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Cidades Quinta-feira, 17 de Dezembro de 2020, 19:52 - A | A

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TRAUMAS DA BUROCRACIA

Santa Casa de Cuiabá está sem pediatras e mães se desesperam

Jefferson Oliveira
Cuiabá

Mães de crianças internadas no Hospital Estadual Santa Casa relataram que estão vivendo uma situação desesperadora no hospital. Segundo elas, não há pediatras para atenderem as crianças desde a manhã da última quarta-feira (16). A questão gira em torno da troca da empresa responsável por oferecer o serviço de atendimento pediátrico.

“Estamos aqui na pediatria sem médicos. As crianças que têm cirurgias marcadas estão sendo todas adiadas. Estamos passando o dia e a noite sem médicos. Passei a noite em claro cuidando do meu filho. Não estamos tendo suporte algum aqui, somente enfermeiros”, desabafou Flaviana dos Santos Cunha, cujo filho, de dois anos e meio, está traqueostomizado (com um tubo inserido no pescoço) no setor de nebulização do hospital.

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Flaviana conta que a ala pediátrica está lotada, com novos pacientes chegando todos os dias. Contudo, algumas internações já começaram a ser recusadas pela Santa Casa, devido à falta de pediatras.

Segundo apurado pela reportagem do Estadão Mato Grosso, o governo do Estado realizou uma série de contratações emergenciais quando assumiu a gestão da Santa Casa, em maio de 2019. Entre as contratadas estava a empresa Infanto, que ficou responsável pelo serviço de pediatria até a realização de uma licitação regular.

O processo foi realizado e seu resultado foi publicado no Diário Oficial do Estado que circulou no dia 2 de outubro, homologando a empresa ABTR Clínica Médica, de Sinop, como vencedora da disputa. A nova prestadora de serviço deveria começar a atuar nesta quarta-feira (16), mas não enviou os pediatras.

Procurada, a Secretaria de Estado de Saúde (SES) informou, por meio de nota, que a empresa vencedora da licitação tem o prazo de até 30 dias para assumir a pediatria da Santa Casa e que os pacientes estão sendo aparados normalmente pelo corpo clínico da unidade.

“A Secretaria Estadual de Saúde esclarece que a empresa vencedora da licitação tem um prazo de até 30 dias para assumir o serviço de pediatria no Hospital Estadual Santa Casa, conforme está previsto no contrato. Enquanto a nova empresa não inicia os trabalhos, os pacientes dessa especialidade são assistidos normalmente pelo corpo clínico do hospital, que tem médico pediatra em sua composição, sem que haja prejuízo aos atendimentos realizados na unidade de saúde”, diz a nota.

O advogado da Infanto, Gustavo Garcia, disse que a empresa cumpriu o que manda a lei e encerrou as atividades na Santa Casa às 7h da última quarta-feira (16).

“O Estado fez o processo de licitação, a empresa ABTR de Sinop ganhou a licitação e foi homologada para trabalhar. Na manhã de quarta-feira, quando os dois pediatras plantonistas da Infanto deixaram a Santa Casa, a ABTR não havia apresentado o plantão de escala dos novos médicos e até o momento o local se encontra sem pediatra”, disse o advogado.

A reportagem apurou que uma denúncia da situação já foi formulada no Ministério Público Estadual (MP-MT), que analisa o caso. Enquanto isso, as mães cobram uma solução para a situação de seus filhos, pois dizem que não têm nem como medicá-los em caso de febre.

Uma dessas mães é Mirian da Silva Santos, que está com o filho internado após sofrer um Acidente Vascular Cerebral (AVC) hemorrágico. Ela conta que, como não há pediatras, as crianças não podem receber medicamento em caso de dor, já que a equipe de enfermagem não pode aplicar remédios sem indicação de um profissional.

“Só Jesus na causa para tomar conta da gente aqui com os filhos sem médicos. Ontem falaram que recontrataram outra empresa de Sinop, mas essa empresa não tem pediatras no quadro médico, e aí até o momento não deram outra resposta, é o que sei. Mas estamos aqui a deriva se acontecer algo mais grave”, relatou.

A mesma situação é relatada por Tamires da Silva, cuja filha tem uma cirurgia agendada para esta sexta-feira (18). Ela conta que está aflita porque se ocorrer algo urgente, não terá um especialista para ajudar sua filha. “Até para uma simples febre, a criança fica sem medicamento”.

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