Dollar R$ 5,66 Euro R$ 6,09
Dollar R$ 5,66 Euro R$ 6,09

Sabores Sábado, 08 de Abril de 2023, 17:14 - A | A

Sábado, 08 de Abril de 2023, 17h:14 - A | A

DEGUSTANDO A HISTÓRIA

Confeitaria resgata sabores clássicos da cultura cuiabana

Cuiabaneria apresenta bolos com sabores regionais e surpreende o mais exigente paladar

Tarley Carvalho

Editor-adjunto

Gilberto Leite | Estadão Mato Grosso

CUIABANERIA (30).jpg

 

- FIQUE ATUALIZADO: Entre em nosso grupo do WhatsApp e receba informações em tempo real (clique aqui)

- FIQUE ATUALIZADO: Participe do nosso grupo no Telegram e fique sempre informado (clique aqui)

Você está sentado à mesa e leva um pedaço de torta à boca. Em um segundo, o cenário se desfaz e de repente você volta a ser uma criança, ao lado de sua avó, que te olha sorrindo. A lembrança é tão vivida que você pode sentir até o doce cheiro de sua pele enrugada. A experiência trazida pela memória gustativa te faz reviver, anos depois, aquele momento único, repleto de amor e de pureza.

Essa é uma das propostas da Cuiabaneria, confeitaria cuiabana assinada por Kelle Fernandes. Com um cardápio tipicamente regional, ela resgata sabores da infância cuiabana e surpreende o paladar dos "pau-rodados" que por aqui estão.

Seu carro-chefe é composto por três sabores: doce de caju, furrundu e piché. Em sua cozinha, Kelle usa e abusa da criatividade para criar novos pratos com os elementos cuiabanos, mesclando a inovação e o tradicional.

A reportagem do Estadão Mato Grosso conheceu de perto – e provou – a produção da Cuiabaneria, que está lançando seu novo cardápio este mês, em comemoração ao aniversário de 304 anos de Cuiabá.

Os bolos produzidos pela confeitaria remetem a um sabor delicado, de tons suaves, que não invadem o paladar, mas que o surpreende ao ponto se tornar convidativo. O rigor da qualidade não está apenas nos recheios. A massa também é leve e suave, saborosa e no ponto ideal.

Mas o regionalismo não está presente só nos doces de Kelle. A confeiteira também pretende voltar a fazer empadas com sabores locais. Por enquanto são três sabores disponíveis: mojica de pintado, frango com pequi e milho com pequi.

Gilberto Leite | Estadão Mato Grosso

CUIABANERIA (15).jpg

 

Mais uma vez, o sabor surpreende. A reportagem provou a empada de mojica de pintado e, embora possa parecer repetitivo, a leveza da massa e do recheio entram em sintonia e juntas resgatam o prazer de se comer bem.

“O alimento tem todo esse papel de não só alimentar, mas de curar, de trazer memórias afetivas. Então eu tento colocar tudo isso dentro da minha cozinha”, explica.

Por enquanto, a Cuiabaneria atende por encomendas e pelo aplicativo iFood. Os pratos devem estar disponíveis a partir da semana que vem, já que as encomendas de Páscoa tomaram todo o tempo de sua cozinha.

As encomendas podem ser feitas pela página no Instagram e pelo telefone (65) 99229-8278.

A Cuiabaneria também aceita encomendas tradicionais, como bolos temáticos. Cada encomenda é exclusiva para o cliente, não havendo reprodução de modelos já existentes. No caso de a pessoa apresentar a imagem de algum bolo que tenha gostado, a confeiteira traz inovação para a encomenda.

Para comemorar o lançamento do cardápio, a confeitaria vai realizar o I Festival Cultural Cuiabaneria no próximo dia 29, a partir das 19h, na Casa das Pretas, situada na Praça da Mandioca. O evento vai contar com banda de rasqueado, grupo de Siriri de Santo Antônio do Leverger e muita comida típica.

