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Cidades Segunda-feira, 13 de Novembro de 2023, 12:17 - A | A

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PREVISÃO RUIM

Viaduto do Portão do Inferno já nasce repleto de perigos, aponta especialista

Bruna Cardoso

Repórter | Estadão Mato Grosso

Anunciado na última sexta-feira (10) pela Secretaria de Estado de Infraestrutura (Sinfra), o novo viaduto do Portão do Inferno já "nasce" com mau presságio. Para o doutor em Engenharia de Transportes e professor de Engenharia Ferroviária na Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), Miguel Miranda, tipo de rocha presente na serra complica as construções de obras no local.

O Portão do Inferno está situado na MT-251, entre Cuiabá e Chapada dos Guimarães. O local é repleto de curvas fechadas e não raro apresenta deslize de terra.

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"Aquele terreno é constituído por arenito. Este material, na verdade por fora ele é rocha e por dentro é areia, como se fosse uma caixa de papelão cheia de areia. Então, fazer uma obra nessa encosta é problemático, é muito mais problema do que quando se olha por fora e a gente pensa que ali é uma rocha consolidada. As surpresas geológicas de ter que trabalhar com o arenito são um risco que não se deve correr, a não ser que queira pagar um preço muito alto", explicou Miguel.

Após pontuar o perigo em fazer a construção em rochas como arenito, o especialista apontou duas soluções mais seguras, que inclusive a Sinfra já analisa, para resolver a questão do tráfego na região de Chapada dos Guimarães.

“A primeira é a MT-030, rodovia estadual que é o prolongamento da Avenida dos Trabalhadores.  Ela segue a extensão de 50 km até alcançar a subida da serra, onde contornaria a cidade de Chapada dos Guimarães, esse projeto é uma obra mais cara, porém é uma obra emblematicamente mais segura. Então você tiraria os caminhões, ônibus e transportes de longa distante de dentro de Várzea Grande sem ter que fazer uma obra cheia de periculosidade como seria essa do viaduto no Portão do Inferno”, aponta o professor.

Já a segunda solução que Miguel pontuou é a construção de um túnel, também já estudado pela Sinfra, que prevê a escavação de aproximadamente 240 metros para cortar mais da metade do caminho da MT-251. No projeto, o túnel se iniciaria pouco antes do Portão do Inferno e já sairia lá próximo à Casa do Mel.

“Essa obra deixaria totalmente isolada a curva do Portão do Inferno. Fazer um túnel é mais caro que fazer um viaduto, porem a vantagem é que não teria que usar explosivo, pois o arenito dá para ser escavado. Ou seja, entrando com o sistema de cravação de placas faria uma obra mais segura”, explicou.

Apesar de todas as complicações, Miguel conta que pode sim fazer um viaduto ali, desde que bem calculado para não haver riscos.

Contenção dos paredões

O engenheiro também explicou sobre o perigo da contenção em rochas de arenito. Segundo o especialista, não tem como fixar contenções em arenito devido o interior da rocha.

O professor trouxe como exemplo o acidente geológico no Rio de Janeiro, em 1966, na Pedra da Gávea, o deslize de rochas. Lá foi feito uma contenção que dura até hoje, porém a diferença é que no Rio de Janeiro a pedra é de granito sustentando perfurações de contenções, diferente do arenito.

“Geologicamente estamos em uma área de risco, por conta desse material [arenito], se você fazer um projeto de colocar contenção de concreto, ou seja, furar aquela rocha, que por dentro sabemos que tem areia, e encher de concreto e ferros você começa a gastar e não sabemos onde vai parar, porque não há um granito que pode cravar tirantes e sustentar”, explicou o engenheiro.

Para finalizar, o especialista conta que o arenito é instável, como areia.

“Com arenito não pode bobear, se bobear você paga caro, porque o arenito, enquanto tiver um talude alto, ele vai correr e desmontar o morro todo, ou seja, um problema de mais de 50 anos para ser resolvido”, finalizou.

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