A cerveja é uma das bebidas preferidas do brasileiro. Mas com o consumidor cada vez mais preocupado com bem-estar, produtos considerados "mais saudáveis" e com baixo ou zero teor alcoólico entram na lista de alternativas à bebida derivada do malte em bares e pequenos encontros em casa: entre eles as hard seltzers, a kombucha e o kefir.
Na moda entre os norte-americanos, as hard seltzers são uma bebida cuja composição principal é água gaseificada com sabor e álcool. Por conta dos ingredientes, elas têm baixa concentração de calorias e possuem entre 3% e 5% de álcool.
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De acordo com a Nielsen CGA, essas bebidas atraíram mais de 7,5 milhões de novos consumidores nos EUA em 2019 e geraram US$ 1,5 bilhão em vendas no mesmo ano. Em 2016, esse volume foi de US$ 65 milhões.
Em 2018, a consultoria de dados apontou que havia apenas dez marcas da bebida disponíveis nas prateleiras de supermercados norte-americanos. No ano passado, esse número subiu para 65.
Por ser nova no país, ainda não há dados sobre o mercado de hard seltzers brasileiro. Por aqui, o fenômeno desses 'refrigerantes alcoólicos' chegou a São Paulo e ao Rio de Janeiro pela Coca-Cola no final do ano passado, com a marca mexicana Topo Chico.
Consumo previsto de bebidas alcoólicas no Brasil em 2020 — Foto: G1
Disponíveis nos sabores Morango-Goiaba, Lima-Limão e Abacaxi, o produto tem foco principalmente nos chamados millenials — público entre 21 e 35 anos — e nos consumidores que priorizam bebidas leves feitas com ingredientes naturais.
Esse perfil, inclusive, parece ser o da própria Coca-Cola. A gigante de bebidas raramente se aventura no mercado de bebidas alcoólicas no mundo e, tampouco, produz cervejas no Brasil.
Segundo Renato Shiratsu, diretor de integrated brand experience e premium drinks da Coca-Cola Brasil, a empresa não deve produzir cerveja por aqui "porque não faz sentido dentro da demanda dos consumidores".
Em seu relatório global de 2019, a consultoria internacional WGSN apontou que, naquele ano, 52% dos consumidores norte-americanos estavam reduzindo o consumo de bebidas alcoólicas. Por este motivo, grandes marcas estavam criando produtos com baixo ou zero teor alcoólico.
"Com o maior foco do consumidor na saúde e interesse em sabor e textura, as bebidas devem inovar ainda mais para manter a demanda do mercado em 2021", disse Arthur Bovino, estrategista sênior da consultoria, em relatório publicado no último semestre de 2020.
As pesquisadoras Luana Sousa e Isabela Rosier (à direita), sócias da Kefiran Spritz — Foto: Divulgação
Fazer com que as pessoas comam alimentos saudáveis e, ao mesmo tempo, saborosos foi um dos motivos que levou Luana Sousa, de 30 anos, a estudar nutrição.
Durante o mestrado, a paulistana foi além de seu objetivo inicial: criou com sua orientadora, Isabela Rosier, um refrigerante à base da bebida fermentada kefir, o Kefiran Spritz. Com propriedades probióticas, a bebida promete ajudar a equilibrar a quantidade de micro-organismos que fazem bem à saúde.
De acordo com Luana, que hoje cursa doutorado em biotecnociência, em contato com o leite ou com misturas açucaradas, como os sucos, os "grãos" geram uma fermentação que dá origem ao refrigerante. O teor alcoólico é 0,5% — residual do processo de fabricação.
"A bebida não tem açúcar, nem conservantes. As pessoas estão buscando ter mais qualidade de vida. Elas querem, no lugar de tomar remédio, prevenir doenças. Estão mudando a chave", explicou a doutoranda, que produz, em média, 1 mil litros do refrigerante por mês.
Além do refrigerante, Luana conta que também está pesquisando como produzir cerveja com Kefir, em parceria com a cervejaria Tria, localizada na Grande São Paulo.
"Temos muita biodiversidade e conhecimento para produzir produtos saudáveis e saborosos. Nossa ideia é criar uma cerveja com características probióticas. Começamos a pesquisa em 2019, mas tivemos que parar pela pandemia", disse Luana.
Cervejas se rendem ao zero álcool
Para não perder mercado, a própria cerveja, inclusive, está ganhando uma nova roupagem para consumidores mais conscientes: sem álcool e algumas até sem glúten.
Entre as marcas que comercializam o derivado de malte sem álcool estão Guinness, Itaipava, Heineken, Budweiser e Estrella Galícia.
Na avaliação de Paulo Petroni, diretor executivo da Associação Brasileira da Indústria da Cerveja (CervBrasil), cervejas sem álcool bem produzidas não deixam a desejar em relação às normais — o que contribuiu para a adesão desse novo perfil de consumidores.
"As primeiras gerações ficaram devendo, mas os novos processos produtivos melhoraram bastante a qualidade do produto. Na Espanha, alguns anos à nossa frente neste produto, a cerveja sem álcool atinge mais de 15% do mercado", disse o diretor.
Outras bebidas consideradas mais saudáveis, como a Kombucha, não concorrem diretamente com a cerveja - são uma "alternativa", avaliou Petroni.
"Até o momento, novas bebidas não impactam o mercado. O que nos preocupa mesmo é o fim do Auxílio Emergencial. Nossa maior força para consumo de cerveja é a disponibilidade de renda."
Jovan Demoner, presidente da Associação Brasileira de Kombucha — Foto: Divulgação
Produção de Kombucha no Brasil, em litros — Foto: G1
O presidente da Associação Brasileira de Kombucha, Jovan Demoner, também acredita que a bebida não vai competir com a cerveja porque são produtos distintos.
"São mercados complementares. Nos últimos quatro anos, houve um grande aumento de produção e de consumo da bebida nos EUA e no Brasil, principalmente do público entre 35 e 40 anos. As pessoas saudáveis também saem", afirmou Demoner, proprietário da marca Kombucha Vivaodia.
A kombucha começou a ser envasada há cerca de três décadas pelos hippies e passou a ser produzida em maior escala na última década. Ela é fermentada a partir do chá adoçado e rica em bactérias e leveduras benéficas que recomporiam a microbiota intestinal.
Por ser fermentada, a bebida possui ácido acético e teor alcoólico de aproximadamente 0,5%. Há também versões de kombucha alcoólicas para quem aprecia bebidas mais fortes.