Após passar duas semanas preso injustamente no Centro de Detenção Provisória (CDP) de Hortolândia (SP), Guilherme Alves de Ávila, de 19 anos, descobriu nesta semana que sua motocicleta, também apreendida injustamente, foi furtada do Pátio Municipal de Cosmópolis (SP).
Em liberdade desde 12 de dezembro, Guilherme tentava também desde então liberar a moto que, segundo o advogado dele, deveria ter sido imediatamente liberada.
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Após mais de duas semanas de espera, os documentos necessários para a liberação do veículo foram assinados pelo 7° Distrito Policial e ele compareceu ao pátio na última quarta-feira (28).
Ao chegar ao local, no entanto, recebeu a notícia que o veículo tinha sido furtado.
'Falha do Estado'
"Isso é muito constrangedor, principalmente pra gente que está há mais de um mês na luta pela liberdade dele. Ele chegou aqui quase chorando e disse 'mãe, você não acredita, roubaram a moto', eu comecei a rir, pensei que fosse uma piada", conta a mãe Eliane Alves da Cruz.
Assim que viu o boletim de ocorrência, Eliane ligou para o advogado que acompanha a família. Até o momento, Guilherme pagou somente quatro das 48 parcelas da motocicleta.
"Essa falha é do Estado, eu não pedi para viver isso, o estado me proporcionou isso", reforça Eliane, que continua.
"Se eu ficar calada como meu filho quer, hoje é ele, amanhã é o filho do vizinho e vai acontecendo. A gente mora no Vila Olímpia, o preconceito social todo mundo sabe que a gente vive isso. Só a gente que mora sabe as injustiças que acontecem aqui".
"Não me explicaram nada, só me deram uma folha comprovando que eu estive no local e pediram para eu entrar em contato com o advogado. Saí com uma mão na frente e outra atrás, uma frustração, metade de um dia de trabalho perdido e sem saber o que fazer", conta a vítima.
Segundo o advogado, o pátio de veículos deve responder de maneira subsidiária, mas o Estado deve responder pelos danos sofridos pelo jovem, que se deslocava para o trabalho de moto e também fazia bicos de entregador.
Preso injustamente
A moto foi apreendida no dia 26 de novembro, quando Guilherme e um amigo, de 15 anos, foram detidos próximo a um local onde, no mesmo dia, um casal foi vítima de tentativa de assalto.
Ao denunciar o caso à polícia, o casal descreveu poucos detalhes sobre os suspeitos, mas destacou que a moto usada pelos criminosos era vermelha - semelhante à do jovem, que tinha emprego e nenhuma passagem pela polícia. Os jovens foram presos por terem sido reconhecidos pelo crime.
No entanto, após ver pedidos da família por justiça nas redes sociais, uma das vítimas escreveu uma carta de próprio punho na qual disse que não era capaz de afirmar, com certeza, que os detidos (Guilherme e o amigo) eram os assaltantes, e que "achava o capacete parecido por ser escuro".
Enquanto eram realizados os trâmites da soltura, o adolescente ficou uma semana apreendido. Já Guilherme passou 15 dias em uma cela com 31 pessoas até ser inocentado e ter o caso arquivado pela Justiça após pedido do Ministério Público (MP).
O que dizem os responsáveis?
A Polícia Civil informou que vai investigar administrativamente o intervalo entre o pedido de formalização de entrega do veículo, expedido pela Justiça no dia 20 de dezembro, e a liberação da moto, que estava programada para o dia 28.
Ainda segundo a polícia, o serviço de guarda de veículos apreendidos é realizado por uma empresa terceirizada, contratada mediante a licitação. Nesse caso, será aberto um inquérito para apurar o furto e a localização do veículo.
Já a gerência do pátio alegou ao advogado da família que outras motocicletas do pátio também foram levadas e que o furto da moto de Guilherme era desconhecido até o dia em que o rapaz compareceu. Será feita uma alteração no boletim de ocorrência registrado pelo pátio para incluir o caso.