Com uma placa pedindo que o responsável pela morte do motoboy Kelvin Tavarez da Cruz seja levado a júri-popular, motociclistas que trabalham em serviços de entrega por aplicativo realizaram um protesto silencioso nesta nublada tarde de segunda-feira (29), na passarela localizada na Avenida Fernando Corrêa, em Cuiabá. O manifesto foi realizado antes do ato que fechou a Avenida Fernando Corrêa horas mais tarde.
Em entrevista à reportagem do Estadão Mato Grosso, uma das lideranças da classe, o motociclista João “Barbudão”, de 32 anos, comentou o sentimento deixado entre os motoboys com a morte de Kelvin.
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“A gente não aceita isso, a forma como foi, pela imprudência de um motorista bêbado. Ele (o Kelvin) estava no local para entregar o alimento e parou para conversar com o cliente no acostamento e o condutor do carro, visivelmente embriagado, foi e atingiu ele de forma violenta”, contou João, lembrando também que o motociclista, de 24 anos, sofreu vários ferimentos e morreu em decorrência da perda de sangue.
Durante a entrevista, a fala do João ficou embargada e o motoboy relembrou que a classe está lutando para conseguir melhores condições de trabalho junto ao poder público.
“A gente já pediu socorro, nós estamos com um projeto em andamento na Câmara de Vereadores para instalar pontos de apoio aos motoboys. Porque os motoboys trabalham vinte horas e a gente não reclama de trabalhar não, mas a gente quer condições de trabalho melhores”, disse o motociclista.
O projeto citado por João é do vereador Dilemário Alencar (Podemos) e foi discutido em uma audiência pública realizada no dia 10 de maio deste ano. Barbudão relembra que na audiência, somente quatro vereadores participaram.
“Teve a morte do nosso companheiro Orlando, que trouxe essa audiência à tona, a gente não teve apoio do prefeito, a gente não teve nenhuma nota de pesar, infelizmente. A capital tá largada aqui e nós, motoboy, lutamos por nós mesmos”, disse o motociclista.
O Orlando, citado por Barbudo, foi o motoboy que morreu ao desviar de um buraco, cair no chão e ser atropelado por uma motorista grávida. O acidente foi registrado na noite da quarta-feira (29), na Avenida 08 de Abril, no bairro Praça Popular, em Cuiabá.
Um dia depois da tragédia, as ruas da capital foram tomadas por um grande protesto, com 100 motociclistas que trabalham com entregas de aplicativo.
No mesmo dia da manifestação sobre a morte de Orlando, um levantamento foi divulgado ao Estadão Mato Grosso pelo sindicato de mototaxistas e motoboys do estado de Mato grosso onde dizia que todos os dias, buracos das ruas de Cuiabá derrubavam motociclistas.
Passados quase dois meses deste levantamento, Barbudão relembrou que as pistas de Cuiabá são um desafio para todos os motociclistas.
“Pode puxar as estatísticas de acidentes aí. Hoje o motoboy é o verdadeiro Highlander [personagem do cinema] porque ele desvia do buraco, do óleo, da imprudência dos condutores, do trânsito violento. O trânsito de Cuiabá está caótico, então o poder público precisa tomar essas medidas. Então a gente vai velar nosso amigo e vai cobrar das autoridades, pode ter certeza, disse Barbudão.