INSPIRAÇÃO
Kelle Fernandes é cuiabana de “tchapa e cruz”, nascida e criada na capital. A cultura e o acolhimento cuiabano foram parte de seu desenvolvimento. Filha e neta de ribeirinhas, ela cresceu com a casa sempre cheia de gente, com visitas, amigos, tal qual regia a cultura da Cuiabá de antigamente.

Gilberto Leite | Estadão Mato Grosso

CUIABANERIA (8).jpg

Kelle Fernandes é a autora da Cuiabaneria, que resgata sabores tradicionais da culinária cuiabana

“É muito de família, muita conexão de ancestralidade mesmo. Minha família por parte de mãe é ribeirinha, ali de Santo Antônio do Leverger, minha avó sempre gostava muito de cozinhar para receber as pessoas, então, muito dessa coisa que há em mim de gostar de reunir as pessoas, de cozinhar para essas pessoas, vem dela”, explica.

Já seu pai é tocador de lambadão e rasqueado, trazendo a festividade, a dança e a alegria para sua realidade e desenvolvimento pessoal.

“Esses momentos trazem, além de uma memória afetiva muito forte, uma coisa que é aquilo do inexplicável. Aquela coisa da conexão, as cores, a dança... tudo isso é uma conexão que não se explica racionalmente, se sente”, compartilha.

À reportagem, ela conta que fazer questionamentos sobre si mesmo e sobre seus anseios ajudou a moldar sua identidade.

Esses laços inexplicáveis se tornaram mais evidentes durante a pandemia de covid-19, quando ela precisou se isolar de tudo isso que fazia parte de seu cotidiano, para se proteger. Conforme conta, a saudade de casa e de todo o costume fortaleceram ainda mais a necessidade de transformar a experiência de comer em algo memorável.

Esse processo pessoal deu origem ao nome Cuiabaneria, resultado da junção de “Cuiabá” com “confeitaria”. A partir daí, Kelle buscou aplicar ingredientes e frutas locais às técnicas clássicas de confeitaria.

Além de resgatar a cultura, as receitas também proporcionam o uso de frutas e ingredientes frescos, produzidos aqui na região. A escolha só traz ganhos, uma vez que esses produtos terão menos defensivos e conservantes.

“Eu tento fortalecer na Cuiabaneria essa conexão com o alimento mais natural, mostrar que esse alimento pode ser muito saboroso, muito gostoso e mais saudável. É uma opção de fugir de alimentos ultraprocessados, como a Nutella, que é riquíssima em açúcar e gorduras trans, e isso faz muito mal”, explicou.

PROCESSO
Empreender não é fácil e Kelle tem conhecimento sobre isso. Sua história com a confeitaria começa em 2008, quando iniciou o curso de Agronomia na Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT).

Já o desenvolvimento de uma marca própria começou em 2016, quando lançou a “Tá até Doce”, cujo nome também remetia ao cuiabanês. O projeto foi lançado em parceria com uma amiga, mas, quando a sociedade acabou, ela optou por não permanecer com o nome.

Em 2019, Kelle lançou a Cuiabaneria, ao mesmo tempo em que abriu um café. A dedicação simultânea a dois empreendimentos drenou suas energias. Mesmo assim, o caso contribuiu para seu amadurecimento e seu processo de focar apenas na Cuiabaneria.
O amadurecimento de sua caminhada contribuiu para ela apostar todas as suas fichas em sua confeitaria. Hoje, Kelle prepara seu cardápio e experimenta novos sabores, sempre mesclando ingredientes regionais em busca de inovar o cardápio.

Álbum de fotos

Gilberto Leite | Estadão Mato Grosso

Gilberto Leite | Estadão Mato Grosso

Gilberto Leite | Estadão Mato Grosso

Gilberto Leite | Estadão Mato Grosso

Gilberto Leite | Estadão Mato Grosso

Gilberto Leite | Estadão Mato Grosso

Gilberto Leite | Estadão Mato Grosso

Gilberto Leite | Estadão Mato Grosso

Gilberto Leite | Estadão Mato Grosso

Gilberto Leite | Estadão Mato Grosso

Gilberto Leite | Estadão Mato Grosso

Gilberto Leite | Estadão Mato Grosso

Gilberto Leite | Estadão Mato Grosso

search