilidades, cria-se um terreno fértil para a manipulação. “O manipulador utiliza críticas, sarcasmo ou desqualificações para explorar a insegurança da vítima, fazendo-a duvidar de si mesma e tornando-a mais vulnerável ao seu controle”, frisa Deborah Klajnman, que também é pesquisadora da USP e professora da Faculdade Sírio-Libanês.
Vitimizar-se para despertar compaixão: algumas pessoas adotam o papel de vítimas utilizando narrativas de sofrimento ou fraqueza para atrair a compaixão. Essa postura é uma ferramenta eficaz de manipulação, pois apela diretamente para a empatia, segundo Adiel Rios.
“Esse comportamento pode refletir dificuldades em lidar com o próprio sofrimento e um desejo de transferir a responsabilidade emocional, sendo, às vezes, uma tática inconsciente ou deliberada para obter atenção e controle”, complementa o psiquiatra.
Elogiar por interesse próprio: a bajulação pode ser usada como uma estratégia para enfraquecer as defesas da vítima, tornando-a mais vulnerável à manipulação. “O indivíduo usa essa técnica para ganhar confiança. Sem que o alvo perceba a verdadeira intenção por trás dos elogios, ele acaba cedendo, porque sente que deve retribuir o ‘carinho’”, diz Maico Costa.
Isolar você dos outros: o manipulador busca afastar a pessoa de suas redes de apoio de maneira sutil, fazendo-a sentir-se dependente dele para orientação e suporte emocional. “Com o tempo, a pessoa isolada perde o senso crítico e se torna mais suscetível a acreditar nas narrativas do manipulador, aceitando-as sem muita resistência”, conta Klajnman.
Gerar discórdia para ganhar controle: algumas pessoas criam conflitos em situações triviais. Ao fomentar tumultos, elas fazem com que os outros sintam que precisam pisar em "ovos" para evitar novos confrontos. Esse comportamento confere poder e controle, pois quem está ao redor acaba cedendo na tentativa de manter a paz e evitar mais tensões.
“Esse tipo de manipulação é eficaz porque provoca um ciclo de ansiedade nas pessoas que convivem com o manipulador, cuja tensão assegura esforços contínuos para agradá-lo ou evitar confrontos. Esse cenário reforça seu poder sobre elas”, relata Adiel Rios.
Fingir ignorância: há manipuladores que adotam uma postura de aparente ignorância ou inaptidão para evitar responsabilidades. Ao se fazerem de desentendidos ou incapazes, eles delegam tarefas complexas a outras pessoas, mantendo-se distantes dos resultados e isentos de quaisquer consequências.
“Esse comportamento pode se manifestar em pessoas que têm um medo intenso de serem responsabilizadas por falhas ou resultados negativos. Ao fingirem ignorância, conseguem manipular as expectativas das vítimas, exercendo um controle indireto", conclui Maico Costa.
Comportamentos manipuladores têm relação com transtornos mentais?
Embora o risco de violência física e manipulação seja maior na população sem transtorno mental, a manipulação não está totalmente isolada do ponto de vista psiquiátrico. Um estudo publicado no Journal of Family Violence explora a relação entre traços de personalidade, como psicopatia, narcisismo e sadismo, como preditores significativos da manipulação que muitas vezes, deixa as vítimas desorientadas e emocionalmente abaladas.
“Esse comportamento é mais comum em pessoas com transtornos de personalidade, como borderline, narcisista e antissocial. O indivíduo pode apresentar condutas impulsivas, agressivas ou friamente calculadas, apenas em benefício próprio”, pontua Adiel.
Caminhos para se livrar da manipulação
Segundo Maico Costa, de fora, pode parecer fácil reconhecer um manipulador. Mas, quando a relação, seja ela qual for, envolve sentimentos como carinho, admiração e respeito, essa percepção se torna mais frágil.
“Observe comportamentos recorrentes como chantagem emocional, inversão de culpa e desvalorização pessoal. Confie na sua intuição e, se preciso, busque ajuda profissional para validar sua percepção da realidade e fortalecer sua capacidade de distinguir manipulações inconscientes e maliciosas”, finaliza Maico Costa.