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Economia Terça-feira, 16 de Agosto de 2022, 07:00 - A | A

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"A MALDIÇÃO" DOS TRILHOS

Porque é tão difícil expandir ferrovias no Brasil? Especialista lista os motivos

Felipe Leonel

Repórter | Estadão Mato Grosso

Investimento no Brasil é uma tarefa complicada, especialmente quando se trata de grandes obras, como as ferrovias, que enfrentam resistência por parte de alguns setores. Em Mato Grosso, o caso mais recente é o da Ferrovia Estadual Senador Vuolo, que deve ligar a malha ferroviária que chega em Rondonópolis até Lucas do Rio Verde e Cuiabá.

Na última sexta-feira (12), a Justiça Federal suspendeu a emissão de novas licenças ambientais, o que pode travar o empreendimento. O objetivo da decisão é que sejam ouvidos os povos indígenas Bororo, sobre os impactos ambientais e no patrimônio histórico. A decisão judicial, entretanto, não afeta as licenças que já foram concedidas à empresa Rumo S.A, que já tem autorização para iniciar os primeiros quilômetros da obra.

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Jean Carlos Pejo, secretário-geral da Associação Latino Americana de Ferrovias no Brasil (ALAF Brasil) e ex-secretário Nacional de Mobilidade Urbana, afirma que o principal entrave para a expansão ferroviária no Brasil é a desinformação. Isso porque o sistema ferroviário emite muito menos gases poluentes quando comparado com a frota de caminhões necessária para fazer o mesmo trabalho.

Gilberto Leite | Estadão Mato Grosso

jean pejo

Jean Pejo, secretário-geral da ALAF Brasil, cita a desinformação como principal entrave do modal ferroviário

“As emissões do sistema ferroviário, mesmo que seja um equipamento diesel, não estou nem colocando a tração elétrica, o impacto ambiental é muito menor”, garante Pejo, em entrevista ao Estadão Mato Grosso.

Pejo também aponta que o desenvolvimento de projetos ferroviários no Brasil é muito menor que o setor de rodovias. Portanto, o setor ferroviário ainda busca entender as exigências de cada projeto, que é muito mais complexo que as rodovias. Pejo cita dois fatores que deixam o planejamento mais complexo: um é que a declividade não pode ser superior a 2%. Outro exemplo é que as curvas exigem um raio maior, o que implica em maior área a ser utilizada.

Isso faz com que, por vezes, o traçado avance sobre terras indígenas ou áreas de proteção ambiental.

“A solução é ajustar o traçado, que seja mais favorável possível e sempre negociando com essas entidades, mostrando as vantagens que a ferrovia vai levar para a sociedade. Nesse caso específico de Mato Grosso, que é ferrovia autorizada, ela vai trazer muito mais benefício pra sociedade em geral do que a existência da própria rodovia”, afirma.

Outro aspecto que prejudica o setor, apontado por Jean Pejo, é a desinformação quanto ao futuro dos caminhoneiros, que atualmente fazem longas viagens por todo Brasil.

O especialista explica que o modal ferroviário, ao contrário do que desinformam alguns setores, vai garantir maior qualidade de vida aos profissionais e mais produtividade. Um motorista que, por exemplo, fazia duas viagens para São Paulo, faria cerca de 10 viagens semanais, apenas levando os produtos das fazendas até os terminais ferroviários. Como o caminhoneiro vai fazer viagens mais curtas, ficará mais tempo com a família do que nas filas de carga e descarga dos portos e empresas.

“A desinformação cria ambientes desfavoráveis para a expansão de ferrovia. Muita gente coloca: ‘olha, essa ferrovia vai tirar a possibilidade de rodovia, vai tirar o caminhão da estrada, tirar emprego do caminhoneiro, criar um problema sério para as empresas e para os caminhoneiros autônomos’. Isso tudo é falado por falta de conhecimento”, assevera.

Além disso, com a presença das ferrovias, diminui o tráfego de veículos pesados nas ferrovias, especialmente na BR-163, que há anos carrega o apelido de ‘corredor da morte’ devido aos acidentes fatais registrados diariamente.

“Essas coisas não são bem informadas. Então, acaba tendo contra a ferrovia pessoas que só são contra por desinformação. Aparecem entidades, sindicatos que são fortes no sentido defender o setor. Ele, na realidade, está defendendo o que não sabe. Pois, se soubessem ele estaria sendo a favor da ferrovia. Então, a informação é um ponto fundamental”, conclui.

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