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Opinião Domingo, 31 de Dezembro de 2023, 07:50 - A | A

Domingo, 31 de Dezembro de 2023, 07h:50 - A | A

CLAITON CAVALCANTE

Estão te ouvindo

Claiton Cavalcante*

Para os que possuem este sentido parece simples o ato de ouvir o externo, no entanto, esse ato é um processo complexo e que segundo especialistas inicia ainda dentro do útero, aonde a partir do quinto mês de gestação o feto já pode escutar.

Na escola aprendemos e acreditávamos que existiam cinco sentidos. Mais tarde, muitos de nós acreditamos no famoso “meu sexto sentido não falha”.

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Hoje, por enquanto, conhecemos os oito sentidos sensoriais: audição, visão, olfato, paladar, tato, pele, equilíbrio e intuição e ainda há os que afirmam existir 33 diferentes percepções do corpo humano.

O educador, escritor e amigo de Paulo Freire, Rubem Alves, no seu livro intitulado “As melhores crônicas de Rubem Alves” escreveu aquilo que é para mim o âmago da empatia quando disse que só existe curso de oratória, pois nunca ouviu falar sobre a existência de curso de escutatória.

Para o dorense mineiro todo mundo quer aprender a falar, seja de mongol a cantonês, mas ninguém quer aprender a ouvir. Saber ouvir, no momento oportuno, é ato de educação e afeição. Pois quanto mais desenvolvemos esse sentido, mais aptos estamos para observar as necessidades que nos circunda.

Só que o ouvir nem sempre é ato dos mais nobres. Já ouviu falar em audição ativa? Talvez você não tenha ouvido, mas se possui um smartphone, provavelmente já tenha vivenciado a ação dessa expressão.

Eu aposto todas as fichas que você estando, seja na balada, no barzinho ou na reunião de negócios, falou em voz alta sobre determinado assunto ou item de consumo e, segundos depois, viu ou leu sobre algum produto ou item relacionado àquilo que você falou sendo exibido na tela do seu celular ou computador.

Essa é a escuta indesejada que demasiadamente as grandes empresas de marketing tem utilizado para captar e entender o conteúdo e desejo de consumo das pessoas.

E sabe como isso acontece? É utilizado os microfones dos celulares, principalmente daqueles que têm esse aparelho como parte do seu corpo, bem como os microfones instalados nas televisões e nas “alexias”.

Recentemente duas gigantes americanas do marketing afirmaram que utilizam algoritmos em parceria com plataformas que gerenciam sistemas operacionais para captarem conversas e a partir disso direcionar conteúdos específicos. E quem garante que fica só nisso?
Por isso, entendo ser salutar a discussão técnica sobre o marco civil da internet, visto que as plataformas não são neutras e possuem claro viés mercantilista, quiçá de outras nuances não republicanas.

Sabemos que em todos os âmbitos da vida humana há regulação. Tem regulação no casamento, na relação com os filhos, nos negócios, nos jogos, nas brincadeiras de criança. Por que não deve haver regulação na internet e dos que dela necessita?

Por falar em marco civil da internet, seu artigo 19 é tema controverso, inclusive para os estudiosos do assunto. Não bastasse a publicação por parte do Supremo Tribunal Federal, do Tema 987, mesmo assim entendo que as plataformas devem também ser responsabilizadas pelo conteúdo ali divulgado e não somente os conteudistas. Por que de que valeria o conteúdo sem as plataformas para viralizarem?

Por isso, cuidado com o que ouvem sobre você. Millôr Fernandes já dizia que ninguém sabe o que você escuta, mas todo mundo ouve muito bem o que você fala. Os equipamentos eletrônicos que o diga!

*Claiton Cavalcante é Membro da Academia Mato-Grossense de Ciências Contábeis

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