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Opinião Terça-feira, 07 de Maio de 2024, 07:06 - A | A

Terça-feira, 07 de Maio de 2024, 07h:06 - A | A

DANIEL TEIXEIRA

Vivendo na Era do 'Eu Primeiro: Um Guia Prático Para o Egoísta Iluminado'

Daniel Teixeira*

Ah, que tempos maravilhosos vivemos! A era de ouro da conveniência pessoal floresce diante de nossos olhos, onde o lema "Cada um por si" é praticado com um zelo fervoroso. Afinal, por que se preocupar com trivialidades como respeitar compromissos ou regras? Essas são apenas linhas imaginárias criadas por pessoas que claramente tinham muito tempo livre.

Vejamos a maravilha de não ceder o lugar a gestantes no ônibus. Sentar é um direito universal, não é? Por que deveríamos sofrer por escolhas alheias? Afinal, a gravidez não é contagiosa (ainda bem!), e exercitar o senso de solidariedade poderia acidentalmente nos tornar pessoas melhores, o que é um risco tremendo para nossa autossuficiência.

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E quanto a não usar produtos falsificados, que dilema, não é mesmo? Pensemos pragmaticamente: por que pagar mais se você pode enganar a si mesmo e aos outros com uma imitação barata? Ademais, respeitar a propriedade intelectual é tão século XX. No século XXI, a pirataria é apenas uma forma mais acessível de 'compartilhamento criativo'.

Ah, e a eterna arte de "não colar" em provas! Por que se esforçar para aprender quando se pode simplesmente usurpar o conhecimento alheio? Educação é tão sobrevalorizada. No fim, o que conta é o diploma na parede, não as habilidades na mente. E quem se importa se o engenheiro que projetou sua casa colou em todas as provas de física? Ocasionalmente, uma parede torta dá caráter à construção.

Não devemos esquecer o brilhante ato de ocupar vagas reservadas sem necessidade. Que prazer é estacionar na vaga de idosos ou deficientes! Afinal, a conveniência momentânea de estar mais perto da entrada supera amplamente qualquer consideração ética. E lembre-se, um dia poderemos ser os idosos que lutam por uma vaga, mas isso é problema do futuro eu, e quem se importa com esse cara?

Não menos importante, a deliciosa prática de jogar lixo nas ruas. Por que buscar uma lixeira quando o mundo é uma grande lata de lixo? Além disso, estamos apenas garantindo o emprego dos garis. Se todos jogássemos lixo nas lixeiras, qual seria o sentido de seu trabalho?

Avancemos nesta jornada, explorando outros campos onde nossa apatia pode brilhar intensamente, especialmente no reino da educação infantil e do respeito aos mestres. Considere o maravilhoso mundo dos filhos que não respeitam professores. Ah, que delícia é ver pequenos rebeldes questionando autoridades, sem qualquer resquício de cortesia! Ensiná-los a dizer "por favor" ou "obrigado" é tão arcaico quanto fitas cassetes. Afinal, estamos preparando nossos filhos para um mundo onde a agressividade é uma ferramenta de sucesso, não é verdade? Por que perder tempo ensinando-os a respeitar aqueles que dedicam suas vidas para educá-los?

E vamos mais longe, imaginemos que essas pequenas criaturas desrespeitosas serão as mesmas que cuidarão de nós em nossa velhice. Pense na ironia! Os pequenos tiranos que nunca aprenderam a valorizar o próximo estarão no comando de nossos remédios, nossa comida e até mesmo de nossas escolhas de entretenimento. De alguma forma, é poeticamente justo, não é? Receberemos o cuidado na mesma moeda com que ensinamos.

Portanto, continuemos a ignorar as regras de trânsito, subornar guardas e furar filas. Por que se preocupar com o bem-estar coletivo quando o individual é tão mais gratificante? Afinal, ser ético, educado e honesto é para os fracos. E lembre-se, se todos vivermos corretamente, quem vai nos proporcionar essas magníficas histórias de caos e desordem para contar?

Viva a era da descortesia! Que ela reine por longos e prósperos anos, enquanto todos nós colhemos os frutos amargos da sociedade que tão habilidosamente ajudamos a deteriorar. Ah, a doce, doce ironia de construir uma sociedade baseada no cada um por si — certamente nada pode dar errado!

*DANIEL TEIXEIRA é advogado e empresário

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