Dollar R$ 5,60 Euro R$ 6,08
Dollar R$ 5,60 Euro R$ 6,08

Opinião Sexta-feira, 14 de Junho de 2024, 07:00 - A | A

Sexta-feira, 14 de Junho de 2024, 07h:00 - A | A

CAMILA HARTMANN

Liderança feminina na saúde e na ciência é impacto para novas gerações

Camila Hartmann*

Elas ocupam cargos de liderança, desafiam estereótipos e inspiram transformações profundas. Quem protagoniza esses avanços são médicas comprometidas em abrir caminho para um futuro mais promissor na saúde. O trabalho incansável dessas profissionais não apenas fortalece a equidade de gênero, mas também impulsiona uma cultura de inclusão e excelência que traz benefícios para toda a sociedade. As conquistas são muitas e cada vez mais figuras femininas assumem posições de destaque em hospitais que são referência nacional.

O papel das mulheres na prestação de cuidados de saúde é imenso; elas estão à frente do atendimento a 5 bilhões de pessoas e contribuem com R$ 15,5 trilhões para a saúde global. No entanto, conforme o relatório da organização Women in Global Health, ainda temos um longo caminho a percorrer para alcançar a equidade de gênero. Embora representem 70% dos profissionais da linha de frente na saúde, as mulheres ocupam apenas 25% dos cargos de liderança. Mas essa busca pela representatividade precisa ir além da preocupação com as estatísticas, partindo do reconhecimento da capacidade profissional de cada mulher como indivíduo.

- FIQUE ATUALIZADO: Entre em nosso grupo do WhatsApp e receba informações em tempo real (clique aqui)

- FIQUE ATUALIZADO: Participe do nosso grupo no Telegram e fique sempre informado (clique aqui)

Inspirar meninas para carreiras de gestão, transformar estereótipos associados à profissão de cientista e dar visibilidade às realizações de mulheres em cargos de chefia são alguns dos desafios quando se fala sobre gênero e medicina. Nesse contexto, há a necessidade de um novo olhar para a forma como a ciência é comunicada. É preciso ver para crer que é possível conquistar espaços de destaque. As mulheres precisam ter referências a serem seguidas. Ver uma mulher realizando um trabalho relevante e memorável é inspirador para as novas gerações.

Em alguns hospitais, o cenário é bastante otimista. Há instituições que chegam a ter 70% dos cargos de liderança ocupados por mulheres. Um cenário que tem tudo para se tornar frequente. Isso porque o número de mulheres formadas em medicina deve superar o de homens ainda em 2024, segundo projeção do estudo Demografia Médica no Brasil, feito em parceria pela Associação Médica Brasileira (AMB) e pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP). O estudo aponta que, ainda este ano, o Brasil terá 50,2% de médicas. Será a primeira vez com maior presença feminina na área. Em 2022, a proporção era de 51,4% de médicos e 48,6% de médicas. Em 2009, o percentual de mulheres era de 40,5%, enquanto os homens representavam 59,5% do total de profissionais.

Iniciar uma jornada em direção à igualdade é um compromisso e também um chamado para uma revolução de possibilidades. Mulheres, médicas, cientistas e líderes iluminam o caminho, ao mesmo tempo que inspiram uma geração inteira a desafiar limites e acreditar na força inesgotável de cada indivíduo, independentemente do gênero. Porque a verdadeira transformação começa quando todos têm a chance de brilhar, mostrando ao mundo o poder de suas singularidades e contribuições únicas. É hora de reconhecer o potencial e a riqueza que as mulheres líderes podem trazer para a mesa. Ao celebrarmos e capacitarmos as mulheres em suas jornadas, estamos investindo no progresso de toda a humanidade, rumo a um amanhã mais justo e próspero.

É crucial gerar e apoiar modelos que estimulem a diversidade, que incorporem uma perspectiva de gênero com foco no engajamento, reconhecimento e liderança feminina na medicina e produção científica. Apesar da variedade de contextos sociais e culturais, muitas são as semelhanças entre as inspirações e desafios enfrentados por essas profissionais na ciência. As mulheres são pioneiras da mudança, moldando um futuro de inclusão e avanços na saúde global. Sua resiliência e determinação são testemunhos vivos de uma competência excepcional.

Desafiar a invisibilidade das mulheres é uma missão diária, especialmente em campos como a ciência, onde o reconhecimento é moldado pelas contribuições intelectuais. É fundamental questionar os estereótipos arraigados sobre liderança, forjados ao longo dos séculos e amplamente difundidos. Enquanto o líder masculino muitas vezes é associado à autenticidade e assertividade, a liderança feminina ainda é estereotipada como emotiva, amável, compassiva e benevolente. No entanto, as mulheres são muito mais do que isso. Elas são visionárias, resilientes, inovadoras e estrategistas natas, capazes de liderar com determinação, habilidade e sensibilidade, contribuindo de forma significativa para o progresso e a transformação de todas as esferas da sociedade.

Não há espaço para retrocessos nesse movimento. As mulheres precisam se posicionar, acreditar em suas capacidades e comunicar-se com firmeza, buscando igualdade e respeito no ambiente hospitalar e científico. Hoje, inúmeras profissionais da saúde se destacam com trajetórias brilhantes, inspirando outras a acreditarem, persistirem e não desistirem de trilhar caminhos igualmente bem-sucedidos. Nós precisamos e podemos sonhar alto. Temos que traçar metas, perseguir nossos objetivos e persistir. Eles podem, sim, acontecer.

* Camila Hartmann é diretora técnica do Hospital Universitário Cajuru e cardiologista do Hospital São Marcelino Champagnat. Ela é pesquisadora e está à frente de um estudo sobre o impacto do coronavírus no coração.

search