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Opinião Terça-feira, 18 de Julho de 2023, 07:12 - A | A

Terça-feira, 18 de Julho de 2023, 07h:12 - A | A

SANDRA FAGUNDES

As quatro castas brasileiras emergentes no último quadriênio

Sandra P. Fagundes*

O pior erro do antecessor do presidente Lula foi não perceber e ser alertado pelas pessoas que o rodeava de que uma vez eleito deveria governar para todos, não só para os que o apoiavam, que mantinham com ele ideias convergentes, que tinham os mesmos conceitos religiosos ou as mesmas ideologias. Essa falta de conhecimento e de orientação fez com que aquele mandatário dividisse o Brasil em um aglomerado semelhante às castas presentes em países como a Índia, Nepal e Indonésia, com uma diferença gritante. Nesses países, as castas não se baseiam em posses de bens, tão pouco com afinidades politiqueiras, mas em linhagem sanguínea e no prestígio das famílias. Tal qual esses países hinduístas, não se fala nessas castas, porque verbalizá-las é assumir que muitos do nosso convívio agem com tolerância obrigatória, mas não veem todos com os mesmos direitos.

Implicitamente, o Brasil foi dividido em 04 castas que entrelaçam-se. A casta mais tradicional são as forças armadas que nunca aceitaram completamente a transição do regime militar para a democracia. Diante da abertura política que teve seu ápice na primeira eleição presidencial em 1989, após o fim das eleições indiretas que prevaleceram no período da ditadura militar, se aquietaram deixando subentendido “vivam a democracia, mas não mexam com nossos privilégios”. Usando um chavão popular, ficaram chocando o ovo da serpente até o governo Bolsonaro reafirmar lhes o pertencimento a casta superior dando-lhes cargos no governo, nas instituições de ensino, na saúde entre outros, em um claro desvio de finalidade da função que lhes é conferida. As forças armadas passaram a ser a referência das referências ignorando que outras categorias são tão importantes quanto.

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Outra casta emergente na idade das trevas moderna foi a casta dos ricos, mas essa não causou grande surpresa. Muitos deles viram no governo a possibilidade de redução das responsabilidades trabalhistas arduamente conquistadas pelo proletariado e as renegociações privilegiadas dos superendividamentos.

Se o empoderamento excessivo das forças armadas e dos ricos não causaram, grande surpresa o mesmo não ocorreu com a classe religiosa, especificamente com os evangélicos. Muitas dessas religiões funcionavam como bálsamo para as dores da alma. Em um mundo em depressão e com inúmeras síndromes era nas igrejas que a sociedade encontrava palavras de conforto. Isso explica o aumento do público evangélico no país. Muitas palavras cristãs que faziam despertar o sentimento de aproximação com Cristo. Mas aí chegou as eleições de 2018 e mesmo diante do histórico político do candidato da direita, os evangélicos o proclamaram enviado de Deus. E mesmo diante da violência contra as religiões de matrizes africanas, dos homossexuais, do descaso com as mortes pela covid, dos palavrões, do preconceito, do assédio sexual contra adolescentes venezuelanas, dos kits de joias, do quase extermínio dos yanomamis, da tentativa de explodir o aeroporto de Brasília que mataria centenas de inocentes, de todo tipo de violência que o discurso dele incentivava os religiosos ainda seguem o defendendo.

Outra incógnita é o que levou os religiosos a defender o armamento da população se eles pregaram sempre que que Deus é paz, humildade e perdão. E não adianta argumentar citando o antigo testamento porque Jesus morreu na cruz exatamente para promover mudanças, livrar os homens daquele estigma de morte. Entretanto, os fatos estão mostrando que o apoio incondicional dos religiosos ao antigo mandatário teve motivo econômicos. A possibilidade de obter privilégios para as instituições e para pessoas ligadas a ela. É lamentável...

Enfim, a quarta casta, a maior e mais complexa casta dos pobres. Dos que recebiam migalhas, que tiveram seus direitos suprimidos, seus valores ignorados, suas perspectivas relegadas um plano inferior. Esta casta possui complexidade porque ela depende das outras castas, seja financeiramente para vender sua força de trabalho ou psicologicamente para autoafirmação. A interdependência e falta de conhecimento fez com que muitos ignorassem a condição de marginalizados e seguissem a orientação de algum líder que se aproveitava da situação para proveito próprio. Todavia, a consciência de classe está voltando. Que nos próximos pleitos votemos olhando além do nosso próprio umbigo. Somos todos iguais e assim devemos ser tratados.

*SANDRA P. FAGUNDES é licenciada em Letras pela UFMT

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