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Economia Sexta-feira, 26 de Abril de 2024, 07:03 - A | A

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SINAL DE ALERTA

Desmatamento da Amazônia reduz geração de energia em MT; perda passa de R$ 100 milhões por ano

Gabriel Soares

Editor-Chefe | Estadão Mato Grosso

Mato Grosso já sofre os efeitos do desmatamento da Amazônia, com redução da quantidade de chuvas e do potencial de geração de energia elétrica. A conclusão é de um estudo elaborado por Rafael Araújo, doutor em Economia pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), que analisou o impacto do desmatamento da Amazônia sobre a produção de energia da usina Teles Pires, a maior hidrelétrica de Mato Grosso, responsável por gerar energia para abastecer 13 milhões de pessoas.

Devido à localização, o fluxo de água na usina é fortemente influenciado pelo desmatamento da Amazônia. Rafael analisou os padrões de chuva na região amazônica e o impacto do desmatamento sobre o clima local e a economia. Para construir seu modelo, o cientista utilizou dados sobre a ocupação da Amazônia desde 1985 e constatou que o desmatamento acumulado nesse período provocou redução de 8% a 13% na média histórica de chuvas em Mato Grosso durante os períodos de chuva e de seca, respectivamente.

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“O desmatamento acumulado na Amazônia gera uma diminuição na precipitação de 13% e 8% da média histórica no estado de Mato Grosso, respectivamente, nas estações seca e chuvosa. Algumas regiões enfrentam um efeito de mais de 25% na estação seca e outras regiões enfrentam um efeito de mais de 14% na estação chuvosa”, diz trecho do estudo, publicado na tese de dourado de Rafael, em 2022.

A redução da quantidade de chuvas em Mato Grosso tem impacto direto sobre a capacidade de produção de energia elétrica da Usina Teles Pires. Usando um vasto referencial teórico, Rafael construiu um modelo matemático para mensurar o quanto o regime de chuvas afeta a bacia do Rio Teles Pires e os impactos disso na geração de energia.

Isolando apenas a região da Bacia do Teles Pires, Rafael constatou que o desmatamento da Amazônia gera uma redução média de 6% e 10% nas precipitações em relação à média histórica de chuvas nas estações seca e chuvosa, respectivamente. Com isso, a Usina Teles Pires perde cerca de 10% de sua capacidade de geração de energia, chegando a até 17% em cenários mais extremos.

Isso se traduz na perda média de US$ 21 milhões por ano (cerca de R$ 108 milhões/ano) na capacidade de geração de energia da Usina Teles Pires.

Ao estipular uma cifra para as perdas econômicas causadas pelo desmatamento, o economista conseguiu calcular também o valor presente do quilômetro quadrado de floresta preservada para a Usina Teles Pires. Conforme os cálculos, cada quilômetro quadrado de floresta preservada vale US$ 2.382 para a usina.

O trabalho de Rafael se concentra no estudo de uma única hidrelétrica por questões técnicas, mas cria um arcabouço teórico para calcular o real impacto do desmatamento sobre a economia. A tese recebeu o Prêmio Wallace E. Oates, da Associação de Economia Ambiental e de Recursos (AERE, na sigla em inglês); o Prêmio Haralambos Simeonidis, da Associação Nacional dos Centros de Pós-Graduação em Economia; e recebeu menção honrosa no Prêmio Capes de Tese 2023.

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