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Saúde e Bem Estar Segunda-feira, 18 de Setembro de 2023, 17:44 - A | A

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ENTENDA

Ancestralidade pode ser fator de risco para o câncer de mama?

g1

Um estudo realizado de maneira inédita no Brasil analisou a ancestralidade de mulheres com câncer de mama. A pesquisa, publicada na revista científica Clinical Breast Cancer, foi conduzida por pesquisadores do Hospital de Amor, em Barretos (SP).

Cerca de 1 mil pacientes de diferentes regiões do país participaram. Durante as análises, constatou-se que a maioria dos voluntários que apresentaram tipos mais agressivos da doença era de ancestralidade africana e moradores do Norte e Nordeste.

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O g1 conversou com Ana Carolina Laus, pesquisadora e biologista do Centro de Pesquisa em Oncologia Molecular do Hospital de Amor, e Idam de Oliveira, mastologista do hospital, para entender as conclusões do estudo. Veja abaixo perguntas e respostas:

Por que o estudo é inédito? Segundo a pesquisadora, o ineditismo está no fato de a pesquisa ter usado, especificamente, características genéticas da população brasileira.

"O que a gente analisa são características genéticas que nos mostram origens europeia, africana, asiática e, especialmente, a origem dos índios brasileiros, diferentemente de outras análises que foram feitas. Do ponto de vista molecular, esse é o grande ineditismo."

Há maior risco entre pacientes de origem africana? Dentre as mulheres com ancestralidade africana analisadas, 43,7% possuíam o subtipo HER-2 positivo e 42,2%, o triplo-negativo, duas das formas mais agressivas do câncer. As pacientes eram, em maioria, das regiões Norte e Nordeste.

Já a ancestralidade europeia foi mais frequentemente associada ao tumor luminal HER-2 negativo (36,3%), de mais fácil tratamento, e encontrada no Sul e Sudeste.

Apesar das estatísticas, os pesquisadores enfatizam que a ancestralidade em si não pode ser vista como causa dos tumores mais agressivos, já que, ao menos até o momento, nenhuma relação entre a genética das pacientes e a gravidade do câncer foi confirmada.

"O estudo mostra que, na ancestralidade africana, temos uma taxa maior de pacientes com tumores agressivos. Por exemplo, se você for hoje à África, essa incidência também é um pouco mais elevada em relação a outros países. A gente não pode falar da ancestralidade como fator causal", destaca Oliveira.

"A gente não trabalhou com pacientes sem câncer. Então a ancestralidade foi uma questão que a gente observou dentro desse grupo, mas não é um fator causal, não causa o câncer e não aumenta o risco", pontua Laus.

O que fazer diante dos resultados? Além da importância das mamografias regulares, o mastologista cita que os resultados podem nortear gestores de saúde pública na hora de definir ações específicas de prevenção às mulheres de ancestralidade africana.

"Um auxílio a mais para políticas de saúde pública, porque são tumores mais agressivos e que precisam de um manejo mais adequado. Não que a população de ancestralidade africana tenha que entrar em desespero, mas individualizar essa população é importante."

Como se tratar? Ainda que mais difíceis de serem tratados, os cânceres HER-2 positivo e triplo-negativo não são incuráveis, ressalta Oliveira.

"Temos diversas drogas chamadas terapia-alvo, que atuam de forma específica. Já evoluímos muito. Nem todas as drogas estão disponíveis para o SUS. São tumores mais agressivos, de difícil manejo, porém não significa que são intratáveis."

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Quais são os próximos passos do estudo? Os pesquisadores agora querem investir em novas frentes no estudo para descobrir, por exemplo, melhores formas de tratamento e prevenção.

"Ampliar esse estudo, incluir mais pacientes das regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, acompanhar esses pacientes, entender um pouco da história clínica. São informações importantes que a gente tem como próximos passos para agregar mais informações a esses dados preliminares", explica a biologista.

"Do ponto de vista clínico, é ver a associação entre a ancestralidade e a sobrevida dessas pacientes, relacionando com o tipo de tratamento. Será que a ancestralidade influencia diretamente em uma sobrevida da mulher? Qual a melhor estratégia para atuarmos em prevenção?", indaga o mastologista.

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