Ao ver atônito um policial militar ser censurado por um magistrado com dedo em riste numa audiência, justo por cumprir seu dever, o mesmo silêncio que nele observei enquanto era repreendido, por que não humilhado, me é impossível agora.
Pois é inconcebível silenciar diante da absurda inversão de valores. Impossível não se indignar diante de palavras que me atingiram igualmente como a milhares de policiais que, neste instante, arriscam a vida Brasil afora em ocorrências como essa, onde drogas são apreendidas e vidas são poupadas do tráfico violento. Não custa então repetir o óbvio: ciente do crime e sua materialidade, é imperioso ao policial militar agir, lembrando a melhor doutrina, na repressão imediata.
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Separar trabalho policial investigativo e preventivo, como faz o magistrado, produzindo duas polícias estanques, oportuniza ao crime ampla possibilidade de ação, nem tanto pela burocrática competência das instituições no calor dos fatos, mas porque provoca um profundo efeito desmotivador na tropa, mais até, desmobilizador. Consciente da sinalização de possível prisão em flagrante, afinal quem colocaria sua farda e pão de cada dia em risco? Paga o cidadão pelo amordaçar dos bons.
Reflito que enquanto existirem posições que penalizem quem deveria ser reconhecido pelo mérito do seu trabalho e beneficiem quem deveria antes ser penalizado, a sociedade caminhará para um colapso ético. Pois vencida a lógica mais elementar que informa heróis e vilões em seus devidos polos de responsabilidade, estaremos prontos para sofrer efeitos desastrosos que já podem ser sentidos na crise de autoridade que vai de pais a professores em sala de aula, padres a pastores, políticos a magistrados. Tudo a reboque de pontuais, mas “pedagógicas”, inversões de valores como a vista na audiência em que aquele a ser respaldado foi do contrário questionado na essência da profissão, sendo recomendado inclusive a mudar de carreira.
Vendo esse pequeno vídeo pela enésima vez fico com dúvidas acerca de quem ali deveria mudar de carreira, ou pelo menos, de mentalidade.
*Alexandre Mendes é coronel PM e comandante-geral da Polícia Militar de Mato Grosso.
