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Judiciário Quinta-feira, 28 de Abril de 2022, 14:40 - A | A

Quinta-feira, 28 de Abril de 2022, 14h:40 - A | A

MORTA NO ANIVERSÁRIO

"Vou te matar, sua mãe vai chorar amargamente e jamais vai esquecer”

Veja detalhes do julgamento de Edésio Alves Assunção, homem que assassinou a ex-mulher na frente dos três filhos

Felipe Leonel

Repórter | Estadão Mato Grosso

Um relacionamento abusivo, com muito terror psicológico, que terminou na morte da técnica em enfermagem Josilaine Maria Gomes dos Reis, no dia do seu aniversário, madrugada do dia 6 de outubro de 2021, data que a vítima completava 32 anos. Assim descreveram as testemunhas do caso que está em julgamento nesta quinta-feira (28), em Cuiabá.

A irmã da vítima, Josiani Aparecida, foi a primeira a ser ouvida no Tribunal do Júri e relatou a dinâmica do relacionamento entre Josilaine e Edésio Alves Assunção, que era marcado por discussões entre o casal. A testemunha também afirmou que sempre que terminavam, Edésio a ameaçava de morte e também seus familiares.

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Josiane conta que certa vez, durante um dos términos, ele teria dito: “Eu vou matar você, e sua mãe vai chorar amargamente. Vou te matar no dia que sua mãe jamais vai esquecer”. E assim ele cumpriu o prometido: Surpreendeu a ex, que dormia com os três filhos, e lhe desferiu três facadas, a arrastou para o banheiro, onde lhe deu mais um golpe.

Josiani contou que sempre incentivava a irmã a se separar de Edésio, mas o relacionamento era dominado por meio do medo e abusos psicológicos. Josilaine tinha certeza que seria morta pelo companheiro, mas diante de ameaças contra ela e a família, permaneceu no relacionamento conturbado, que durou cerca de 8 anos.

Ainda segundo Josiani, aquela não teria sido a primeira vez que Edésio tinha atentado contra a vida de Josilaine. Certa vez, conta a testemunha, a vítima bebia com amigas, quando Edésio teria se escondido em uma moita e tentado esfaquear a vítima, que correu assustada.

AMIGA FOI AVISADA POR FILHA DA VÍTIMA: “TIA, ‘MEU PAI’ MATOU MINHA MÃE”

Já a segunda testemunha, Greice Campos, amiga da vítima desde os 12 anos, morava ao lado da chácara que a vítima foi assassinada. Greice contou, durante seu depoimento, que um dia antes do assassinato, tinha dito que Josilaine não passaria o aniversário sozinha, que iam assar uma carne e tomar uma cerveja. Porém, essa celebração foi substituída por muita dor e tristeza.

Greice conta também que quando fez a afirmação de que iriam celebrar o aniversário, Josilaine simplesmente se virou, chorou e disse: “o Edésio está me perturbando”. Entretanto, não falava como era essa perturbação. Naquele dia, Greice foi dormir e, por algum motivo, deixou o celular com o volume alto, coisa que nunca fazia.

Horas depois, por volta das 2 da madrugada, ela foi acordada por uma ligação. Inicialmente, o marido atendeu ao estranho contato feito na madrugada, de um número diferente. A pessoa que estava do outro lado não esperava que fosse um homem ao telefone e desligou. Instantes depois veio uma ligação por WhatsApp. Era a filha da vítima, que com uma voz trêmula pelo choro disse: “Tia, ‘meu pai’ matou minha mãe”.

ASSASSINO CULPA DEPRESSÃO E BEBEDEIRA

O maqueiro Edésio Alves Assunção, de 50 anos, também foi ouvido nesta quinta-feira e disse que o casal sempre discutia em razão do comportamento das crianças. De acordo com Edésio, o filho do meio de Josilaine não o respeitava e ela não permitia que ele “corrigisse” a criança. Ele afirmou também que nunca agrediu a esposa ou os filhos. Ao todo eram três crianças, sendo apenas o mais novo fruto do relacionamento e os dois mais velhos de Josilaine.

Em sua defesa, o assassino disse que sempre pedia para que o casal deixasse de discutir por causa das crianças e que era provocado, verbalmente, por Josilaine. Após o término, Edésio disse ter ficado em depressão e aumentou de forma significativa o consumo de bebidas alcoólicas.

O acusado também disse que antes de cometer o assassinato, estava bebendo com um amigo em um bar. Ele já teria planejado o que iria fazer, pois já foi para o estabelecimento armado com uma faca. Pouco depois de 1 hora, ele pediu para o amigo chamar um Uber pra ele ir para a chácara onde Josilaine morava. Invadiu a casa pela porta dos fundos e surpreendeu a vítima e os filhos.

Após dar três golpes, a mulher teria tentado levantar, mas foi impedida pelo assassino, que a segurou pelo braço e a levou para o banheiro. Edésio ainda diz que ajudou sua vítima a se deitar no piso do cômodo e que já se arrependia do ato neste momento. Porém, ele conta que deu mais um golpe de faca na vítima, que já dava seus últimos suspiros.

Ele então teria tentado suicídio, com uma facada no peito, mas acabou errando o coração e perfurou o pulmão.

“Não acredito que fiz isso, eu peguei a faca e dei um golpe no meu peito. Mas, percebi que não estava desfalecendo, só senti aperto no peito, não conseguia respirar. Pensei: não estou morrendo, tentei dar outro golpe, mas não tive força”, disse o réu. Quando a PM chegou ao local, ele estava deitado na cama com a faca sob seu corpo. A vítima já estava sem vida, jogada no chão do banheiro. 

Ele foi condenado a 28 anos de prisão em regime inicialmente fechado por homicídio triplamente qualificado: por motivo torpe; emboscada ou recurso que dificulte a defesa e por ser crime contra mulher por razões da condição de sexo feminino (feminicídio).

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