Rafael dos Santos Cabral da Silva, 41 anos, é o homem que apareceu em uma imagem sendo torturado depois de criticar um grupo que fazia um ato golpista em uma rodovia federal em Itapema, Santa Catarina. Em entrevista exclusiva ao g1, ele contou que teve de deixar o estado por medo da perseguição bolsonarista. Os envolvidos foram identificados, dois deles viraram réus, mas não foram presos.
Em 19 de novembro, ele foi abordado por um grupo, torturado e obrigado a participar do ato sob ameaça de agressão. Rafael conta que passou a ter medo de andar na rua depois de ser agredido, forçado a repetir frases e a ficar sob controle do grupo por pelo menos cinco horas.
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"Infelizmente, estou sem trabalhar, sem poder estar no local que amo, por causa da perseguição desse pessoal bolsonarista. [...] Não estou conseguindo dormir à noite. Quando alguém se aproxima de mim com a camisa do Brasil, eu fico aflito porque não sei qual é a intenção daquela pessoa comigo", desabafou.
De acordo com Rafael, ele foi abordado por cerca de seis homens que o agrediram e depois o colocaram dentro de uma caminhonete com destino a um trecho da BR-101 onde ocorriam as manifestações.
"No acampamento deles, onde fizeram os vídeos, tinham mais ou menos umas 50 pessoas. Tinham até crianças", afirmou.
Às margens da rodovia, o homem foi obrigado a participar dos atos antidemocráticos, com bandeiras do Brasil presas ao corpo. Tudo foi gravado em vídeo e depois compartilhado nas redes sociais.
A vítima também foi foçada a usar um boné do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), enquanto repetia frases ditadas pelo grupo. "Estou aqui me retratando, tomando café com povo do Bolsonaro, com brasileiros", aparece dizendo em vídeo.
"Fiquei o tempo todo, quando cheguei no acampamento, de cabeça baixa, porque até então eles estavam me chamando de vagabundo, de lixo, que eu era comunista, um retirante. [...] Naquele momento que eles botaram o boné na minha cabeça, fiquei de cabeça baixa. Quando aquilo estava amenizando, levantei a cabeça e vi crianças [no acampamento]", relata.
'Armadilha'
Tudo começou quando o fretista, no dia anterior a agressão, fez um vídeo para amigos de um grupo dizendo que passaria pelo acampamento dos bolsonaristas para "tomar um café e beber uma água", ironizando. O vídeo chegou ao grupo que estava no bloqueio e, segundo a defesa de Rafael, feita pelo advogado Marcelo Saccardo, a sequência dos fatos foi uma armadilha.
No dia seguinte ao vídeo, a vítima recebeu uma ligação para buscar um sofá em um edifício no bairro Meia Praia, mas ao chegar, foi abordado pelos agressores.
"[Ele] chegou ao endereço e já foi cercado pelo grupo. Eles tomaram os pertences dele, a chave da kombi, carteira e o agrediram, humilharam. Depois colocaram ele dentro de uma Hilux, estava sem liberdade total, e o levaram até a BR-101, onde ocorriam as manifestações", relata.
A vítima, além de ser agredida, ofendida e mantida em cárcere com o grupo, ainda foi, segundo o advogado, exposta a humilhação com gravações compartilhadas nas redes sociais.
Réus
A Justiça de Santa Catarina negou a prisão e determinou medidas cautelares contra os dois acusados de torturar um homem que criticou os atos antidemocráticos em Itapema, no Vale do Itajaí.
Gabriel Alexandre Garcia e Carlos Ramon Faila estão proibidos de portar armas e de voltar ao acampamento bolsonarista. Também estão impedidos de participar de qualquer manifestação com aglomeração de pessoas. Além disso, não podem tentar qualquer contato com a vítima, segundo decisão do juiz Rafael Bruning, de quarta-feira (7).
Os dois foram os primeiros identificados na investigação policial. Ambos viram réus em 25 de novembro e respondem o processo em liberdade. A defesa de ambos, através do advogado Rafael Cardoso Costa, informou à reportagem que não irá se manifestar por enquanto.