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Cidades Domingo, 24 de Setembro de 2023, 07:33 - A | A

Domingo, 24 de Setembro de 2023, 07h:33 - A | A

DECISÃO EM FAMILIA

Doações de órgãos em MT crescem 300%, mas número ainda é baixo

Bruna Cardoso

Repórter | Estadão Mato Grosso

A doação de órgãos em Mato Grosso subiu 300% em relação ao ano passado. Isso porque os dados da Secretaria Estadual de Saúde (SES) apontam que em 2022 apenas duas pessoas doaram os órgãos enquanto que até 13 de setembro de 2023 seis pessoas se tornaram doadoras. Apesar do crescimento, o número ainda é baixo, conforme explica a médica Heloise Helena Siqueira, da Central Estadual de Transplante da SES, ao Estadão Mato Grosso.

A especialista aponta que o principal problema na defasagem do número de doares de órgãos em Mato Grosso está relacionado à falta de aceitação da família em doar os órgãos de seus entes queridos. Heloise explica que a falta de conversa sobre o assunto entre a família prejudica o desejo da pessoa.

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“O grande problema que a gente identificar é que normalmente as pessoas falam ‘eu gostaria de ser doador de órgão’, mas não comenta e não discute o tema com seus familiares. Na situação em que o indivíduo está, em morte encefálica, quem decide sobre a doação não é ele, é a família. E se os familiares ficarem em dúvida ou se os familiares não tiverem convicção de que aquele parente deseja ser um doador, normalmente eles negam a doação”, explica médica.

Siqueira explica que mesmo a pessoa deixando em vida algum documento identificando que gostaria de ser doador de órgão quando falecer, no final das contas é a decisão familiar que prevalece. O desejo da pessoa só é respeitado com o aval da família, por isso é tão importante que o assunto seja abordado no seio familiar.

A decisão pode ser tomada por parentes de até 2º grau (pais, filhos, avós, netos, irmãos e cônjuge (ou companheiro em união estável). A legislação brasileira considera o posicionamento da família como palavra final porque o Estado não pode passar por cima da decisão dessas pessoas, que estão em sofrimento pela perda de um ente querido. A médica conta que passar por cima da decisão em um momento tão delicado é considerado uma agressão. Em caso de conflitos entre os familiares, em relação a doação ou não dos órgãos, o Estado decide por não fazer a retirada dos órgãos para não aumentar ainda mais o conflito familiar.

“Caso uma família que decida não doar [órgãos] e esse indivíduo tenha deixado algo por escrito, [e optarem por seguir a decisão da pessoa falecida] isso pode ser uma agressão. No momento de mais fragilidade desta família que está em sofrimento e você ir contra essa decisão familiar é como se o Estado estivesse obrigando essa família a doar órgãos e realizar uma atividade que ela não deseja. A doação tem que ser consentida pela família”, explica Heloise.

Para que as pessoas se conscientizem e os familiares permitam que seus entes sejam doadores de órgãos, a médica conta que inicialmente é preciso fazer um exercício de empatia e se colocar no lugar do próximo e posteriormente externar essa decisão. 

RECEPTORES DE ÓRGÃOS

Segundo a Secretaria de Estado de Saúde (SES), seis pessoas receberam doação de órgãos em 2022. Já esse ano, até o momento, 17 pessoas receberam transplantes no estado. É importante ressaltar que essas pessoas tiveram a oportunidade de receber uma nova chance de vida.

Heloise explica que um único doador pode fornecer órgãos para várias pessoas e que um único fígado pode ser transplantado em até três pessoas. Não há uma quantidade exata de quantas pessoas podem ser salvas graças a um único doador. A médica explica que isso é relativo porque nem toda pessoa tem todos os órgãos aptos à doação.

“A princípio nós temos a possibilidade de doar órgãos e tecidos, então, coração, rins, fígados, pâncreas e pulmões eles são órgãos passíveis de doação. Nem sempre os órgãos daquele indivíduo vão ser doados, mas, por exemplo, um fígado pode ser doado para até três pessoas e os rins podem ser doados para até dois indivíduos. Então isso é relativo, depende da logística de encaminhamento desse órgão para o receptor, para o hospital que vai transplantar”, explica a médica.

A responsável pela Central Estadual de Transplante aponta que hoje em Mato Grosso há no total 1.329 pessoas na fila de espera por doações de órgãos e medula óssea, essa última podendo ser doada ainda vida. Os pacientes na fila são divididos entre cinco categorias:

- Pessoas na fila para receber rim: 698
- Pessoas na fila para receber córnea: 325
- Pessoas na fila para receber medula óssea: 161
- Pessoas na fila para receber fígado: 117
- Pessoas na fila para receber coração: 28

 

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