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Cidades Sábado, 24 de Setembro de 2022, 08:00 - A | A

Sábado, 24 de Setembro de 2022, 08h:00 - A | A

UM SOL PARA CADA

Com falta de árvores, Cuiabá "ferve" com ilhas de calor

Igor Guilherme

Repórter | Estadão Mato Grosso

Cuiabá, que já foi conhecida durante como “Cidade Verde”, carrega agora o apelido de “Cuiabrasa”. Acontece que a mudança de títulos não foi por acaso. Devido a urbanização, boa parte das árvores que se espalhavam pela cidade foram retiradas e um efeito chamado “ilhas de calor” acabou se intensificando. Esse efeito, aumentou consideravelmente a temperatura nas regiões mais urbanizadas que são, por consequência, menos arborizadas.

De acordo com José Carlos Ugeda Júnior, professor de Geografia da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) e presidente da Associação Brasileira de Climatologia, as ilhas de calor são um efeito exclusivamente urbano, criado artificialmente pelo homem com a destruição de regiões de mata para a construção de cidades.

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Com isso, as regiões de metrópole podem atingir temperaturas bem mais altas que localidades do interior, ou mesmo áreas da própria cidade, mas que são mais arborizadas. O caso de Cuiabá exemplifica bem isso. Nas regiões das ilhas de calor da capital, a temperatura chega a ser até 8°C ou 10°C mais quente que zonas rurais, por exemplo.

“Normalmente por volta das 9 horas da manhã até às 3 ou 4 horas da manhã do outro dia, o centro da cidade permanece bem mais aquecido. A ilha de calor é um problema porque ela está associada ao aumento de temperatura, que na nossa região já apresenta temperaturas elevadas, mas também a concentração de poluição atmosférica”, explicou ao Estadão Mato Grosso.

Mas, não é só o centro da capital que possui ilhas de calor. Alguns dos bairros mais populosos ou mais urbanizados também apresentam esse mesmo efeito. Como é o caso do Grande CPA, pela sua alta densidade populacional e do Residencial Santa Terezinha, que possui mais de 10 mil casas, que apesar de serem pequenas, são próximas umas das outras e pouco arborizadas.

Calor, baixa umidade e riscos à saúde

Com o aumento de temperatura, aliado diretamente a queda da umidade relativa do ar, diversos problemas de saúde podem começar a afetar as populações que precisam atravessar, todos os dias, as regiões das ilhas de calor.

Em Cuiabá, é comum nos períodos de estiagem, que a umidade relativa do ar atinja níveis baixíssimos, chegando a registrar taxas abaixo de 15%, o que é altamente prejudicial à saúde humana.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a umidade relativa do ar ideal é de 40%, no mínimo. Abaixo disso e doenças respiratórias como rinite alérgica e a asma, além de problemas na pele, nos olhos e sangramento nasal ficam mais comuns de aconteceram nas pessoas.

O impacto dessas doenças é sentindo especialmente por idosos e crianças, que possuem o organismo mais frágil, segundo o Ministério da Saúde.
Além desses problemas, outro tipo de doença ganha mais chances de afetar a população durante dias de clima seco e sol escaldante, são as doenças cardiovasculares.

Segundo a Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), o sangue fica mais denso com a baixa umidade do ar, facilitando um possível entupimento dos vasos sanguíneos. Das muitas doenças causadas pelo entupimento dos vasos do coração, as mais comuns são o infarto e o Acidente Vascular Cerebral (AVC).

E como melhorar o clima?

José Carlos explica que “uma casa não causa uma ilha de calor, mas sim o conjunto”. Contudo, existem medidas individuais que podem melhorar a qualidade do clima e, se adotadas por populações de áreas densamente urbanizadas, podem aliviar os efeitos.

Uma das ações que o professor aponta como ideal para reduzir o calor, seria o uso de materiais de construção mais adequados a nossa realidade climática, como as telhas isotérmicas, que mantém a temperatura da construção estável, funcionando como isolamento térmico.

Outro ponto importante e que funcionária para regular as grandes temperaturas é a arborização dos bairros e regiões urbanas. As árvores funcionam como reguladores naturais de temperatura e ajudariam na diminuição do calor.

Além disso, se o solo onde a árvore estiver plantada ficar exposto, ocorrerá também uma regulação da umidade do ar. O efeito, segundo José, se deve ao fato de que o solo irá começar a transpirar, ou seja, a soltar água para à atmosfera ao redor da árvore.

O presidente aponta que poder público também deveria pensar em medidas melhores para a melhoria de clima nos bairros, especialmente na hora de construí-los, transformando a vegetação, climatizador natural, em parte da infraestrutura urbana.

“Eu diria que a principal intervenção e a mais barata que pode ser feita pelo poder público municipal é pensar que em cidades como Cuiabá a primeira intervenção pública deveria ser: planejar um sistema contínuo de vegetação urbana. Nos bairros novos é pensar que os gabarito de construção eles precisam garantir espaços dentro dos lotes (casas) para que haja vegetação, como árvores nos quintais”, concluiu.

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