A finalização da série de artigos sobre o suicídio na campanha do Setembro Amarelo não poderia deixar de abordar a prevenção ao suicídio. Dizer que a precaução ao suicídio é intrínseca ao acesso à saúde, educação, emprego, boa alimentação, justiça, e outros, apesar de verdadeiro, pode distanciar as pessoas das práticas preventivas em razão da dificuldade de concretização dessas variáveis.
Há um forte papel da instituições nas políticas de prevenção ao suicídio, porém, esperar por elas é limitador, beirando a utopia. Ainda que sejam utilizados os Guardiões - Bombeiros, Policiais, e outros membros da comunidade treinados na abordagem ao suicídio - o caminho até eles só será percorrido se alguém próximo à vítima perceber o risco que ela corre.
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Nesse sentido o tema trienal (2024-2026) para o Dia Mundial da Prevenção do Suicídio, estipulado pela Organização Mundial de Saúde - OMS é "Mudando a Narrativa sobre o Suicídio" com um chamado para ação “Comece a Conversa”. Isso decorre do fato de que quem está próximo ao potencial suicida é a principal ferramenta de prevenção, visando segundo a campanha “aumentar a conscientização sobre a importância de reduzir o estigma e encorajar conversas abertas para prevenir suicídios”.
A chamada gestão de pessoa em risco para o suicídio inclui a remoção dos meios de suicídio do indivíduo (armas, pesticidas, etc), oferta de apoio psicossocial e manutenção de contato regular, bem como do acompanhamento, ou seja, é preciso acolher! Se quem está próximo não o faz, dificilmente um agente do Estado saberá o que está ocorrendo para então poder intervir.
O suicídio encerra também os sonhos de quem fica, por isso, outra estratégia necessária é a Posvenção. Uma intervenção com aqueles que foram afetados por um suicídio, os enlutados, capaz de reduzir os estigmas e facilitar a busca por ajuda, prevenindo um novo suicídio naquele círculo. Inclusive a Posvenção pode se estender a um homicida, que em decorrência do seu ato muitas vezes termina por cometer suicídio (Homicídio-Suicídio).
Uma gota é pouco para o oceano, mas ele nada seria sem todas as gotas que o compõe. Essa analogia é um chamado para a ação individual, não importa o quanto seja pequena, mas a intervenção do próximo mais próximo, aquele que sempre é o primeiro a perceber um comportamento suicida, é capaz de fornecer esperança e encorajamento para que o necessitado possa encontrar ajuda especializada.
*WILLER ZAGHETTO é médico pela UFMT e atua como perito oficial médico legista